O globo, n. 30.176, 20/03/2016. País, p. 5

Presença de Lula na Casa Civil gera ‘efeito garçom’

Nas poucas horas em que o petista despachou, auxiliares e servidores disputaram para atender ex-presidente

Por: Catarina Alencastro, Simone Iglesias e Eduardo Barretto

 

-BRASÍLIA- Considerada uma presidência dentro da Presidência, a Casa Civil é por onde passam todos os assuntos do governo. Ainda que em suspenso, a chegada do ex-presidente Lula ao quarto andar do Palácio do Planalto já começou a mexer com as emoções e com a autoestima de quem deve trabalhar diretamente com ele. É o chamado “efeito garçom”, como têm brincado alguns servidores do local. Embora ele só tenha despachado na Casa Civil por algumas horas, logo após a posse na última quintafeira, a breve passagem do líder petista causou comoção. Por outro lado, a área passou a contar com regras mais rígidas de circulação, para desgosto dos jornalistas que cobrem a Presidência, e entre os servidores há quem fique desconfiado com a possibilidade de o ex-presidente se sobrepôr a Dilma Rousseff.

— As secretárias se apressam para atendê-lo. Os garçons disputam para levar café para ele. Tem assessor de alto escalão que está tirando onda por estar trabalhando com ele — relata um servidor da Casa Civil.

Se a Justiça autorizar, Lula monopolizará o quarto andar do Planalto, onde deverá concentrar seu núcleo político. Nas cerca de três horas em que despachou após empossado, o ex-presidente convocou os três sub-chefes da Casa Civil (Assuntos Jurídicos; Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais; e Articulação e Monitoramento) para conhecê-los e ouvir quais tarefas cada um está tocando.

— Porra, mas aqui tem chefe pra caralho — brincou Lula, ao ser apresentado aos servidores.

Ao fim do encontro, avisou que pretende manter toda a equipe e que só deverá trazer duas ou três pessoas próximas para o ajudar no gabinete.

Há quem avalie que, com Lula e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) no quarto andar e Jaques Wagner no terceiro, o trio petista estaria fazendo uma “interdição branca" em Dilma, que passará a ter atuação limitada.

— Todo mundo sabe que o grande problema do governo é a articulação política. E ele veio para tocar isso — resume um auxiliar da presidente.