O globo, n. 30174, 18/03/2016. País, p. 10

‘OCCUPY’ NA PAULISTA E NO CONGRESSO

Manifestantes resolvem acampar em São Paulo e Brasília; houve protestos em pelo menos 21 estados
 

 

O dia mal havia começado, e as manifestações pipocavam em várias partes do país. Na Avenida Paulista, no coração de São Paulo, os protestos para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff começaram ainda na noite de quarta- feira, permaneceram durante todo o dia, completaram 24 horas no fim do dia e seguiram noite a dentro. Barracas foram montadas no meio da rua, e as pessoas não pensavam em arredar o pé do local. Ao entardecer, manifestantes foram ao Congresso Nacional, em Brasília, e mostraram a disposição de permanecer “em vigília” no gramado em torno da Câmara dos Deputados e o Senado. No começo da noite, houve confusão, e a polícia usou bombas de gás para dispersar os manifestantes. Não adiantou. Logo depois, eles voltaram ao local. Mais tarde, PMS chegaram a bater continência para os manifestantes.

Outras capitais também registraram protestos espontâneos contra o governo. No Rio de Janeiro, por volta das 20h, manifestantes ocuparam uma pista da Praia de Botafogo e carregaram uma bandeira que pedia o impeachment. Eles caminharam em direção a Copacabana, onde cerca de 500 pessoas se reuniram. Em Belo Horizonte, no mesmo horário, entre três e quatro mil pessoas fizeram uma passeata até a Savassi, depois de passar pela Avenida Cristóvão Colombo.

Ao longo do dia, houve protestos contra e a favor do governo em pelo menos 21 estados e no Distrito Federal. Ânimos exaltados puderam ser registrados, por exemplo, no fim da manhã, quando manifestantes a favor do governo se postaram à frente do Palácio do Planalto, durante a posse do ex- presidente Luiz Inácio Lula da Silva como ministro da Casa Civil, que acabou suspensa minutos depois por uma liminar judicial. A 200 metros, pessoas contrárias ao governo trocavam ofensas com apoiadores do PT. Um cordão da polícia isolou os dois grupos.

Em São Paulo, o secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, chegou a ser expulso pelos manifestantes da Avenida Paulista, ao pedir que liberassem a via. Os mesmos manifestantes tiveram um almoço, com direito a picadinho de filé mignon, servido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. A gentileza, explicou a Fiesp, é porque os dirigentes do movimento são parceiros da entidade “em atos pró- impeachment”.

Hoje, a preocupação é a permanência do grupo que ocupa a Avenida Paulista, porque que há um protesto pró- governo marcado para o mesmo local. Movimentos a favor do ex- presidente Lula pretendem reunir entre 100 mil e 150 mil pessoas no ato e prometem que o próprio Lula, estará no palanque principal. Ontem, os líderes cobraram do secretário Moraes que os manifestantes que pedem o impeachment sejam retirados da avenida.

A secretaria determinou que eles saíssem até as 21h, mas permaneceram lá e nada foi feito para liberar o trânsito. A situação é bem diferente do que ocorreu no início do ano, quando atos contra o aumento da tarifa do transporte público foram dispersados à força pela Polícia Militar. Centrais sindicais e movimentos sociais também marcaram mobilizações a favor do governo em outras 46 cidades. ( Bruno Góes, Alessandro Giannini, Stella Borges, Luiza Souto, Renata Mariz, Lauro Neto e Renan Xavier).

 

UM DIA NAS RUAS DO PAÍS
 

Insistência. Manifestantes passaram a noite na Av. Paulista protestando contra o governo e a favor do impeachment

 

0h

Madrugada na Paulista
Grupo de manifestantes passa a noite de quarta para quinta- feira, na Avenida Paulista, em protesto contra o governo. Ao longo do dia, eles montam barracas para acampar no local.

Casa de Lula

Em São Bernardo do Campo, no Grande ABC, um grupo de sindicalistas permanece a noite toda em frente ao prédio onde mora o ex- presidente Lula, numa manifestação de apoio ao ex- presidente. A Polícia Militar informou que 700 pessoas participaram.

 

0h30m

Ataque à CUT
Um grupo ameaça atear fogo na sede do PT, em Curitiba. A confusão começa por volta das 0h30. Logo depois, a sede da Central Única dos Trabalhadores ( CUT), em Curitiba, também é alvo de vândalos. Segundo a polícia, a porta foi arrombada e o prédio, apedrejado.
Pichação em sede do PSDB
A sede do diretório do PSDB, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, é pichado na madrugada, com a frase “Não vai ter golpe”. A informação foi divulgada pelo partido que tem sua sede a cerca de 500 metros do apartamento do ex- presidente Lula.

 

8h

Mais gente na Paulista

Cresce o número de manifestantes no protesto da Avenida Paulista.
 

 

9h

Defesa do governo

A CUT faz uma manifestação no centro de Curitiba em defesa do ex- presidente Lula e contra o governador do Paraná, Beto Richa ( PSDB). O protesto acontece na praça Santos Andrade, palco da manifestação contra o PT e a favor do juiz Sérgio Moro, no último domingo. No lugar da tradicional camisa vermelha, cor do PT e da CUT, os manifestantes vestem branco.

