Valor econômico, v. 16, n. 3958, 08/03/2016. Especial, p. A12

Operação divide Supremo e provoca briga no Senado

Maíra Magro

Vandson Lima

Carolina Oms

A condução do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para depor em procedimento investigatório da Operação Lava-Jato, na sexta-feira, continuou dividindo opiniões ontem em Brasília.

No Supremo Tribunal Federal (STF), ministros apontaram que a medida pode ter sido excessiva. Já no Senado, em um dia de plenário mais cheio do que normalmente ocorre nas segundas-feiras, petistas e tucanos foram à tribuna, fizeram discursos inflamados e a discussão descambou para a troca de xingamentos.

Para um integrante do STF, a condução coercitiva de Lula foi desnecessária - deveria ter sido usada apenas como segunda opção, caso o ex-presidente se recusasse a cumprir uma intimação inicial para depor. A avaliação é que uma conduta mais cautelosa poderia ter evitado turbulências. Apesar disso, esse ministro não chega a ver ilegalidade na ordem do juiz Sergio Moro de conduzir Lula, por isso não haveria motivos para anular as investigações.

Outro ministro afirma que é difícil avaliar a conduta do juiz sem conhecer o caso de perto, pois pode haver um conjunto de elementos que só os investigadores e o juiz conhecem. Ele aponta, porém, que Lula não compareceu ao depoimento ao Ministério Público de São Paulo e também que disse à PF que só iria depor se fosse algemado.

Segundo a assessoria do Instituto Lula, o presidente foi dispensado de prestar depoimento presencialmente pela 10ª Câmara de Justiça Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo e o ex-presidente e sua mulher apresentaram ao MP-SP explicações por escrito.

No Senado, todos os discursos, da oposição e de aliados ao governo, trataram do episódio envolvendo Lula. No momento mais tenso, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) acusou a força tarefa da Lava-Jato de ter uma conduta partidarizada, proteger parlamentares da oposição, "sequestrar" o ex-presidente e estar alinhada ao que chamou de "grupelho fascista que tomou conta do país" composto segundo ele por veículos de mídia, políticos, juízes, procuradores e delegados.

"Essa força tarefa Lava-Jato está tendo uma conduta partidarizada! As 117 conduções coercitivas foram todas ilegais. Protegem tucanos, que nunca gostaram de investigação no Brasil", acusou. O tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP) esbravejou: "Fanático caluniador. Bando de fanáticos a que se reduziu o PT. Vocês são uma organização criminosa". Aos berros, Aloysio e Lindbergh trocavam acusações: "trensalão", "caluniador", "merendão", "você está sujando a tribuna", compuseram o chumbo trocado.

Líder do PSDB, Cássio Cunha Lima (PB) bateu duro em Lindbergh. "Tenha respeito à sua trajetória de cara-pintada para não se transformar em um cara-lavada", disse, lembrando a militância do petista nos protestos contra Fernando Collor de Mello.

 

Quando Lindbergh revidou, dizendo que o PSDB flertava com posições "fascistas" e figuras como o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), Cunha Lima perdeu a compostura. "Respeite a trajetória de quem lutou pela democracia. Fascista é a p***", disse, retirando o microfone à sua frente, mas ainda sendo captado pelo áudio do Senado.