Valor econômico, v. 16, n. 3958, 08/03/2016. Especial, p. A12

'Lava-Jato deu tribuna ao Lula', diz deputado

Estevão Taiar

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou o dia de ontem em reuniões no Instituto que leva seu nome, em São Paulo. Nos encontros com aliados e assessores diretos, seus interlocutores saíram com a avaliação que a condução coercitiva sofrida por Lula na sexta-feira foi um erro político do juiz Sergio Moro e poderá ser capitalizado pelo petista.

O deputado federal Wadih Damous (PT-RJ), sintetizou, ao sair da reunião com o ex-presidente: "A Lava-Jato deu uma tribuna ao Lula."

Além de Lula e Damous, participaram das reuniões o presidente do instituto, Paulo Okamotto, os diretores Luiz Dulci e Paulo Vannuchi, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP), o escritor Fernando Morais e o jornalista Franklin Martins. O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, e o dirigente nacional da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade e ex-líder do Movimento dos Sem Terra, José Rainha, também estiveram no local.

Edinho Silva prometeu que o governo federal vai anunciar nos próximos dias mais obras como resposta à crise política e aos problemas econômicos: "O governo tem que continuar mostrando que está trabalhando, mesmo diante da crise política e de todas as dificuldades. A presidenta Dilma Rousseff está anunciando obras do Minha Casa Minha Vida. Nesta semana teremos outrosanúncios", afirmou o ministro, tesoureiro da campanha pela reeleição em 2014.

Rainha disse que organizará um protesto em defesa de Lula em Bauru (SP), no dia 19. Segundo ele, a tendência é que a manifestação reúna entre 5 mil e 10 mil pessoas, dependendo da presença do próprio Lula, que ainda não confirmou se comparecerá: "Se ele não for, a gente coloca 5 mil. Se for, a gente coloca 10 mil".

Rainha foi enfático na defesa do presidente. "Juntou a fome com a vontade de comer. O que o [juiz Sergio] Moro fez foi botar a gente nas ruas", disse. "O Lula não é um deputado, uma pessoa qualquer. Ele é um mito", afirmou.

O Instituto Lula foi alvo de busca e apreensão na sexta-feira e seus diretores mostraram a jornalistas os sinais da atividade policial: ontem havia documentos revirados no chão e uma porta arrombada. "Aquela porta arrombada foi um absurdo. É a sala do administrativo e do financeiro. É a única sala daqui que fica trancada, mas a chave fica com uma das moças, então ninguém pediu a chave, só arrombaram. Foi completamente desnecessário aquilo", disse Celso Marcondes, diretor do Instituto.

Marcondes afirmou que o juiz Sergio Moro jogou "gasolina na fogueira" e "fez um mal para o Brasil" com a condução coercitiva do ex-presidente. "O Moro fez um mal para o Brasil, porque acho que os ânimos hoje estão mais acirrados. Se havia um clima de divisão, de acirramento, de ódio, acho que depois de sexta-feira jogaram gasolina na fogueira", disse.

A declaração feita por Lula na sexta-feira ao comparar-se a uma jararaca para dizer que sobreviveu à ofensiva da Operação Lava-Jato, foi rebatida pelo bispo-auxiliar da Arquidiocese de Aparecida, dom Darci José Nicioli, que dedicou parte da missa do domingo na basílica a pregar "a graça de pisar a cabeça da serpente".

 

Dom Darci foi mais explícito no trecho final de uma oração. "Peça, meu irmão e minha irmã, a graça de pisar a cabeça da serpente. De todas as víboras que existem e persistem em nossas vidas", pregou. "Daqueles que se autodenominam jararacas. Pisar a cabeça da serpente. Vencer o mal pelo bem, por Cristo nosso Senhor", concluiu. (Com agências noticiosas)