Valor econômico, v. 16, n. 3964, 16/03/2016. Finanças, p. C3

Déficit dos fundos de pensão vai a R$ 70 bilhões

Por: Por Simone Cavalcanti

Por Simone Cavalcanti | De São Paulo

 

Previ, Funcef e Petros, os três maiores fundos depensão estatais e do país devem responder por pouco mais de 60% do déficit de R$ 70 bilhões do setor estimado pela Associação Brasileira de Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp) para 2015.

Pena Neto, presidente da Abrapp, explica déficit pelo aumento do passivo atuarial e condições ruins de mercado

Juntas, as três fundações estão no vermelho em R$ 40 bilhões. Em comum, elas têm participação no FIP Sondas, veículo de investimento na Sete Brasil. A empresa foi criada para fornecer sondas para a Petrobras, mas enfrenta dificuldades financeiras.

Confirmada a projeção de déficit para o ano do presidente da Abrapp, José Ribeiro Pena Neto, o desequilíbrio será 122,9% maior do que o registrado em 2014 (R$ 31,4 bilhões). Em 2013, o déficit tinha sido de R$ 21,4 bilhões.

Atualmente o sistema tem 307 entidades de previdência complementar fechada. Desse total, segundo a Abrapp, 108 entidades encerraram o ano deficitárias - diferença entre o patrimônio de um plano e seus compromissosfuturos com benefícios trazidos a valor presente. Já o número de fundações que conseguiu manter suas contas no azul chegou a 115. No entanto, o superávit desse grupo foi estimado em R$ 10 bilhões. Os 84 fundos restantes não são submetidos a essas regras contábeis, pois os participantes aportam uma contribuição definida e seu benefício é variável.

A explicação para o resultado negativo, segundo Pena Neto, contemplou o aumento do passivo atuarial decorrente de um ajuste que os planos tiveram que fazer. As medidas de ajuste abrangeram cálculos de maior longevidade dos participantes, ganhos reais acima da inflação e demandas judiciais, que concederam a beneficiários aumentos maiores e incompatíveis com as regras.

Além disso, ressaltou, as condições adversas do mercado, com inflação alta, contribuíram para o mau desempenho das carteiras e uma rentabilidade aquém da meta atuarial. "Os fundos de pensão estão no mercado. Não estão em um lugar diferente que as empresas, os fundos de investimento, e sofrem os impactos", disse.

A Funcef, fundo de pensão patrocinado pela Caixa, fechou o ano deficitária em R$ 8,8 bilhões. Segundo o presidente da fundação, Carlos Alberto Caser, o déficit foi muito influenciado pelo investimento na Sete Brasil, explicou recentemente ao Valor.

A Previ, previdência dos funcionários do Banco do Brasil e a maior em volume de ativos (R$ 167,7 bilhões), também é cotista desse fundo e segundo dados que constam do balanço anual do BB, o fundo teve déficit de R$ 16,56 bilhões. Consultada, a Previ informou que os dados são preliminares e só comentará o assunto por ocasião da publicação de seus resultados.

Estimativas de conselheiros e pessoas do setor apontam que a Petros, dos trabalhadores da Petrobras, vai amargar R$ 20 bilhões em perdas atuariais. Procurada, a entidade disse não poder se manifestar sobre valores finais de 2015 enquanto as demonstrações contábeis não estiverem finalizadas e aprovadas nas instâncias de governança da fundação.

Quarto fundo de pensão do país no ranking de ativos (R$ 23,9 bilhões), a Funcesp, que gere planos de empresas do setor elétrico paulista, também teve desempenho ruim e as contas ficaram deficitárias em R$ 1,6 bilhão.

O volume de investimentos das fundações chegou a R$ 698,3 bilhões em novembro de 2015. Houve atuação mais conservadora com maior participação em renda fixa, cujo percentual de alocação passou para 69% ante 64% em dezembro de 2014. Do total, 20% estão aplicados em ações e 10% em títulos privados.

Ao contrário das aplicações no mercado doméstico, um dos investimentos mais frutíferos foram os destinados a ativos no exterior. As fundações conseguiram, em média, ganhos próximos de 50% sobre o total aplicado. Noentanto, elas ainda investem menos de 3% de seu patrimônio fora do país e, em razão da forte desvalorização do real ante o dólar, muitas trouxeram seus recursos de volta para o Brasil para contabilizar lucros.

Pena Neto afirmou que o governo estuda mudar ainda neste ano as regras para os investimentos dos fundos de pensão no exterior. Pela norma atual, uma entidade só pode aplicar fora do país por meio de um fundo brasileiro, detendo até 25% do patrimônio desse portfólio. A ideia é que essa limitação seja feita em relação ao fundo de contratado no exterior, pois é esse que vai escolher a carteira.