O globo, n. 30.181, 25/03/2016. Rio, p. 15

Novo desafio para Pezão

Com câncer agressivo, mas com 70% de chances de cura, ele começa tratamento hoje

O governador Pezão, de 60 anos, anunciou ontem seu afastamento do cargo por 30 dias para se tratar de um linfoma não Hodgkin. O diagnóstico de câncer linfático foi divulgado após 13 dias de internação. Segundo os médicos, as chances de cura são de 70%. Pezão deverá fazer quimioterapia por seis a oito meses. “Deus nos dá o fardo que podemos carregar. Espero sair mais forte”, disse. O vice, Francisco Dornelles, assumiu o governo. Depois de 13 dias internado no Hospital Pró- Cardíaco, o governador Luiz Fernando Pezão, de 60 anos, foi diagnosticado ontem com um câncer pouco comum e agressivo, mas que tem 70% de chances de cura após tratado. O governador, que teve os ossos afetados pela doença, começa hoje o primeiro ciclo de quimioterapia e deverá se afastar do trabalho, a partir de segunda- feira, por 30 dias. Neste período, será substituído pelo vice- governador Francisco Dornelles, que receberá ajuda dos secretários Leonardo Espíndola, da Casa Civil; Júlio Bueno, da Fazenda, e Affonso Monnerat, de Governo. Abatido, mas sorridente e aparentando bom humor, Pezão chegou a brincar, durante uma entrevista coletiva, com o nome da doença — linfoma não- Hodgkin anaplásico de grandes células tipo T com enzima ALK positiva —, dizendo que era muito complicado e que um homem do tamanho dele não poderia ter nada simples. O governador fez questão de demonstrar otimismo.

GUITO MORETOBatalha contra doença. O governador Luiz Fernando Pezão, no Hospital Pró- Cardíaco, durante entrevista coletiva em que foi anunciado que ele tratará um câncer

— Vou encarar com muita determinação e firmeza. Sei que tem coisas piores na vida. Deus nos dá o fardo que podemos carregar. Se ele vai dar essa provação, vou encarar. Espero sair mais forte — disse Pezão, ao lado da mulher, Maria Lúcia, do oncologista Daniel Tabak, que ficará à frente do tratamento, e de seu médico particular, o cardiologista Cláudio Domênico. CATETER PARA RECEBER MEDICAMENTO Segundo Daniel Tabak, o linfoma não- Hodgkin acomete cerca de 10 mil pessoas por ano no Brasil e é fatal, caso não seja tratado. O de Pezão é pouco comum ( 15% dos casos) porque atacou os linfócitos T, responsáveis pelo combate a organismos desconhecidos, como bactérias. Em 85% dos linfomas, como o que acometeu a presidente Dilma Rousseff quando ela estava à frente da Casa Civil, são os linfócitos B, que criam anticorpos, que apresentam alterações. A doença do governador tem também outras peculiaridades, segundo o oncologista: foram identificadas mutações nos cromossomos 2 e 5, que a tornaram mais agressiva. Além disso, ela se manifestou não nos gânglios, como geralmente acontece, mas nos ossos. Pezão sofreu alterações na oitava e nona vértebras, que ficaram mais “porosas".

— É agressivo, mas, curiosamente, são os casos mais agressivos que têm maior potencial de cura. O governador tem bom prognóstico, tem fatores clínicos favoráveis — disse Tabak, acrescentando que o percentual de cura após o tratamento é de 70%, podendo chegar a mais.

Ontem, Pezão foi submetido a uma cirurgia simples, com anestesia local, para a instalação, sob a pele da clavícula, de um cateter que facilitará a chegada dos medicamentos a veias profundas. Hoje, ele deverá começar o primeiro ciclo de quimioterapia, que deverá durar três dias. Depois de 18 dias de descanso, deverá recomeçar o tratamento. No total, devem ser realizados de seis a oito ciclos, o que significa que o governador poderá ficar até oito meses lutando contra a doença. De acordo com Tabak, Pezão fará a primeira etapa ainda no Pró- Cardíaco, de onde deverá receber alta na próxima segunda ou terça- feira. A ideia é que o governador seja medicado, nas próximas vezes, de forma ambulatorial.

O governador deverá sofrer efeitos colaterais, como enjoos e vômitos, mas o que mais preocupa os médicos é que Pezão ficará muito suscetível a infecções. A quimioterapia, ao mesmo tempo em que mata as células com câncer, ataca também os linfócitos saudáveis, responsáveis pela proteção do organismo.

— Temos que ter o maior cuidado para minimizar os riscos de infecção. A recomendação médica é que ele seja preservado, as defesas do organismo ficam muito comprometidas — diz Tabak, que negou que o estresse possa ter contribuído para o aparecimento do linfoma.

Pezão foi internado no último dia 12, reclamando de febre e dor na coluna. Os médicos identificaram alterações nas vértebras e submeteram o governador a uma biópsia, cujo resultado ficou pronto somente ontem, indicando o linfoma. O governador comentou os momentos de aflição até descobrir que doença tem:

— Eu me senti muito mal desde o dia 4. Eu comecei a sentir sensações de tremores e parecia que tinha febre todos os dias. Quando eu estava na convenção do PMDB, em Brasília, me senti pior. Eu me senti muito mal à noite e também na hora de votar. Falei com o doutor Cláudio ( Domênico) e ele me chamou para voltar, para pesquisar. Foram momentos difíceis. Porque a gente não sabia. Tinha muita febre, eu suava muito.