Título: Orçamento em risco
Autor: Correia, Karla
Fonte: Correio Braziliense, 04/10/2011, Política, p. 5

Insatisfeitos com o ritmo dado pelo governo à liberação de emendas e restos a pagar, e com a dificuldade no acesso a gabinetes de ministros, deputados da base aliada escolheram novo alvo para pressionar o governo: a Comissão Mista de Orçamento. Os parlamentares ameaçam organizar uma rebelião e colocar em risco as votações de créditos extraordinários e a tramitação da peça orçamentária de 2012. O maior problema apontado por parlamentares da base é a escassez no empenho de emendas do orçamento deste ano.

Segundo o deputado Ademir Camilo (PDT-MG), até o fim de setembro, a bancada do PDT tinha sido beneficiada com o empenho de apenas R$ 2 milhões, de um total de R$ 11 milhões em emendas apresentadas pela legenda para este ano. "A liberação de emendas ganha ainda mais importância no ano anterior às eleições municipais. O clima de insatisfação gerado no meio da base governista por conta dessa escassez tem potencial para causar problemas nas votações dentro da Comissão de Orçamento", diz Camilo.

Segundo outro deputado governista, o descontentamento da base tem levado a uma espécie de "operação tartaruga" nas votações da comissão. "O desagrado é generalizado na Câmara, porque o governo faz acordos, promete a liberação de emendas e não cumpre o prometido, nada acontece do que foi combinado", afirma o parlamentar.

Cronograma As reclamações variam entre as bancadas. No PDT, o acordo de liberar os restos a pagar de 2007 e 2008 tem sido cumprido. O problema se concentra mesmo nas emendas ao orçamento deste ano. A bancada do PTB não teve a mesma sorte. "Há 10 dias ouvimos a promessa de liberação de uma lista de projetos incluídos entre os restos a pagar de três, quatro anos atrás. Até agora, nada aconteceu", reclama o deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), notório pelo escândalo dos sanguessugas."Chega a um ponto em que ninguém mais aceita se comprometer com base em emendas parlamentares. Há um descrédito generalizado em relação ao governo."

Na avaliação do deputado, o governo tem se apoiado na maioria folgada na Câmara para adiar o pagamento de emendas. "É uma situação de vantagem como nenhum outro presidente teve, que eu me lembre", diz Capixaba. "A insatisfação da base está atrasando a tramitação de todo o orçamento. As sessões não avançam, não se tem votado nada de importante", afirma o deputado.