Valor econômico, v. 16, n. 3955, 03/03/2016. Brasil, p. A3

Novo plano de política industrial sai no fim do mês, diz ministro

Daniel Rittner

O governo prepara o lançamento de sua nova política industrial, com foco em medidas para aumentar a produtividade no chão das fábricas, no fim deste mês. Batizado por ora de Brasil Mais Produtivo, o plano já tem orçamento definido e contará com mecanismos para a aferição de resultados, conforme explicou ao Valor o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro Neto.

Usando parceiros como o Senai e o Sebrae, que vão oferecer consultoria às empresas, o plano deverá priorizar inicialmente quatro setores: metal-mecânico, alimentos e bebidas, vestuário e moveleiro. Sem entrar em detalhes das medidas, Monteiro dá o foco geral. "O conceito é simples. Há empresas, especialmente pequenas e médias, que podem obter ganhos de produtividade muito interessantes com uma discreta melhoria de processos internos e de gestão. São questões de adaptação de lay out, racionalização de fluxos, áreas onde precisam ter um perfil mais qualificado de mão de obra", diz.

Em outra frente, que não está no âmbito específico da nova política, o governo pretende incentivar a indústria siderúrgica por meio de mais crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com base na TJLP. A ideia, segundo o ministro, é aproveitar o dinheiro recebido pelo banco como parte do acerto de contas com o Tesouro Nacional para oferecer recursos mais baratos às siderúrgicas.

"Hoje o BNDES está fazendo um mix nas linhas. Coloca alguma coisa de TJLP e alguma coisa com custo maior", afirmou o ministro. "Não vamos oferecer uma linha extraordinária com juros subsidiados, nada que tenha custo fiscal na veia, com impacto no [resultado] primário", continua Monteiro, afastando semelhanças com o Programa de Sustentação do Investimento (PSI).

Segundo ele, o que existe é uma diretriz para ter "prazos e condições interessantes" à indústria do aço, principalmente nas modalidades de crédito voltadas à exportação. "As linhas de giro que beneficiam exportações da indústria siderúrgica poderão ter condições de financiamento nas quais a posição relativa da TJLP seja maior. Não tem anúncio bombástico. Só quero dar a indicação de que trabalhamos nessa direção."

O canal exportador é justamente a via pela qual os fabricantes de aço podem superar a crise atual, acredita Monteiro. Ele vê um aparente "paradoxo" no setor: há excedente de produção no mundo, mas as vendas brasileiras ao exterior aumentaram 50,6% em volume - embora os preços tenham caído 31% - no ano passado.

Quanto à entrada de aço importado, que foi apontada pelas empresas como uma ameaça ao setor no fim do ano passado, o ministro sepultou as discussões em torno de uma eventual alta das tarifas de importação. "Está descartada", disse Monteiro.

No primeiro bimestre, as importações de aço tiveram uma queda definida pelo ministro como "impressionante": houve recuo de 66% na comparação com igual período de 2015. "O câmbio, combinado com uma certa retração [da economia], está resolvendo o problema, sem barreiras artificiais que terminam pressionando preços e criando problemas com os consumidores."

 

Monteiro prometeu, no entanto, postura firme contra práticas desleais de comércio e lembrou que, nos últimos 90 dias, foram abertas duas investigações por suposto dumping de produtores de aço da China e da Turquia.