O globo, n. 30.171, 15/03/2016. Economia, p. 18

Governo reduz juros de crédito via fundos do Norte e Nordeste

Objetivo é aliviar impactos da recessão. Medidas terão custo fiscal

Por: MARTHA BECK E BÁRBARA NASCIMENTO

 

- BRASÍLIA- O governo anunciou, ontem, mais uma medida para tentar aliviar os efeitos da recessão. Foram reduzidas, até 31 de dezembro, as taxas de juros dos empréstimos concedidos com recursos dos fundos constitucionais do Nordeste ( FNE), do Norte ( FNO) e do Centro- Oeste ( FCO). Para empréstimos destinados a investimentos de empreendedores com receita bruta anual de até R$ 90 milhões, por exemplo, a taxa de juros caiu 11,18% para 9,5% ao ano. Os financiamentos concedidos com recursos desses fundos são feitos via Banco do Brasil, Banco da Amazônia ( Basa) e Banco do Nordeste ( BNB) e se destinam a diversos setores, entre eles, agricultura, infraestrutura, comércio e serviços.

A redução nas taxas de juros vai diminuir o patrimônio líquido desses fundos constitucionais e, consequentemente, levar a uma queda na contribuição que eles dão para o superávit fiscal primário ( economia para o pagamento de juros da dívida pública) da União. Pelos cálculos do Ministério da Fazenda, somente este ano o impacto será de R$ 267,6 milhões.

A medida terá reflexos sobre o esforço fiscal até 2019. Em 2017, o impacto será de R$ 312,2 milhões. Em 2018, de R$ 219,8 milhões, e, em 2019, de 136,9 milhões. Ainda de acordo com o Ministério da Fazenda, a redução no patrimônio líquido dos três fundos será de R$ 1,8 bilhão. A diminuição das taxas foi aprovada pelo Conselho Monetário Nacional ( CMN) na última sexta- feira.

O secretário- executivo adjunto da Fazenda, Esteves Colnago, defendeu a medida como uma forma de estimular a economia. Segundo ele, embora tenha impacto negativo sobre as contas públicas, ela faz parte de um esforço para estabilizar o PIB ( Produto Interno Bruto), que caiu 3,8% em 2015. Colnago destacou que, sem crescimento econômico, o governo perde arrecadação e não consegue fazer superávit primário.

— O que a gente precisa é estabilizar a economia, para ela parar de cair e voltar a crescer. Não consigo fazer um primário se a economia cai. Ela está caindo numa velocidade considerável. Eu preciso estabilizar para ter como arrecadar. Essa medida gera mais benefícios do que malefícios — disse o secretário.

Colnago negou que a atual equipe da Fazenda esteja realizando uma guinada na política econômica:

— Não acho que há uma guinada nas medidas de austeridade. O governo tem a agenda da reforma da Previdência e da reforma fiscal. O que está se buscando ( agora) são formas de estabilizar a economia para que ela volte a crescer. Não tem como atingirmos os resultados prometidos sem isso.

A meta de superávit primário da União fixada para 2016 é de R$ 24 bilhões. No entanto, o governo já anunciou que vai pedir ao Congresso autorização para abater desse resultado o equivalente a R$ 84,2 bilhões com frustração de receitas e aumentos de gastos. Assim, na prática, isso fará com que o resultado final do ano possa chegar a um déficit pr imár io de R$ 60,2 bilhões.

O CMN também aprovou, no fim da semana passada, uma redução dos encargos financeiros para as operações realizadas com recursos do Fundo de Desenvolvimento da Amazônia ( FDA), do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste ( FDNE) e do Fundo de Desenvolvimento do Centro Oeste ( FDCO). Neste caso, no entanto, não haverá custo adicional para o Tesouro, e, portanto, a medida não tem efeito sobre o resultado fiscal.

 

Números

 

9,5%

DE JUROS

É a nova taxa para quem tem receita bruta anual de até R$ 90 milhões. Antes, a taxa era de 11,18%.

 

R$ 267,6

MILHÕES

É o impacto fiscal das medidas este ano