O globo, n. 30.171, 15/03/2016. País, p. 8
Mulher de João Santana decide fazer delação
Por: Thiago Herdy/ Renato Onofre
A mudança na estratégia de defesa foi formalizada ontem, com a contratação de um criminalista com experiência em delação para defendê- la.
A hipótese vinha sendo estudada por Mônica há duas semanas, apesar da oposição do marido. Os advogados tentaram manter estratégia de defesa única para o casal, opção que se tornou insustentável com a decisão da mulher de Santana.
PAGAMENTOS DA ODEBRECHT
Um dos interesses da força- tarefa é esclarecer como teriam sido operacionalizados pagamentos da Odebrecht para o marqueteiro no Brasil. Planilhas localizadas pelos investigadores com funcionários da Odebrecht indicam a realização de pagamentos de pelo menos R$ 21,5 milhões para “Feira”, que a PF acredita ser uma referência a João Santana. Os pagamentos ocorreram durante a eleição de 2014, quando o marqueteiro respondia pela campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Em depoimentos, Santana e Moura admitiram apenas o recebimento de caixa dois de campanhas eleitorais referentes a trabalhos para clientes estrangeiros, e não no Brasil. O casal alega que todo pagamento recebido como caixa 2 é referente a serviços prestados para campanhas. Os repasses por vias “não oficiais”, no exterior e no Brasil, seriam motivados pelo desejo dos financiadores de não serem constrangidos publicamente por apoiar com mais recursos uma candidatura específica.
Oficialmente, os advogados negam que a mudança na estratégia de defesa seja motivada pela possibilidade de acordo com a força- tarefa.
— Decidimos separar as defesas, porque eram muito diferentes as funções de cada um dentro da empresa. João sempre foi de criação e Mônica, do financeiro — afirmou o criminalista Fabio Tofic Simantob.
O criminalista segue representando o marqueteiro das campanhas da presidente Dilma e do ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, enquanto a defesa de Mônica começou a ser feita pelo advogado Juliano Campelo Prestes.
— Assumimos hoje o caso da Mônica. Ainda não tivemos uma conversa sobre a estratégia de defesa — afirmou Prestes.
Os dois advogados se encontraram ontem em Curitiba e conversaram por meia hora com o casal na carceragem da Polícia Federal, onde estão presos desde 23 de fevereiro. Eles são acusados de receber ao menos US$ 7,5 milhões da construtora Odebrecht e do operador de propina da Petrobras Zwi Skornicki.
Prestes foi o responsável pelo acordo do lobista Milton Pascowitch, ligado ao ex- ministro da Casa Civil José Dirceu. Ele disse ser cedo para falar em delação.
— Ainda é cedo para falar em estratégia. Vamos analisar as possibilidades — afirmou. (* Enviado especial a Curitiba)
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O ex- deputado Pedro Corrêa, que foi presidente do PP, assinou acordo de colaboração premiada com o Ministério Publico Federal em Curitiba na semana passada e vai começar a prestar depoimentos a procuradores da Operação Lava-Jato. A delação ainda precisa ser homologada pela Justiça.
Corrêa é o segundo político que decide entregar o que sabe em troca de possível redução de pena. O primeiro foi o senador Delcídio Amaral ( PT- MS), que firmou acordo com a Procuradoria Geral da República.
No acordo de delação, Pedro Corrêa relatou encontros com o ex- presidente Lula. De acordo com reportagem da revista “Época”, Lula dizia que Paulo Roberto Costa, ex- diretor da Petrobras, estava atendendo bem o PT. Por meio de nota, o Instituto Lula informou que não comentará o caso. “O Instituto Lula não comenta falatórios. Quem quiser levantar suspeitas em relação ao ex- presidente Lula que o faça diretamente e apresente provas, ou não merecerá resposta.”
Na delação, Corrêa também citou interferência direta de Lula na Petrobras. Ele informou que, entre 2010 e 2011, foi com o ex- deputado do PP João Pizzolati ao escritório de advocacia de Luiz Eduardo Greenhalgh, petista próximo a Lula. Lá, eles teriam encontrado Marcos Valério, operador do mensalão, e mais um empresário de quem Corrêa não recorda o nome.
Greenhalgh, Valério e o empresário teriam pedido a Corrêa e Pizzolati ajuda para fechar uma operação de compra e venda de petróleo com a diretoria de Abastecimento da Petrobras, então sob o comando de Paulo Roberto Costa, investigado na Lava- Jato.
Pela versão de Corrêa, Costa negou. Mas, segundo ele, meses depois o negócio foi fechado. Corrêa conta que isso ocorreu porque Lula interferiu para que a transação saísse. ( Do G1)