O globo, n. 30.159, 03/03/2016. Economia, p. 23

Petrobras avança em negociação para vender filial na Argentina

Empresa também vai se desfazer de campos terrestres no Brasil para gerar caixa

Por: Danielle Nogueira/ Danilo Fariello

 

- RIO E BRASÍLIA - A Petrobras anunciou ontem mais duas operações em continuidade ao seu plano de desinvestimento. A diretoria da empresa aprovou negociações exclusivas com a Pampa Energia, por 30 dias, para a venda de sua participação na Petrobras Argentina. Paralelamente, a petroleira deu início ao processo de cessão dos direitos e de venda de ativos de concessões de campos terrestres no Brasil.

Oficialmente, as negociações para a venda da participação da Petrobras começaram em 20 de janeiro, segundo comunicado da própria companhia na época. Segundo informações que circulam no mercado, a argentina Pampa Energia chegou a fazer uma proposta de US$ 1,2 bilhão pela fatia de 63% da estatal da filial na Argentina — os 37% restantes estão na Bolsa de Valores local. Em setembro do ano passado, a YPF fizera uma oferta de US$ 900 milhões.

A transação com a Pampa Energia ainda está sujeita à aprovação de termos e condições finais pela diretoria da Petrobras e pelo Conselho de Administração da estatal. O prazo de negociação pode ser estendido por mais 30 dias.

A Pampa Energia é a maior empresa integrada de energia na Argentina e produz cerca de 8% de toda a eletricidade do país. Controla ainda a Transener, que opera a maior linha de transmissão de energia de alta tensão da Argentina, e também tem uma participação na Edenor, a maior empresa distribuidora de energia no país.

 

INTERESSE DE PRODUTORES INDEPENDENTES

Já a Petrobras Argentina está entre os quatro maiores produtores de petróleo e gás na nação vizinha. É dona da refinaria Ricardo Eliçabe, localizada em Bahía Blanca ( província de Buenos Aires), e de um complexo petroquímico na província de Santa Fé. Atua também na geração de energia, com uma térmica e uma hidrelétrica. Seu portfólio inclui ainda ativos em Bolívia e Venezuela.

A Petrobras espera levantar mais de US$ 14 bilhões com a venda de ativos neste ano. O programa de desinvestimento visa a dar fôlego à companhia, que tem que equacionar uma dívida bilionária, em meio à crise por que passa o setor — com o petróleo na faixa dos US$ 30 — e ao escândalo de corrupção no qual a petroleira está envolvida.

A venda de concessões de campos terrestres no Brasil, antecipada pelo GLOBO em outubro, está entre as medidas para fazer caixa. Naquele mês, a Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás ( Abpip) disse que seus sócios poderiam dispor de até R$ 6 bilhões para comprar esses campos.

Ontem, Anabal Santos Júnior, secretário- executivo da Abpip, afirmou que é preciso que a Petrobras esclareça as condições em que venderá esses ativos, explicando por exemplo, se serão todos juntos para um grupo específico — o que agradaria mais a investidores estrangeiros, principalmente chineses — ou em conjuntos de blocos por região, conforme espera a Abpip.

O comunicado de ontem da Petrobras diz apenas que a venda será feita “através de processo competitivo”, mas não deu detalhes sobre os ativos envolvidos. Em geral, campos terrestres no Brasil têm menor produtividade que no mar.

— O principal ponto é saber qual será a regra do jogo. Um ponto importante, por exemplo, é saber como a Petrobras atuará na comercialização da produção desses campos, porque ela não poderia abusar do monopólio do refino no país — disse Santos Jr.

 

TESTE NO PRÉ- SAL

Segundo Santos Jr., os produtores independentes produzem hoje cerca de três mil barris por dia apenas, ou seja, uma participação muito pequena perto da fatia da Petrobras em terra no país. Nos últimos anos, a petroleira, com maior foco em campos no mar, já vinha reduzindo a produção desses campos até efetivamente abandonar alguns nos últimos meses.

Os campos terrestres da Petrobras estão localizados principalmente na região Nordeste ( Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe e Bahia) e no Espírito Santo. A estatal possui 234 campos maduros ( que já alcançaram o pico de produção e inciaram o processo e declínio) no Brasil.

A Petrobras também informou ontem o início de produção na área de Sépia ( antiga área Nordeste de Tupi), no pré- sal da Bacia de Santos, com extração de cerca de 20 mil barris de óleo por dia durante período de teste. A entrada em operação do sistema definitivo está prevista para 2020. Os testes visam a coletar informações técnicas sobre o comportamento dos reservatórios e escoamento do petróleo nas linhas submarinas.