Valor econômico, v. 16, n. 3958, 08/03/2016. Especial, p. A12

Exército acompanha crise 'com atenção'

Lucas Marchesini

Andrea Jubé

Em mensagem interna aos oficiais da reserva, à qual o Valor teve acesso, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, afirma que a instituição acompanha com "muita atenção a evolução da crise política judicial" instalada no país e terá uma posição "pacificadora em busca da conservação da ordem pública". A mensagem foi enviada aos oficiais da reserva, por meio de um grupo interno de comunicação, mas seus termos têm sido reiterados a toda instituição. Foi expedida na sexta-feira, a dez dias das manifestações convocadas contra o governo, quando o Palácio do Planalto receia a ocorrência de confrontos e atos de violência, diante da constatação de que os ânimos estão exaltados.

General Villas Bôas: Exército buscará “a conservação da ordem pública”

Também foi divulgada no dia em que os ânimos de militantes pró-governo se acirraram com a condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depor na Operação Lava-Jato. Houve episódios de enfrentamento no Aeroporto de Congonhas, onde Lula depôs em uma sala reservada para autoridades.

No fim de semana, circularam rumores de que oficiais militares teriam oferecido "reforços" para governadores, a fim de garantir a paz e a ordem durante os protestos de domingo. O general Otávio do Rêgo Barros, do Centro de Comunicação Social do Exército, ressalta que não existe essa previsão, que depende de uma requisição expressa da Presidência da República, por meio da edição de um decreto de garantia da lei e da ordem.

"Quando empregamos tropas em eventos de pacificação ou de garantia da lei e da ordem, a determinação nos é dada por meio da Presidência da República", afirma. "Se algum governador desejar a participação das tropas para qualquer coisa, tem que pedir à Presidência, esse é o fluxo", completa.

No Palácio do Planalto, de igual forma, não há previsão de que a presidente Dilma Rousseff edite um decreto nesse sentido, requisitando a atuação das Forças Armadas no domingo. A segurança pública caberá, como das outras vezes, à Polícia Militar de cada Estado.

Rêgo Barros esclarece que o comunicado do general Villas Bôas é rotineiro, e faz parte de um expediente iniciado no ano passado para afinar a interlocução com oficiais da reserva.

No mesmo comunicado, o general Villas Bôas reforça a mensagem de pacificação social em meio à crise política e pede serenidade diante das divergências políticas. "A manutenção da paz social e o esforço para evitar-se a desagregação do Estado devem ser objetivos de toda a sociedade brasileira. É mister que os atores envolvidos se posicionem de forma serena, independentemente do viés ideológico".

Villas Bôas conclui a mensagem reafirmando o compromisso do Exército de atuar sempre com base "na legalidade, com foco na estabilidade social e respaldada na legitimidade creditada pela população".

 

O general Rêgo Barros observa que a mensagem principal do comunicado do comandante do Exército é pedir "união" neste momento de crise. "É essencial que as Forças Armadas, até pela credibilidade que têm, tenham papel completamente institucional e de Estado. Consideramos muito importante que a instituição fique pairando acima de qualquer viés ideológico", ressalta.Recentemente, as Forças Armadas foram escolhidas por Dilma para encabeçarem as ações de combate ao mosquito Aedes aegypti, que transmite o vírus zika. O governo verificou que a instituição gozava de plena credibilidade na sociedade, a fim de que os brasileiros abrissem as portas para receber os militares das três Forças, seja para inspeção domiciliar, seja para esclarecimentos sobre a epidemia.