O globo, n. 30.173, 17/03/2016. País, p. 5

Dilma nega obstrução e diz que vai à Justiça

Em nota, presidente afirma que enviou termo de posse porque Lula poderia não comparecer ao evento

- BRASÍLIA E SÃO PAULO- A presidente Dilma Rousseff emitiu na noite de ontem uma nota repudiando a divulgação de conversas entre ela e o ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A presidente afirma no texto, assinado pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência, que pediu para Lula assinar o termo de posse diante da dúvida de que o petista poderia comparecer à cerimônia marcada para hoje, quando outros ministros também serão empossados, refutando a tese de que o objetivo seria evitar uma eventual ordem de prisão. A nota diz que medidas judiciais e administrativas serão tomadas por afronta aos direitos e violação à lei e à Constituição.

GILVADO BARBOSA/ 03- 03- 2016Repercussão. Ministro Jaques Wagner disse considerar “uma arbitrariedade” o grampo da gravação de Dilma e Lula

“Uma vez que o novo ministro, Luiz Inácio Lula da Silva, não sabia ainda se compareceria à cerimônia de posse coletiva, a Presidenta da República encaminhou para sua assinatura o devido termo de posse. Este só seria utilizado caso confirmada a ausência do ministro”, diz o texto.

O ministro Jaques Wagner, por meio de sua assessoria de imprensa, também condenou o vazamento da conversa grampeada do telefone do ex- presidente Lula.

“Sempre apoiei as investigações, mas vazamento de conversa com a presidenta da República extrapolou os limites e a segurança dela” , disse.

Segundo Wagner, os diálogos estão sendo interpretados fora do contexto para criar fato político negativo. Ele usou o mesmo argumento da presidente sobre a posse.

Num dos trechos divulgados ontem, Lula fala com Jaques Wagner sobre a ministra do STF Rosa Weber. Ela era responsável por analisar o pedido de suspensão das investigações do tríplex no Guarujá e do sítio em Atibaia. Lula solicita a Wagner que converse com Dilma sobre o “negócio da Rosa Weber”. Wagner rebateu qualquer insinuação, destacando que Lula apenas lhe solicitou que transmitisse uma mensagem a Dilma.

“Achei uma arbitrariedade. Não se pode violar e interceptar o telefone da presidenta da República”, disse Wagner.

O advogado do ex- presidente Lula, Cristiano Zanin Martins, afirmou que a decisão do juiz Sérgio Moro de retirar o sigilo das interceptações telefônicas envolvendo o petista foi uma arbitrariedade.

— O que ocorreu hoje foi uma arbitrariedade muito grande. Um grampo envolvendo uma presidente é muito grave. Esse ato está estimulando uma convulsão social e isso não é papel do Poder Judiciário.

O advogado negou que o ex- presidente tenha tentado obstruir a Justiça. De acordo com Martins, a competência de julgar Lula seria do Supremo Tribunal Federal, devido ao foro privilegiado do petista. Além disso, não se poderia falar de obstrução, segundo ele, uma vez que o expresidente não é réu em nenhuma ação, mas apenas investigado. Martins não quis fazer declarações sobre o conteúdo das gravações.

— A minha posição é apenas que este grampo envolvendo uma presidenta ser divulgado hoje, quando já não existe competência, revela uma finalidade que não é a processual. A arbitrariedade independe do conteúdo.

O líder do governo no Congresso, o senador José Pimentel ( PT- CE), criticou o juiz Sérgio Moro. Ele fez um discurso em Plenário, afirmando que o momento era de “extrema gravidade”.

— Por achar que é preciso fazer um atalho para chegar à Presidência, resolvem apoiar um ditador que não respeita a legislação brasileira, que é o que é o juiz federal Sérgio Moro. No Brasil, um juizinho de primeira instância acha que é o dono da verdade — atacou Pimentel.

O deputado Wadih Damous ( PT- RJ) disse que o vazamento do áudio “passou de todos os limites”:

— Essa investigação é toda feita de ilações, e já que o juiz não pode fazer ilações, ele se preserva e vaza para vocês da imprensa, para vocês fazerem as ilações. — criticou Damous. ( Catarina Alencastro, Cristiane Jungublut, Letícia Fernandes, Isabel Braga e Dimitrius Dantas)