Título: Saúde precisa melhorar desde a prevenção
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Fonte: Correio Braziliense, 04/10/2011, Opinião, p. 14

Alarma o fato de o Distrito Federal ter registrado, em 2010, uma morte por infarto ou acidente vascular cerebral (AVC) a cada oito horas, contando somente as ocorridas em ambiente hospitalar. Alarma mais ainda saber que a situação se agrava em 2011, com 10% de óbitos a mais no primeiro semestre, em relação ao mesmo período do ano passado. Ressalve-se que ambas as doenças, mesmo quando não são fatais, podem deixar graves sequelas, incluindo a incapacitação de indivíduos, com consequências sociais, econômicas e financeiras, seja nos gastos públicos e particulares com tratamentos, seja no comprometimento das rendas familiares.

Os fatores de risco mais importantes são amplamente conhecidos. Dois anos atrás, pesquisa Datafolha já mostrava que 90% da população eram capazes de identificá-los. Mas faltava à maioria a noção exata da gravidade dessas doenças. A preocupação predominante, por exemplo, era com o câncer, responsável por 15% das mortes no país em 2008, contra 30% das causadas pelos males cardiovasculares. Está aí um lapso de conhecimento literalmente fatal. Mais bem informadas, as pessoas poderiam se prevenir melhor, regulando o colesterol, a pressão arterial e o nível de estresse, atentando-se para o histórico familiar, combatendo o sedentarismo, o tabagismo e o consumo excessivo de álcool, evitando o diabetes.

Em suma, uma vida saudável é o melhor caminho da prevenção. Saber identificar os sinais de infarto e AVC, outro ganho significativo que a sociedade pode adquirir com ampla e persistente campanha de divulgação. Na sequência, o Estado entraria com eficiente serviço de atenção primária à saúde, com acompanhamento regular dos doentes crônicos. Mas a notícia sobre o aumento do número de mortes no DF, publicada ontem pelo Correio, mostra que as falhas chegam à ponta extrema.

Basta uma informação para se constatar quão estarrecedor é o despreparo do sistema público de saúde: dos 13 hospitais distritais, apenas três (o de Base, o Regional do Gama e o Regional de Taguatinga) têm atendimento cardiológico 24 horas. Ou seja, sem poder programar o próprio infarto, o cidadão é obrigado a contar com a sorte de chegar à unidade mais próxima na hora do plantão.

Por trás da falta de quadros, outra grave realidade: salários baixos (R$ 7,5 mil mensais) e más condições de trabalho afastam os médicos da rede oficial. Dos profissionais aprovados no último concurso, 60% dispensaram os cargos. Assumiram os postos apenas 118 de 279 selecionados. Há preferência por contratos temporários, que não asseguram benefícios mas garantem remuneração equivalente a praticamente o dobro: R$ 14 mil por 40 horas semanais. Grandes e urgentes, os desafios não são exclusividade brasiliense. A preocupação é global, com potencial de epidemia. Tanto que as Nações Unidas preparam recomendações e definem metas ¿ a serem implementadas a partir do próximo ano ¿ para o controle das doenças crônicas não transmissíveis.