JOÃO SORIMA NETO, ANA PAULA RIBEIRO,
DANIELLE NOGUEIRA, GERALDA E
DOCA ELIANE OLIVEIRA
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-SÃO PAULO, RIO E BRASÍLIA- Empresários de diferente setores, da indústria ao varejo, defenderam abertamente ontem o impeachment da presidente Dilma Rousseff. A posição mais incisiva veio das federações das indústrias, Fiesp e Firjan, que, em um movimento coordenado, afirmaram que vão pressionar parlamentares para retirar Dilma do poder. A percepção é a de que o aprofundamento da crise política provocou uma paralisia na economia e, sem a mudança de governo, dificilmente o Brasil retomará a rota do crescimento.
A decisão da Fiesp foi tomada após reunião com 86 representantes de associações, federações e sindicatos da agricultura, do comércio, dos serviços e da indústria na sede da entidade, em São Paulo, para debater o agravamento da crise política. A instituição publicou ontem em alguns dos principais jornais do país anúncio de página inteira pedindo “Renúncia Já” da presidente Dilma.
— Já que ela não renunciou, como pedimos, nossa bandeira, a partir de agora, passa a ser o impeachment. Não tem cabimento o Brasil continuar à deriva. Há um descontrole total, e o governo não está se preocupando com as empresas, com o desemprego, mas apenas em se manter no poder — afirmou Skaf, que é filiado ao PMDB e foi candidato a governador de São Paulo nas últimas eleições.
A Fiesp participou de videoconferência ontem com federações de cinco estados, incluindo a Firjan, na qual as instituições discutiram como vão se articular para obter suporte no Congresso. E, diante das manifestações populares dos últimos dias, a posição das entidades empresariais foi unânime em favor do impeachment.
— Vamos nos concentrar no Congresso Nacional, a partir da semana que vem. Os parlamentares que não devem favores e estão pensando no povo deverão votar a favor do impeachment — disse Skaf, para quem o processo do impedimento da presidente estará aberto em 35 dias.
‘NÃO SOBRARIA MUITA COISA EM 2018’
Para Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan, é hora de dar um basta:
— Ficou patente que não aguentamos mais. Queremos um basta. E um basta se dá através do impeachment. Repudiamos a postura de membros do governo usando seu status contra o Estado brasileiro. O que vimos ontem ( quarta- feira) é escandaloso — afirmou, referindo- se à gravação telefônica em que Dilma e Lula discutem o termo de posse de ministro.
Na avaliação do presidente da Riachuelo, Flavio Rocha, o atual governo não tem credibilidade para conduzir o país a uma retomada da economia e, por isso, a única saída seria a renúncia ou o impeachment de Dilma. Ele defende que o vice- presidente Michel Temer ( PMDB) assuma a Presidência da República.
— O pior cenário seriam mais 30 meses de um transatlântico completamente à deriva. Na velocidade em que a coisa está se esfarelando, não sobraria muita coisa para reerguer em 2018. Teremos que encerrar esse ciclo agora — disse o executivo, que apoiou as manifestações do último domingo. — Não se pode colocar a culpa da crise econômica na política. Foi o Palácio do Planalto que boicotou o ajuste fiscal. Eram medidas duras, impopulares.
O que mais preocupa os empresários é o clima de incerteza, que provoca paralisia da economia.
— A cada dia somos surpreendidos. Nós nos perguntamos qual será a delação da vez. O que precisamos, agora, é de tranquilidade para tocar os negócios e acender uma vela para o dólar baixar — disse um executivo do setor aéreo.
PARA CNI, ‘ ESPETÁCULO DEPRIMENTE’
Em nota, o presidente da Confederação Nacional da Indústria ( CNI), Robson Andrade, pediu o restabelecimento da governabilidade: “Ninguém aguenta mais assistir ao espetáculo deprimente em que se transformou a política brasileira. Já passou a hora de, com respeito aos ditames da lei e da Constituição, darmos um basta a esse impasse para que o país possa retomar o rumo”.
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção ( Cbic) cobrou coragem e responsabilidade das instituições. “O que não podemos é continuar parados, quando milhares de famílias ficam sem sustento todos os dias”, disse o presidente da Cbic, José Carlos Martins.
— A incerteza atrapalha o dia a dia do negócio — disse o vice- presidente da construtora RJZ/ Cyrela, Rogério Zylbersztajn.
“Já que ela não renunciou, como pedimos, nossa bandeira passa a ser o impeachment”
Paulo Skaf
Presidente da Fiesp
“Repudiamos a postura de membros do governo usando seu status contra o Estado brasileiro”
Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira
Presidente da Firjan