Valor econômico, v. 16, n. 3957, 05/03/2016. Brasil, p. A2

Setor de serviços eleva competitividade de exportações brasileiras, aponta OMC

Por: Assis Moreira

Por Assis Moreira | De Genebra

 

O Brasil aumenta sua participação nas cadeias globais de valor (CGV) e o setor de serviços contribui cada vez mais para a competitividade das exportações de manufaturados do país.

É o que mostra a Organização Mundial do Comércio (OMC), em estudo que quantifica vários aspectos da dinâmica do comércio internacional nos dias de hoje e mostra como as exportações e importações de 61 economias estão conectadas globalmente.

Segundo o diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, há cada vez mais conteúdo importado nos produtos e serviços que os países exportam. Por ano, cresce em 9,9% a contribuição de insumos importados para asexportações globais. Economias em desenvolvimento estão aumentando sua participação nas cadeias globais de valor, inclusive num ritmo mais acelerado que as economias maduras. "Importações e exportações de bens e de serviços se complementam cada vez mais", diz Azevêdo.

Pelos dados da OMC, a participação do Brasil nas cadeias globais de valor está em alta. Cerca de 11% de tudo que o país exporta, incluindo bens e serviços, se deve a insumos importados. E cerca de 25% das exportaçõesbrasileiras são reprocessadas ou utilizadas como insumos por outras companhias no exterior e exportadas depois para terceiros mercados.

Somando os dois indicadores, o peso total das cadeias globais de valor no total exportado pelo Brasil ficou em 35% em 2011, representando alta de 14% por ano, na media, acima do crescimento de 13% nos países emdesenvolvimento e de 8% nos países desenvolvidos.

China, Estados Unidos e Alemanha são os grandes parceiros comerciais que mais processam insumos comprados no Brasil na sua cadeia de produção. A China, maior parceiro comercial do país, recebe e exporta 19,5% de todos os insumos comprados no Brasil.

De fato, o Brasil continua na etapa inicial das cadeias de valor e menos próximo da etapa final, que é o mercado consumidor. Como grande exportador de matérias-primas, o Brasil age como fornecedor para as indústrias na cadeia global, como fica claro pela alta fatia de valor agregado doméstico e pequena proporção de insumos importados.

O conteúdo importado pelo Brasil nas suas exportações é de apenas 11%, comparado a 32% na China ou 24% na Índia. Mesmo África do Sul e a Rússia, dois outros países gigantes em recursos naturais, recorrem mais aimportações (20% e 14% respectivamente). Para analistas, a questão não pode se resumir a dizer que o Brasil seria autossuficiente, e sim que, na produção globalizada, a competitividade e sofisticação de produtosfrequentemente exigem mais importados, que podem ter melhor preço e qualidade.

Os dados revelam também o impacto do setor de serviços para a competitividade das exportações de todos os países estudados. Globalmente, os serviços necessários à produção e comercialização de uma mercadoria -como logística e TI - respondem por 37% das exportações de produtos manufaturados.

No caso do Brasil, a contribuição de intermediários de serviços no comércio exterior cresceu 15,2% por ano entre 2005 e 2014. Essa cifra coloca o Brasil em segundo lugar na comparação com outros países do grupo dos Brics em termos de crescimento, só atrás da China com 16,2% de alta anual. O crescimento ficou em 12,5% na Argentina, 6,6% na Indonésia e 0,5% na Turquia. Os serviços comerciais intermediários incluem, por exemplo,consultoria, engenharia e servicos de computação.

Dos serviços que contribuem na exportação brasileira, uma parte significativa é de origem nacional. Eles contribuem com 31,8% na exportação de manufaturados e 44,2% na exportação total. Já os serviços importadoscontribuem com 6% na exportação de bens e 4,8% na exportação total. Os serviços que mais contribuem nas exportações são os de "atacado e varejo", outros serviços profissionais ("business services") e intermediaçãofinanceira.