 

10h40m

'Vergonha'
Em Brasília, antes de a presidente Dilma iniciar seu discurso, na solenidade de posse do novos ministros , entre eles Lula, o deputado Major Olímpio ( Solidariedade- SP) grita "vergonha". É retirado por seguranças e vaiado pelos governistas. Aliados da presidente puxam coro contra a imprensa. Enquanto isso, ' panelaços' ocorrem no Rio e em São Paulo.

 

11h40m

Tensão no Planalto
O clima fica tenso em frente ao Palácio do Planalto, logo após a decisão da Justiça que impediu a posse de Lula como ministro. A Polícia Militar do Distrito Federal agiu para separar manifestantes favoráveis e contrários à posse do ex- presidente. A polícia evita que os dois grupos se encontrem.

 

Comemoração
Na Avenida Paulista, os manifestantes comemoraram a suspensão da nomeação de Lula como ministro da Casa Civil. "Lula, ladrão, seu lugar é na prisão" e "O povo, unido, jamais será vencido" são os gritos de guerra mais ouvidos.

 

13h

Secretário escoltado

Na Avenida Paulista, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, é vaiado e precisou ser escoltado pela polícia depois de pedir que os manifestantes deixem a avenida, por causa do ato convocado para hoje pelo PT e organizações de esquerda.

 

13h30m

Almoço grátis
A Fiesp serve almoço para manifestantes contrários ao governo, concentrados na Avenida Paulista. No cardápio, purê de batata, picadinho de filé mignon e massa, a mesma comida servida no restaurante aos dirigentes da Federação. A Fiesp explica que ofereceu almoço para lideranças de movimentos que participam de reuniões na entidade na condição de parceiros em atos pró- impeachment.

 

14h

Reação do STF
No plenário do Supremo Tribunal Federal, o mais antigo integrante da Corte, ministro Celso de Mello, faz um discurso ferrenho em defesa do STF. Isso porque, numa uma das escutas telefônica, Lula disse que o Supremo estava “acovardado”. “Condutas criminosas perpetradas à sombra do poder jamais serão toleradas, e os agentes que as houverem praticado, posicionados, ou não, nas culminâncias da hierarquia governamental, serão punidos na exata medida e na justa extensão de sua responsabilidade criminal”, avisa o ministro.

 

14h30m

Juízes apoiam Moro
Em Curitiba, o coordenador da força- tarefa da Lava- Jato, procurador Deltan Dallagnol, diz que “o Ministério Público brasileiro e a Justiça não se amedrontarão e darão fiel cumprimento à Constituição e às leis”. Ele participou do ato a favor do juiz Sérgio Moro, comandado por juízes federais e procuradores de todo país. Dallagnol lê manifesto explicando que “os procuradores da República do caso Lava- Jato têm dever de esclarecer que as interceptações telefônicas foram legalmente determinadas pelo juiz da 13 ª Vara Federal da Justiça de Curitiba”.

 

16h

Na Câmara
Numa sessão tensa, Câmara elege, por 433 votos sim e apenas um contrário, a comissão especial do impeachment da presidente Dilma Rousseff, enquanto parlamentares da oposição seguram cartazes vermelhos com as palavras “Impeachment Já”. Aliados do governo revidam gritando: “golpistas”. Há provocações dos dois lados, bate- boca e empurra- empurra.

 

18h

Manifestações se espalham
No fim da tarde, já há manifestações contra e a favor de Dilma e Lula em pelo menos 21 estados e no Distrito Federal.

 

18h15m

24h na Paulista
A Avenida Paulista completa 24 horas de interdição nos dois sentidos por causa da manifestação contra a nomeação do ex- presidente Lula como ministro da Casa Civil. De acordo com a PM, protesto começou às 18h15 da quarta- feira. Até a noite de ontem, os manifestantes permaneciam no local.

 

19h

Pressão no Congresso
Manifestantes cercam o Congresso Nacional e pedem o impeachment da presidente Dilma Rousseff. O número de manifestantes vai aumentando e por volta das 20h, já passam de 8 mil, segundo a PM. Bombas de gás são usadas pela polícia para dispersar os manifestantes, mas o protest o continua.

 

20h

Mais cidades
Manifestantes contrários ao governo e ao ex- presidente Lula continuam indo para as Ruas. Em Belo Horizonte, há protestos na Savassi e no Rio, um grupo se reúne em Botafogo, Zona Sul da cidade.

Continência

Em Brasília, policiais batem continência para manifestantes contrários ao governo.

 

21h30m

Ato em escola de Direito
Em ato na Faculdade de Direito da USP, no Centro de São Paulo, público grita palavras de ordem como “Moro na Cadeia”, contra o juiz federal. Todos os juristas presentes no ato afirmam que a intercepção telefônica não está prevista na lei.

 

Hoje

Defensores de Lula prometem 150 mil
Movimentos a favor do ex- presidente Lula da Silva pretendem reunir entre 100 mil e 150 mil pessoas na Avenida Paulista, nesta sexta- feira.

Ex- presidente no palco

Está prevista a participação de Lula no palco principal dos protestos

Mais 46 cidades

Centrais sindicais e movimentos sociais favoráveis a Lula e Dilma também marcaram mobilizações hoje em outras 46 cidades do Brasil