Valor econômico, v. 16, n. 3962, 14/03/2016. Política, p. A5

Políticos são hostilizados em ato com público recorde em São Paulo

Victoria Mantoan 

Estevão Taiar

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e o presidente nacional do partido, senador Aécio Neves (PSDB-MG), pela primeira vez participaram da manifestação contra o governo federal e a favor do impeachment em São Paulo, indicando apartidarização do ato, preparada desde a semana passada. Os políticos, entretanto, foram hostilizados entre manifestantes que rejeitam a atividade partidária como um todo, em um protesto que reuniu pelo menos 450 mil pessoas, de acordo com o Datafolha.

"O Brasil vive sua crise mais profunda e precisamos virar essa página", afirmou Alckmin, no Palácio dos Bandeirantes, ao encontrar-se com Aécio e sair para o protesto na Avenida Paulista. O governador disse que cabe ao Congresso "dar o rumo e avançar". "Trabalhamos para garantir a segurança dessa manifestação", disse.

A recepção, contudo, foi tumultuada na avenida. Os tucanos foram hostilizados. Manifestantes gritaram "Fora, Alckmin" para o governador e chamavam o senador mineiro de "ladrão", além de dizerem que "o próximo é você". Aliados de ambos minimizaram o episódio, comentando que as reações negativas foram isoladas e muito inferiores em relação a favoráveis. Mas a dupla do PSDB não foi a única a tomar vaia na avenida. Também houve agressões verbais à senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), que de formaigual minimizou o fato. Marta é pré-candidata à prefeitura este ano e não havia participado de atos anteriores.

Aécio disse que o que se está vendo com a presidente Dilma Rousseff é que o Brasil "perdeu as condições de voltar a crescer". Afirmou estar ao lado do governador "como cidadão" e disse que querem ajudar para que o país encontre seu "novo e virtuoso caminho".

"Estamos na busca daquilo que nos une: o fim desse governo", afirmou o senador. O mineiro e o governador paulista disputam dentro do PSDB a indicação para a candidatura presidencial de 2018, também cobiçada pelo senador tucano José Serra.

Aécio foi citado em delações premiadas feitas no âmbito da Operação Lava-Jato, mas não responde a inquérito. Questionado sobre as citações, o tucano disse que todas as citações devem ser investigadas e que elas "estão se desmontando porque são falsas".O governador, por sua vez, voltou a falar da necessidade de retomada do crescimento e avaliou que São Paulo está "dando uma grande demonstração de civismo".

Presidenciável do DEM, o senador goiano Ronaldo Caiado, que participou de manifestações anteriores na Avenida Paulista, não teve recepção hostil. O parlamentar concentrou-se em bombardear a possibilidade de implantar o sistema parlamentarista, iniciativa negociada entre o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), aliados do vice-presidente Michel Temer e do senador José Serra. " Isso não vai acontecer agora. Você não pode mudar a Constituição por causa de uma crise. Isso não pode ser cogitado sem que a sociedade seja consultada ", afirmou.

Também na Avenida Paulista, o presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), mostrou otimismo com a possibilidade do ato de ontem acelerar o impeachment de Dilma. "Creio que o PMDB, PDT, PP, PSB, PR, os partidos da base que são representativos, vão ouvir as ruas e chegaremos ao número mágico de 342 votos [na Câmara dos Deputados, necessários para tirar Dilma Rousseff do cargo]", afirmou.

 

Distante da manifestação, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, aproveitou as manifestações hostis a políticos para se dizer preocupado com a repercussão do ato." Me preocupa que a oposição que fomenta este ato seja hostilizada em plena avenida Paulista", disse. Em nota, o PSDB de São Paulo disse que Alckmin, Aécio e o senador Aloysio Nunes (SP) ficaram "extremamente satisfeitos" e que "é mentirosa e equivocada a informação de que desistiram de suas falas". (com agências noticiosas)