Valor econômico, v. 16, n. 3964, 16/03/2016. Política, p. A9

Mercadante nega oferta de ajuda e interferência na Justiça por Delcídio

Por: Bruno Peres / Leandra Peres

Por Bruno Peres e Leandra Peres | De Brasília

 

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, negou ontem ter interferido para influenciar na libertação do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) enquanto esteve preso preventivamente no âmbito da Operação Lava-Jato, conduzida pela Polícia Federal (PF). O ministro disse, em entrevista à imprensa, contar com a confiança da presidente Dilma Rousseff, permanecendo no cargo enquanto contribuir com o governo.

Delcídio entregou gravações à Procuradoria-Geral da República (PGR) de conversa de Eduardo Marzagão, um de seus assessores, com Mercadante, na qual procura evitar a delação do senador, oferecendo ajuda financeira e gestões junto ao Supremo Tribunal Federal para sua soltura. A ofensiva de Mercadante foi relatada por Delcídio no quinto termo de depoimento de sua colaboração premiada.

Mercadante afirmou que "trechos fundamentais" para entender sua intenção em prestar "solidariedade" a Delcídio foram omitidos em transcrição da conversa. O ministro disse ter sido "muito firme" em deixar claro que a opção por fazer a delação premiada ou não era direito do senador, e não objeto de sua preocupação.

De acordo com Mercadante, sua fala, omitida na transcrição divulgada ontem, era no sentido de buscar uma tese jurídica no âmbito do Senado para viabilizar sua liberdade da prisão.

"Não tenho que me meter na defesa dele, não sou advogado não sei do que se trata", afirmou ter dito o ministro em trecho omitido da transcrição da conversa gravada por Marzagão.

"Não vejo problema em discutir teses", disse o ministro durante a entrevista coletiva, enfatizando que não houve de sua parte qualquer tentativa de interferir em decisões judiciais, mas uma disposição em consultar o SupremoTribnal Federal sobre uma tese de o Senado se manifestar sobre a liberdade do senador. Em sua avaliação, a consultoria do Senado poderia se manifestar sobre a manutenção da prisão a depender das "reflexões" que fossem feitas.

A presidente Dilma Rousseff, por sua vez, classificou a ação de Mercadante como uma "trapalhada" e ficou extremamente irritada. Na conversa com seu ministro, de acordo com autoridades, deixou claro que seu futuro no governo dependeria de como sua defesa se sustentaria. Em nota divulgada no fim da tarde, a presidente da República repudiou "com veemência e indignação a tentativa de envolvimento do seu nome na iniciativa pessoal do ministro Aloizio Mercadante". A declaração foi interpretada como sinal de que Dilma dará tempo ao ministro para se defender, mas não como compromisso de assegurar sua permanência no governo.

No primeiro mandato de Dilma Rousseff, Mercadante foi homem forte do governo, mudando para a pasta da Educação em setembro de 2015, após desgaste. O próprio ministro propagou a versão de que agiu por iniciativa própria ao tratar da questão.

Mercadante, em sua defesa, disse considerar "nítida" a tentativa do assessor de Delcídio em induzi-lo no diálogo gravado e inserido na proposta de delação premiada do senador. "Deixo muito claro que não fiz proposta deajuda financeira", afirmou o ministro, questionando ainda a pertinência de propor ajuda financeira ao senador, que, segundo disse, não precisaria desse tipo de auxílio. "É incrível que eu tenha que estar prestando esclarecimentos sobre isso", disse, destacando "jamais" ter tratado com qualquer ministro do Supremo Tribunal Federal sobre o processo relacionado ao senador na Operação Lava-Jato. De acordo com o ministro, sua preocupação ao solidarizar-se com Delcídio se referia à exposição a que a família do senador estava sofrendo.

Mercadante afirmou, ainda, que o assessor do senador Delcídio, que gravou a conversa, será processado. O ministro disse, também, esperar que seus esclarecimentos ajudem o governo e que está à disposição para prestar outros esclarecimentos em diferentes instâncias.