Título: Dilma alerta os países europeus
Autor: Pinto, Paulo Silva
Fonte: Correio Braziliense, 04/10/2011, Política, p. 2/3

Bruxelas ¿ Em visita ontem ao primeiro-ministro da Bélgica, Yves Leterme, a presidente Dilma Rousseff voltou a fazer uma recomendação sobre as medidas que vêm sendo adotadas na Europa para evitar o agravamento da crise da dívida da Grécia. "Os governos dos países desenvolvidos devem agir no interesse dos seus povos e, de fato, garantir que eles não sofram de forma grave o desemprego e a redução de suas conquistas sociais."

Reiterando o que havia dito na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) no mês passado, Dilma afirmou que a Europa não pode incorrer no mesmo problema da América Latina, que sofreu um processo de estagnação nos anos 1980 e 1990. "Nossa experiência demonstra que, no nosso caso, ajustes fiscais extremamente recessivos só aprofundaram o processo de estagnação, de perda de oportunidades e de desemprego, e que dificilmente se sai da crise sem aumentar o consumo, o investimento e o nível de crescimento da economia", afirmou a presidente, ao lado do primeiro-ministro. Na ONU, ela havia sido mais enfática, criticando abertamente a "falta de governança" dos países ricos.

Lado a lado, depois de se reunir no Palácio Egmont, sede do Ministério das Relações Exteriores da Bélgica, Dilma e Leterme fizeram declarações individuais à imprensa, sem responder a perguntas. Após a partida da presidente, porém, o primeiro-ministro respondeu a algumas questões de jornalistas. Ele afirmou, como Dilma, que é necessário manter a capacidade de crescimento da economia. "É preciso dar o tempo necessário à economia para fazer esses ajustes. Portanto, não podemos pensar que num passe de mágica reduzindo as despesas será possível resolver a situação."

Leterme disse que discutiu com Dilma a possibilidade de ajuda financeira do Brasil e de outros Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul) para conter os efeitos da crise da Europa, mas explicou que não há nada acertado, por enquanto. "É preciso ver no longo prazo quais as possibilidades de cooperação. Acho que elas são grandes entre o Brasil e as economias europeias."

Acordos Dilma jantou ontem com o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, e com o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. A principal razão da visita dela à Bélgica é a V Cúpula Brasil-União Europeia, com reuniões de trabalho e assinatura de acordos previstas para hoje. A presidente tem ainda um almoço com o rei da Bélgica, Alberto II.

Dilma participará hoje da abertura da Europália, o maior festival cultura da Europa, que tem, neste ano, o Brasil como tema. Há cartazes com quadros de Tarsila do Amaral e outras obras de arte brasileira espalhados por Bruxelas. A presidente estará também no encerramento do V Fórum Empresarial Brasil União Europeia.