Valor econômico, v. 16, n. 3954, 02/03/2016. Política, p. A8

Delações atingem campanha eleitoral de Dilma em 2010

Por: André Guilherme Vieira / Letícia Casado

Por André Guilherme Vieira e Letícia Casado | De São Paulo e Brasília

 

Informações prestadas por delatores ligados à Andrade Gutierrez (AG), de que a empreiteira teria pago despesas de fornecedores de campanha de Dilma Rousseff em 2010 por meio de contrato supostamente fictício, colocaram responsáveis pela campanha presidencial de então no radar da Operação Lava-Jato. As investigações são conduzidas pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Delatores relataram que o pagamento foi feito após pedido direto de um dos coordenadores da campanha do PT, segundo o jornal "Folha de S. Paulo".

O primeiro coordenador da campanha de Dilma em 2010 foi o atual governador de Minas Gerais Fernando Pimentel (PT). Uma disputa interna o enfraqueceu em junho daquele ano, após denúncia de que um jornalista de sua equipe teria atuado na elaboração de um dossiê contra o então presidenciável tucano José Serra.

A coordenação da campanha foi assumida pelo à época presidente nacional do PT José Eduardo Dutra (falecido em 2015), juntamente com o ex-ministro Antonio Palocci e o agora ex-titular da Justiça José Eduardo Cardozo.

Ex-ministro do Desenvolvimento no primeiro mandato de Dilma (2010-2014), Pimentel é investigado pela Operação Acrônimo da Polícia Federal (PF), que apura lavagem de dinheiro e sobrepreço em contratos com ogoverno federal, supostamente destinado a financiamento de campanhas eleitorais. A mulher dele, Carolina Oliveira, também investigada, é sócia da Oli Comunicações e Imagens Ltda., que emitiu "diversas notas fiscais em valores significativos para as empresas Pepper Comunicação Interativa e Diálogo Ideias e Informação Relevante Ltda", segundo a PF. A suspeita é que Carolina seja sócia oculta da agência Pepper. A Pepper transferiu à Oli valores recebidos do BNDES, afirma a PF.

Somente com a Pepper - que foi contratada pela campanha de Dilma em 2010 para atuar no marketing em redes sociais -, a Andrade Gutierrez fechou contratos no valor total de R$ 6,2 milhões em 2010, apontam asinvestigações.

O coordenador financeiro da campanha em 2010, José De Filippi Jr., soltou nota à noite, afirmando que os serviços prestados pela Pepper à campanha de 2010 da presidenta Dilma foram "regularmente contabilizados nas prestações de contas aprovadas pelo TSE". Ele informa que foram pagos R$ 6,4 milhões à empresa.

A assessoria de Fernando Pimentel informou que ele não vai se pronunciar sobre o assunto, "uma vez que as informações não são públicas e que o governador não teve acesso aos documentos".

O advogado Juliano Breda, que defende os ex-executivos da Andrade Gutierrez, disse que não vai comentar o assunto.

Um dos depoimentos em delação prestados aos investigadores da Lava-Jato é o do ex-presidente da AG Otávio Azevedo, acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. "A delação [de Azevedo] não foihomologada. Uma primeira etapa [de depoimentos] está concluída", disse ao Valor uma fonte a par dainvestigação.

Além de Azevedo, também estão fazendo delação premiada os ex-executivos Flávio Barra, Antonio Pedro Campello, Elton Negrão e Paulo Roberto Dalmazzo, apurou a reportagem.

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, em 2010 a Andrade Gutierrez fez três doações para o comitê financeiro da campanha de Dilma, contabilizando R$ 5,1 milhões entre agosto e outubro.

Mesmo que as investigações comprovem a ocorrência de caixa dois na campanha eleitoral de Dilma em 2010, não haverá responsabilização no âmbito eleitoral, porque o período de vigência do mandato presidencialencerrou-se em 2014. No entanto, o caso poderia ensejar um inquérito policial específico e resultar em uma ação penal.

Em outubro de 2015, o Valor antecipou que os ex-executivos, presos em junho, negociavam acordo de delação premiada.