O globo, n. 30.178, 22/03/2016. País, p. 5

PSDB e PMDB costuram governo de transição

Tucanos apoiariam Temer, que não tentaria reeleição

Por: MARIA LIMA E CRISTIANE JUNGBLUT

 

- BRASÍLIA- Um pré- acordo sobre a participação do PSDB num governo de transição, se aprovado o impeachment da presidente Dilma Rousseff, começou a ser costurado nos bastidores por integrantes das cúpulas peemedebista e tucana. Segundo senadores dos dois partidos, o presidente do PSDB, Aécio Neves ( MG), foi ontem a São Paulo para se encontrar com o vice- presidente Michel Temer. Seria a primeira conversa dos dois desde o agravamento da crise política.

Senadores tucanos e peemedebistas trabalham no acordo, que incluiria o presidente do Senado, Renan Calheiros ( AL). Por essas tratativas, o PSDB participaria de um governo Temer; em contrapartida, o PMDB apoiaria o fim da reeleição, deixando o caminho livre para o PSDB em 2018.

— Conversamos na semana passada, e o Aécio ficou de conversar hoje ( ontem) com Michel. Eles querem um acordo com o PMDB. Apoiam o Michel, participam do seu governo, se tiver o impeachment, com uma condição: ele extinguir a reeleição. Assim, Michel não pode concorrer à reeleição, e 2018 fica com eles — disse um senador peemedebista que conversou com os tucanos semana passada.

Temer, porém, não quer se expor neste momento. Ontem, divulgou nota oficial para reafirmar que “não tem porta- voz, não discute cenários políticos para futuro governo e não delegou a ninguém anúncio de decisões sobre sua vida pública”.

Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, o senador José Serra ( PSDB- SP) disse que Temer deve assumir compromissos com a oposição, se a presidente Dilma for afastada do cargo. Em resposta ao tucano, Temer disse que, quando tiver que anunciar algum posicionamento, “ele mesmo o fará, sem intermediários”.

Apesar da cautela do vice, nem tucanos nem peemedebistas querem esperar o dia 29 ( data da convenção do PMDB em que deverá ser selado o rompimento do partido com o governo), ou a aprovação do impeachment para começar a estruturar um governo de união nacional e de transição.

— Não dá para esperar. Dilma vai cair logo, e é preciso saber o que colocar no lugar — explicou um senador tucano.

Segundo um senador tucano, Aécio mudou de ideia em relação ao impeachment diante do agravamento da crise.

— Aécio era contra o impeachment, mas agora está se rendendo a esse fato irremediável.

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Temer evita reaproximação tentada por Dilma e Lula

Vice só deverá encontrá- los após partido decidir se fica no governo

Por: Maria Lima e Cristiane Jungblut

 

- BRASÍLIA- Se o ex- presidente Lula e a presidente Dilma Rouseff pretendem se reaproximar do vice- presidente Michel Temer, para barrar a aprovação do impeachment, vão procurá- lo em vão. A ordem na cúpula do PMDB é que Temer continue “em lugar incerto e não sabido” e só volte a conversar com Lula e Dilma após o dia 29, quando o PMDB oficializará o rompimento com o governo, arrastando outras siglas da base.

— A chance de haver essa reaproximação com Dilma e Lula é zero. Temer está em lugar incerto e não sabido, quem o procura não está achando. E vai continuar assim até o dia 29 — diz uma fonte do PMDB.

Embora senadores da oposição estejam conversando com os senadores Romero Jucá ( PMDB- RR), Eunício Oliveira ( PMDB- CE) e o presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), para articular o impeachment, Temer não quer se envolver com o Planalto e o processo no Congresso.

Na cúpula do partido houve irritação com entrevista do senador José Serra ( PSDB- SP) ao “Estado de S. Paulo”, publicada ontem, na qual o tucano diz que o vice deve assumir compromissos com a oposição, se Dilma for afastada do cargo. Para Serra, Temer deve se comprometer a não disputar a reeleição, nem interferir nas eleições municipais deste ano.

— Os senadores estão conversando entre eles, mas Temer tem que ser preservar como um todo. Até para não dar abertura para manifestações como a de Serra. O que aconteceu foi bem chato, não foi bom para ninguém, e ele arrumou confusão até dentro do PSDB — reagiu um peemedebista.

 

POSIÇÃO CONJUNTA DE MINISTROS

Na tentativa de evitar uma divisão, os ministros do PMDB decidiram aguardar a definição do partido sobre a permanência no governo, dia 29, para tomar uma posição conjunta sobre a entrega de de seus cargos. Um consenso não será fácil. A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, que não foi ao encontro, ontem disse no Twitter que continuará defendendo Dilma.

“Continuarei escrevendo que acredito na honestidade da presidente Dilma. Até que me provem o contrário. Pedalada não é argumento”, escreveu Kátia em sua conta no Twitter.

Além de Kátia, Eduardo Braga ( Minas e Energia) e Henrique Eduardo Alves ( Turismo) resistiram à ideia de sair do governo. O PMDB tem ainda mais quatro ministros: Marcelo Castro ( Saúde), Celso Pansera ( Ciência e Tecnologia), Helder Barbalho ( Portos), e Mauro Lopes ( Aviação Civil). ( Maria Lima e Cristiane Jungblut)

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