Valor econômico, v. 16, n. 3970, 24/03/2016. Especial, p. A12

Lula pode se tornar assessor , diz Wagner

Por: André Ramalho

 

Por André Ramalho
 

O chefe do Gabinete Pessoal da presidente Dilma Rousseff, Jaques Wagner, saiu ontem em defesa da manutenção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no governo, num momento em que se discute o impeachment de Dilma no Congresso. Wagner sinalizou que Lula poderá assumir o cargo de assessor especial da Presidência, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) mantenha suspensa a nomeação de Lula como ministro-chefe da Casa Civil, e disse que convocar o “melhor jogador” do PT para a atual disputa política foi uma decisão correta.

“Eu pessoalmente sou favorável a convocá-lo [Lula] como assessor especial da Presidência da República. O que é importante é que ele tenha algum grau de institucionalidade para estar em Brasília, não como cidadão, mas como parte do projeto politico, como parte do governo, para defender, para conversar com parlamentares e senadores”, disse Wagner.

Ao defender que a nomeação de Lula como assessor é mais “uma opinião pessoal”, Wagner não entrou em detalhes se o convite é um fato consumado, mas disse acreditar que Lula “deve estar na segunda ou na terça-feira trabalhando como membro do governo”.

Wagner voltou a criticar o processo de impeachment, ao classifica-lo como uma “ameaça à normalidade democrática”, e disse que uma antecipação das eleições poderia ser um caminho mais “nobre” para o fim de uma crise de popularidade do governo, a partir do recall — mecanismo de consulta popular para revogação de um mandato popular antes conferido.

“Se por maioria as urnas dissessem que o governo não deveria continuar, ai sim se convocaria novas eleições”, defendeu.

Ainda segundo Jaques Wagner, um impeachment poderia aprofundar ainda mais a crise econômica do país, “por carência de legitimidade do governo que eventualmente viria a assumir”.

Wagner disse também que o impeachment é uma batalha que o governo enfrenta hoje em três níveis — Congresso, Justiça e nas ruas —, mas que acredita que a presidente Dilma tem “lastro e base social” para superar a crise atual. Questionado se o governo estima ter maioria na Câmara para barrar o processo de impeachment, o ex-ministro da Casa Civil disse que o número de deputados da base de apoio do Planalto oscila muito, mas que as contas do governo indicam que há espaço para vitória na Câmara.

“É um processo de tensão muito grande, oscila muito, mas é claro que na nossa contabilidade eu considero que a gente tem base para superar o impeachment”, afirmou. “Estamos trabalhando nos dois, na comissão [que analisa o impeachment], onde é importante ganhar, e no Plenário, onde é fundamental ganhar”, completou.

Durante o encontro com jornalistas, Wagner criticou ainda a condução da Operação Lava-Jato ao firmar que o juiz Sergio Moro “deseduca a democracia”. E em meio às articulações políticas em torno do impeachment, confirmou a troca do ministro do Esporte, admitindo que a mudança teve como objetivo evitar desgastes políticos.

O ministro George Hilton, recém-filiado ao Pros, deixa o cargo depois de um desentendimento com seu antigo partido (PRB). “É uma coisa de não querer comprar briga. Como o George entrou em rota de colisão [com o PRB] e o ministério faz parte de um acordo político com o PRB, mantê-lo seria comprar briga frontal [com o PRB]. Preferimos não ter uma saída política e colocar alguém, que mesmo filiado [PCdoB], é uma saída mais técnica”, disse.