O globo, n. 30177, 21/03/2015. País, p. 4

ENTREVISTA - Renato Janine Ribeiro

Por: Alessandro Giannini
 
‘ A chance de o PT ser favorito em 2018 é pequena’
 
Ex- ministro da Educação da presidente Dilma, o filósofo Renato Janine Ribeiro avalia que o maior problema do governo está na economia e que as reclamações políticas são pouco elaboradas
 
 
ALESSANDRO GIANNINI
alessandro.giannini@sp.oglobo.com.br
 
Como o senhor avalia a situação do governo, hoje?

O grande fator da crise que estamos vivendo é econômico. É o fato de que, a partir de um certo momento, a economia passou a fraquejar. A partir do final de 2014, período da eleição presidencial, o enfraquecimento não teve volta. É o principal fator que rege a política brasileira. Quando você tem prosperidade, os governantes são populares; quando não tem, eles são impopulares. No caso dos mais pobres, está ligado à existência de crédito na praça. Quando se tem crédito para comprar a prazo, a popularidade do governante aumenta mais entre os mais pobres; quando não tem, recua. O problema do governo é que o país está numa crise econômica da qual não sabe como sair.

 

Mas não dá para ignorar que a questão política tem ajudado a fragilizar ainda mais o governo.

Em cima dessa questão econômica, que torna o governo impopular, colam- se reclamações políticas. Mas essas reclamações políticas, eu lamento dizer, no caso do Brasil, são muito pouco elaboradas. O país tem, desde pelo menos Gregório de Matos ( 1636- 1696), no período colonial, o hábito de usar um único grande argumento contra o governo, a corrupção. Questões que tenham a ver ou com má gestão ou com más opções não são entendidas assim pela sociedade, são traduzidas como corrupção. Passa- se, assim, a uma crítica muito forte a uma pessoa que os adversários têm reconhecido como honesta, que é a presidente Dilma Rousseff. E perde- se de vista a construção de um projeto para o Brasil. Precisamos hoje de um projeto que passe por pelo menos dois grandes pontos: retomada do crescimento econômico e inclusão social.

 

Quem poderia assumir esse projeto, hoje ou em 2018?

É muito difícil a oposição e os tucanos assumirem a inclusão social. Por outro lado, a presidente Dilma não consegue convencer que seja uma líder da retomada da economia. Penso que a denúncia de corrupção é um enxerto sobre isso. Na grande maioria, as pessoas são contra o governo e usam a corrupção para atacá- lo. Tanto assim, que, se a corrupção vier de outro lado, elas preferem fingir que não existe. Então, colocouse todo o foco da corrupção no PT e nos seus governos, mas deixou- se de lado todo um conjunto de denúncias vultosas que vêm da oposição. Esse é um problema que acho muito sério no país e torna as coisas difíceis.

 

O senhor acredita que a nomeação do ex- presidente Lula como ministro da Casa Civil, nesse contexto, ajuda ou prejudica o governo?

O regime é presidencialista e isso quer dizer que a presidente Dilma pode nomear quem quiser como ministro. Se ela quer nomear o Lula, é um direito dela. O paradoxo disso é que nomear o Lula significa obviamente transferir grande soma de poderes para ele.

 

Lula seria a única saída viável para recuperar, e até salvar, o governo?

Lula é a única pessoa neste momento que pode conseguir a credibilidade do empresário e do trabalhador. Dois anos atrás, ele tinha esse estoque de credibilidade intacto, mas uma sucessão de erros, sobretudo na política econômica, fez com que perdesse uma parte desse estoque de credibilidade. Para o PT e a esquerda, o Lula é quase a última chance.

 

Mas o Congresso está rachado com o governo, e a oposição, provavelmente, não vai dar espaço para Lula agir.

Por isso, a direita não quer viabilizar a candidatura dele. A direita não precisaria ter medo, porque a chance de o Lula conseguir virar as coisas, a ponto de o PT ser favorito em 2018, é muito pequena. Ele entrou num nível de risco e tem grandes chances de fracassar no governo e de ficar com a imagem ruim.

 

Por conta das investigações da LavaJato e a recente exposição das gravações entre o ex- presidente Lula e a presidente Dilma?

Eu acho que as gravações tornadas públicas pelo juiz Sérgio Moro não provam nada de desabonador. O fato de alguém falar palavrões, isso não desabona ninguém. Acho extremamente preocupante a divulgação de gravações assim, arbitrariamente. Não é porque uma pessoa é juiz que pode fazer o que quer.

 

Quais seriam as opções para o futuro, no caso de impeachment?

O Aécio Neves cometeu um grande erro político após ser derrotado, entrando no que chamei de síndrome do injustiçado, porque perdeu as eleições por margem de 3%. Isso impediu o PSDB de fazer o que devia ter feito, que é se perguntar por que perderam quatro eleições presidenciais consecutivas. Além disso, os tucanos cometeram um erro político catastrófico, que foi se aliar ao deputado Eduardo Cunha. Isso deu fôlego ao PT. Tanto o PSDB quanto o PMDB precisam escantear o Cunha para ganhar sobrevida num eventual novo governo.

 

“O problema do governo é que o país está numa crise econômica da qual não sabe como sair”

 

“PSDB e PMDB precisam escantear o Cunha”

Senadores relacionados:

Órgãos relacionados: