O globo, n. 30.188, 01/04/2016. País, p. 6

Dilma demite diretores ligados ao PMDB, mas adia saída de ministros

Governo avalia que desembarque peemedebista não teve ‘ efeito dominó’

Em resposta ao rompimento do PMDB, a presidente Dilma exonerou dois diretores de órgãos da Agricultura e da Integração indicados pelo partido. - BRASÍLIA- A presidente Dilma Rousseff exonerou ontem o diretor de Pessoal da Companhia Nacional de Abastecimento ( Conab), Rogério Luiz Abdalla, e o diretorgeral do Dnocs ( Departamento Nacional do Departamento Nacional de Obras contra as Secas), Walter Gomes de Sousa, ambos indicados para os cargos pelo PMDB. Abdalla era apontado no órgão como uma indicação do vice- presidente Michel Temer, mas a Vice- Presidência da República negou essa vinculação e informou que ele teria sido indicado por parlamentares do PMDB. Gomes de Sousa era ligado a Henrique Eduardo Alves, único ministro do partido a pedir demissão esta semana.

O governo comemorou o respiro que teve nos últimos dois dias e avalia que o desembarque do PMDB não teve o efeito esperado: não aconteceu o alardeado “efeito dominó”, de outros aliados debandarem em série. Na avaliação de auxiliares de Dilma, houve um “arrependimento” do PMDB — especialmente da ala do Senado e de ministros do partido — de ter tomado a decisão de romper. Seis ministros do partido permanecem em seus cargos.

Os ministros decidiram se por à disposição da presidente para que ela faça uma minirreforma ministerial com o objetivo de frear o processo de impeachment. A permanência dos ministros peemedebistas gerou um dilema para Dilma, que precisará optar em manter pessoas fiéis ao governo ou ser pragmática e alocar outros políticos que consigam votos no Congresso. Vice- líder do PMDB na Câmara, Leonardo Quintão ( MG) ameaçou os que não deixaram o governo.

— Semana que vem quem não sair será arrancado a fórceps. Fomos nós que colocamos eles lá — disse Quintão. CUNHA: “É O FEIRÃO DO PETROLÃO” O dilema atrapalha a recomposição da base e gerou o adiamento da reforma ministerial, que era prevista para hoje. Junto aos novos ministros que entrarão no governo, está sendo negociado uma espécie de pacto com os partidos que ingressarão ou ampliarão seus espaços. Uma das hipóteses é formalizar uma “carta- compromisso”. O objetivo é passar a ideia de um novo governo e assim se contrapor à imagem de que as mudanças na Esplanada ocorrem apenas em torno da busca de votos contra o impeachment.

Adversário declarado do governo federal desde o ano passado, o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), disse que a oferta de cargos pelo Palácio do Planalto para tentar barrar o processo de impeachment é “liquidação de fim de governo”.

— É liquidação de fim de governo. É o feirão. Feirão do petrolão — afirmou Cunha, em referência à Operação Lava- Jato.

Uma das mudanças que teve de ser repensada devido à demora da desocupação dos ministros do PMDB é a entrega do Ministério da Saúde ao PP, partido com 49 deputados e que está dividido sobre o impeachment. O ministro Marcelo Castro tem dito a pessoas próximas que não pretende deixar o cargo e já comunicou à presidente sua disposição em permanecer. Ontem, surgiram especulações de que Castro poderia deixar o PMDB e migrar para o PP. O líder do PMDB, Leonardo Picciani, negou essa movimentação.

Nesse desarranjo, houve até uma tentativa frustrada de se criar uma “barriga de aluguel” com um suposto convite para que a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, migrasse do PMDB para o PR. Kátia publicou no site oficial do Ministério da Agricultura uma foto com deputadas do PR e disse que foi convidada para se filiar ao partido e que se sentiu grata e honrada.

O convite foi desmentido pela cúpula do partido horas depois. Segundo dirigentes do PR, uma suposta ida da ministra para o partido “não representa a vontade do PR”. ( Catarina Alencastro, Cristiane Jungblut, Eduardo Barretto, Evandro Éboli, Júnia Gama, Manoel Ventura e Simone Iglesias)