Valor econômico, v. 16, n. 3957, 05/03/2016. Política, p. A7

Dilma tenta se aproximar de Lula para evitar isolamento

Por: Andrea Jubé / Arícia Martins

Por Andrea Jubé e Arícia Martins | De Brasília e Tietê (SP)

 

Na semana em que ganham fôlego os protestos convocados para domingo e o julgamento do impeachment seráretomado, a presidente Dilma Rousseff investe na reaproximação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que mostrou ainda contar com apoio popular nas ruas. Após o rápido encontro no sábado, em São Bernardo do Campo (SP), Dilma e Lula voltariam a se reunir hoje à noite em Brasília, para aprofundar a discussão sobre o agravamento da crise - o que foi suspenso segundo a assessoria do ex-presidente.

Em outra frente, Dilma se esforça para mostrar que continua governando. Encomendou novidades no Programa Nacional de Ensino Técnico (Pronatec), de apelo social, num momento em que a Operação Lava-Jato a atingiu diretamente, no caso da delação premiada do senador Delcídio do Amaral (PT-MS), e alvejou Lula. Nesta segunda, ela entrega unidades do Minha Casa, Minha Vida, em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, ao lado doministro do Trabalho, Miguel Rossetto.

No Ministério da Fazenda, o clima nos corredores é de desânimo. Mas o ministro Nelson Barbosa já avisou a equipe que entregará os projetos prometidos no cronograma estabelecido antes do acirramento da crise. Oprimeiro da lista é a renegociação das dívidas estaduais. A avaliação é que a Fazenda não pode esperar a política melhorar para discutir propostas.

O encontro de Dilma e Lula no sábado - um dia após a Operação Aletheia, em que ele foi obrigado a depor na Lava-Jato - foi rápido, de pouco mais de uma hora. O ato serviu para que a presidente posasse ao lado de seu antecessor, diante da militância, no esforço de mostrar solidariedade pública ao padrinho político.

A avaliação no Planalto é que não é o momento de Dilma se mostrar isolada, quanto mais afastada de Lula, de quem ela cogitou se descolar nas últimas semanas, tanto que viajou ao Chile para não subir no palanque ao lado de seu antecessor na festa de aniversário do PT.

Dilma decidiu ir a São Bernardo, escoltada pelo ministro Jaques Wagner (Casa Civil), fazer um gesto ostensivo de apoio a Lula, porque aliados do ex-presidente consideraram insatisfatórias suas manifestações anteriores. No pronunciamento de 11 minutos, ela dedicou apenas três às palavras de solidariedade a Lula. Em nota oficial, ela se declarou "inconformada" - e não "indignada" - com a condução coercitiva de Lula, o que irritou o entorno do ex-presidente.

No monitoramento das redes, o Planalto já detectou a adesão maior da população às manifestações de domingo contra o governo, decorrentes do vazamento da delação de Delcídio e do depoimento de Lula na Lava-Jato.

O Planalto teme, ainda, confrontos e atos de violência. Embora não haja orientação formal da Frente Brasil Popular (PT, PCdoB, CUT, MST, UNE), responsável pelas convocações de atos de apoio a Lula ao longo do mês, há expectativa de que militantes voluntários saiam às ruas para enfrentar opositores do governo.

Simultaneamente, o Planalto acompanha a retomada do julgamento do rito do impeachment no Supremo Tribunal Federal, previsto para quarta-feira. Apesar do agravamento da crise, auxiliares de Dilma disseram aoValor que continuam tendo número suficiente de votos para arquivar o processo.

Ontem, o vice-presidente Michel Temer - na primeira vez que veio a público desde que a Lava-Jato atingiu Lula e Dilma -, evitou a imprensa e não quis responder perguntas sobre o assunto. No Planalto, auxiliares de Dilmareclamaram que ele não deu um telefonema a ela, diante do acirramento da crise.

A uma semana da convenção do PMDB que vai reconduzi-lo à presidência da sigla, Temer voltou a pregar a "reunificação do país" e a harmonia entre os três Poderes. Defendeu a "conexão do capital com o trabalho" para tirar o Brasil da crise política e econômica. Ele discursou em evento na cidade de Tietê, onde nasceu.

"Hoje o que o país mais precisa é de unidade, de reunificação, de um pensamento comum, um instante em que todos têm que dar as mãos para tirar o país da crise", afirmou. Para o vice, é "inadmissível" que um país como o Brasil tenha "milhões e milhões" de desempregados". Em mais de uma ocasião, Temer foi chamado de "nosso presidente" pelo prefeito, Manoel David Korn de Carvalho (PSD). (Colaborou Leandra Peres)