Título: Câmbio pesa mais para os que viajam
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 04/10/2011, Economia, p. 10

Preço do dólar ao turista chega a ser até 8% maior do que nas transações comerciais. Compra fracionada mitiga impactos no bolso

A crise financeira que abala a Europa e fez disparar a cotação de praticamente todas as moedas em relação ao dólar chegou ao bolso do brasileiro. Diante de tamanha escalada (18% ante o real apenas em setembro), o turista com viagem programada para o exterior está amargando uma perda expressiva do seu poder de compra. A moeda adquirida nas casas de câmbio é até 8% mais cara do que a negociada no mercado financeiro. Além disso, o consumidor é obrigado a pagar Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre o valor adquirido ¿ a alíquota é de 0,38% ¿ e, em alguns casos, mais R$ 10 de taxa. Ontem, em Brasília, enquanto o dólar era negociado a R$ 1,892 no mercado, as casas de troca de moeda cobravam até R$ 2,05. O euro, que fechou o pregão de ontem a R$ 2,49, era vendido nesses estabelecimentos a R$ 2,70.

Ainda assim, o brasileiro continua a viajar para fora. A cotação salgada da moeda norte-americana não assustou o turista. "Ir para alguns destinos da América do Sul sai mais em conta do que ir para praias do Nordeste", afirmou Felipe Pellegrini, gerente da mesa de operações do banco Confidence. Nas casas de câmbio de aeroportos e shoppings, filas e espera de até 30 minutos se tornaram comuns. O funcionário público Sérgio Batista de Olivera, 50 anos, está com viagem marcada para o Peru e para a Bolívia. Há alguns meses guarda dólares para viajar. "Eu tenho alguma coisa que comprei em uma viagem anterior, quando a cotação estava bem melhor, mas ainda assim é pouco, preciso de mais", explicou.

Controle No entanto, Oliveira pretende controlar melhor os gastos e não planeja muitas compras. Também vai evitar o cartão de crédito para não correr o risco de a fatura crescer com a oscilação da moeda. "O meio eletrônico traz esse risco. Vou levar dinheiro em espécie para facilitar minhas compras. Como vou para o interior do país, não correrei o risco de chegar a um lugar que não tem máquina e ficar sem opção", disse. O também funcionário público, João Trajano, 63 anos, envia todo mês dinheiro para o filho que mora na Itália. "Como o dólar subiu, o euro acompanhou. Agora estou pesquisando para tentar encontrar um preço melhor. Essa alta me deixou apertado", reclamou.

Com as incertezas cada vez maiores em relação ao destino da Europa, quem tem dinheiro em aplicações de maior risco está se desfazendo desses ativos e optando por ficar com dinheiro em caixa à espera de um momento mais propício. Já o turista está sentindo no bolso os efeitos da crise internacional. "O pessoal que vai viajar está comprando aos poucos para diminuir os riscos, por isso podemos observar filas nas casas de câmbio. Os turistas vão várias vezes e nem sempre compram grandes valores", avaliou Pellegrini.