Suposto operador de propinas é preso em Portugal

22/03/2016

A Operação Lava Jato deflagrou na madrugada de ontem sua primeira etapa internacional em Lisboa, Portugal. A Operação Polimento, 25.ª fase, cumpriu mandados de busca e apreensão e prisão preventiva de Raul Schmidt Felipe Junior. Ele foi preso em um apartamento de luxo avaliado em 3 milhões de euros. Foram apreendidos documentos, carros, dinheiro e obras de arte.

Segundo a Procuradoria, Raul Schmidt é investigado pelo pagamento de propinas aos ex-diretores da estatal petrolífera Renato de Souza Duque (Serviços), Nestor Cerveró e Jorge Luiz Zelada (ambos da área Internacional). Os três estão presos em Curitiba, base da Lava Jato, pela participação no esquema de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa instalado na Petrobrás.

Em nota divulgada ontem, a Procuradoria portuguesa informou que já recebeu, das autoridades brasileiras, “três cartas rogatórias relacionadas com esta matéria”. “Uma já foi devolvida. As restantes encontram-se em execução.” Segundo os investigadores, Raul Schmidt seria sócio do ex-diretor da área Internacional da estatal Jorge Zelada. Ele é investigado pela força-tarefa da Lava Jato pelo recebimento de “comissão” em contratos de navios-sonda envolvendo a empresa coreana Samsung Heavey Industries.

Zelada é administrador da TVP Solar Brasil, empresa que pertence a Raul Schmidt, segundo a Receita Federal. Raul é investigado na Lava Jato como elo de Zelada na lavagem de dinheiro supostamente desviado por ele da Petrobrás em dois navios-sonda, que sucederam os acordos fechados por Cerveró, com a Samsung. O empresário foi gerente da Braspetro Oil Service, em Angola, e representante da norueguesa Sevan Marine, no Brasil.

Foragido. O Ministério Público Federal informou também que Raul Schmidt Felipe Junior estava foragido desde julho de 2015, quando foi expedida a ordem de prisão. Seu nome havia sido incluído no alerta de difusão da Interpol em outubro do ano passado por conta da tentativa de localizá-lo.

“Além de atuar como operador financeiro no pagamento de propinas aos agentes públicos, ele também aparece como preposto de empresas internacionais na obtenção de contratos de exploração de plataformas da Petrobras”, diz a nota.

A Polícia Federal informou que Raul Schmidt é investigado pela Lava Jato desde a 10.ª fase da operação e é tido como sócio de Jorge Zelada. “O compartilhamento de provas colhidas hoje (ontem) auxiliarão nos trabalhos desenvolvidos pela equipe Lava Jato no Brasil”, afirmou nota emitida pela Polícia Federal.

Zelada teria recebido propina nos contratos com a Pride International, de 2008, para construção do ENSCO DS-5, e com a Vantagem Deepwater Company, em 2009, para o Titanium Explorer. Nas buscas por dados desses contratos, a Lava Jato, ainda no ano passado, chegou ao nome de Raul Schmidt. Na época, documentos obtidos na investigação da prisão de Zelada revelaram ainda a existência de um contrato de comissionamento de US$ 20 milhões, assinado e 18 de outubro de 2007, pela Pride Internacional - vencedora do contrato do ENSCO DS-5 - como origem dos US$ 3 milhões pagos ao suposto sócio de Zelada.

Parceria. A deflagração da operação de ontem foi um trabalho conjunto entre Portugal e Brasil. De acordo com a Procuradoria, o cumprimento das medidas foi feito pela polícia judiciária portuguesa e pelo Ministério Público português. Autoridades brasileiras acompanharam as diligências. Cumpridas as medidas cautelares, o Brasil dará início ao processo de extradição.

“Raul é brasileiro e também possui naturalidade portuguesa. O investigado vivia em Londres, onde mantinha uma galeria de arte, e se mudou para Portugal após o início da operação Lava Jato, em virtude da dupla nacionalidade” informou o Ministério Público Federal.

Compartilhamento

“Além de atuar como operador financeiro no pagamento de propinas aos agentes públicos, ele também aparece como preposto de empresas internacionais na obtenção de contratos ”

NOTA DIVULGADA PELO MPF

“O compartilhamento de provas colhidas hoje (ontem) auxiliarão nos trabalhos desenvolvidos pela equipe da Lava Jato no Brasil”