O globo, n. 30.159, 03/03/2016. Opinião, p. 18

PT descontente é promessa de mais pressão sobre Dilma

 

A presidente Dilma não conseguiu resistir à pressão do ex-presidente Lula e da cúpula do PT para defenestrar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, acusado pelo lulopetismo de não “controlar” a Polícia Federal na Operação Lava-Jato, mas demonstra tentar proteger ao máximo a Pasta e, por tabela, a autonomia da PF.

Numa manobra de redução de danos, a presidente aceitou colocar no ministério o procurador-geral de Jaques Wagner no governo da Bahia, Wellington Lima e Silva, sinal de que deve contar com a ajuda do ministro-chefe da Casa Civil, próximo de Lula, na administração deste enorme conflito — pois a Lava-Jato avançará. Afinal, da força-tarefa da Operação fazem parte duas instituições sem qualquer dependência do Executivo, o Ministério Público e a Justiça. Uma outra interpretação é que Jaques Wagner terá ainda mais poder, por conseguir colocar alguém de sua área de influência na Justiça.

A presidente Dilma já deu declarações favoráveis à autonomia da PF. Não deve querer desmentir a si mesma. E ao optar por Wellington, Dilma evitou nomear alguém indicado pelo PT, mobilizado para blindar Lula.

Consta que o partido não gostou de não ter podido colocar alguém de confiança para tentar controlar a PF. E não devem ter repercutido bem na legenda declarações do novo ministro sobre a maturidade das instituições e a continuidade dos trabalhos na PF.

Podem ser palavras formais, porém a escolha de um representante do Ministério Público evitou que desembarcassem no Ministério da Justiça deputados como Wadih Damous (RJ) e Paulo Teixeira (SP), da tropa de choque do lulopetismo. O primeiro costuma dar declarações agressivas em defesa do ex-presidente, e o segundo virou notícia há pouco por acionar o Conselho Nacional do Ministério Público contra o procurador do MP de São Paulo que investiga evidências de que Lula teria sido beneficiado por empreiteira no caso do tríplex no Guarujá. Antes, conseguiu impedir que o ex-presidente e a mulher, Marisa, depusessem nesse inquérito.

 

A intenção do lulopetismo, a julgar por esses nomes de ministeriáveis da lista do partido, é intervir de fato na PF para defender o chefe. Caso, de alguma forma, isso venha a acontecer, haverá grande crise político-institucional.

A PF, como organismo de Estado e não de governos, tem prerrogativas que deverão ser defendidas na Justiça, caso corram risco. O ministro pode mudar o comando da Polícia, para que os novos dirigentes boicotem a Lava-Jato de forma indireta: pela remoção de delegados e corte de verbas, por exemplo. Mas nada passará despercebido, e haverá uma crise séria do mesmo jeito.

O lulopetismo parece partir para um tudo ou nada, o que garante que as pressões continuarão sobre o Planalto. Jaques Wagner terá bastante trabalho

 

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