O globo, n. 30.187, 31/ 03/2016. País, p. 5

Cortejado pelo Planalto, PP entra de novo na mira da Lava- Jato

Janot oferece denúncia contra cinco deputados e ex- ministro do partido

Por: CAROLINA BRÍGIDO E ISABEL BRAGA

 
- BRASÍLIA- O procurador- geral da República, Rodrigo Janot, apresentou ao Supremo Tribunal Federal denúncia contra cinco deputados do PP por envolvimento nos desvios investigados na Lava- Jato. A denúncia ocorreu no mesmo dia em que o governo intensificou ações junto ao partido para garantir apoio contra o impeachment da presidente Dilma.

São alvo da acusação os deputados Mario Negromonte Junior ( BA), Luiz Fernando Faria ( MG), João Otávio Germano ( RS), Roberto Brito ( RS) e Arthur Lira ( AL). Também foram denunciados o ex- ministro das Cidades Mario Negromonte e o ex- deputado João Pizzolatti, também do PP. O grupo responderá por corrupção passiva e ocultação de bens. No caso de Negromonte Junior, ele também é acusado de organização criminosa e embaraço à Justiça.

A denúncia está em sigilo e foi encaminhada ao relator da LavaJato no STF, Teori Zavascki. Ele deverá elaborar voto e encaminhar ao plenário do tribunal, que decidirá se abre ação penal contra o grupo ou se arquiva o caso. Não há data prevista para isso acontecer. Na semana passada, a Polícia Federal divulgou que encerrou essa fase de investigações contra Pizzolatti.

Cortejados pelo Planalto, PP e PR querem aguardar o andamento do processo do impeachment na Câmara para definir posição. No caso do PP, após reunião tensa da bancada parlamentar com a Executiva, a decisão ficou para depois da votação na comissão do impeachment, em reunião do Diretório Nacional que conta com 300 convencionais. Já o PR anunciou que a posição sobre o impeachment será tomada pela bancada e pela Executiva depois que Dilma apresentar sua defesa, mas antes da votação na comissão.

Parlamentares de PP e PR avaliam se o melhor cenário para as bancadas é ampliar sua participação no governo Dilma ou garantir espaço num eventual governo Temer. De olho nas negociações, o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira ( PI), disse que a reunião do Diretório Nacional — cobrada pelos deputados que defendem o impeachment — ocorrerá na segunda semana de abril. O deputado Ricardo Barros ( PR), vice- líder do governo, disse que não há razão para o PP deixar o governo agora:

— Antes da comissão especial do impeachment não ocorre nada. E o PP sempre será da base, de qualquer governo — disse Ricardo Barros. ( Colaboraram Simone Iglesias, Leticia Fernandes e Evandro Éboli)

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Bate- boca expõe racha

Deputados do PP divergem sobre rumo do partido durante entrevista

Por: Evandro Éboli

 

A divisão do PP entre sair ou ficar no governo materializou-se ontem durante entrevista de três deputados do partido para explicar o desfecho da reunião da bancada. Na frente dos jornalistas, o líder do PP e ex- ministro das Cidades de Dilma Aguinaldo Ribeiro ( PB) divergiu várias vezes dos colegas que defendem o desembarque do governo, Jerônimo Goergen ( RS) e Júlio Lopes ( RJ).

— Foi acordado que o PP fará reunião do diretório para decidir se permanece ou se toma outro rumo em relação ao governo — disse Aguinaldo, logo apartado por Lopes.

— Não haverá decisão de ocupar cargo ou desembarcar até a reunião. A maioria quer se retirar do governo — disse Lopes, ao que Ribeiro rebateu:

— Não é momento para discutir cargo. O momento é de recuperar empresas e ajudar o Brasil. Foi a vez de Goergen polemizar: — O PP vai construir uma posição única. Liderei esse requerimento ( de antecipar reunião do partido) e temos uma posição majoritária de deixar o governo. Ribeiro, então, o desautorizou:

— Ele não pode falar como líder. Não é líder. Não tenho essa avaliação.

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Oito ministérios podem elevar gastos em R$ 1,8 bilhão

Medida agrada a parlamentares por dar recursos a emendas
 

-BRASÍLIA- Enquanto negocia cargos com partidos ainda aliados, o governo também trata da liberação de recursos. Desde terça- feira, a área econômica vem adotando algumas medidas: portaria do Ministério da Fazenda ampliou limite de empenho para oito ministérios, em R$ 1,8 bilhão. Na prática, isso agrada aos parlamentares porque permite empenhar recursos de suas emendas. Além disso, ontem, a Fazenda informou a liberação, em três parcelas, de R$ 1,95 bilhão para os estados, como forma de compensação por perdas com a chamada Lei Kandir, que isentou a incidência do ICMS na exportação de produtos não industrializados. O valor será pago em três parcelas iguais até o último dia útil dos meses de abril, maio e junho.

 

PTN NEGOCIA CARGOS

Paralelamente às conversas com PP e PR, o Planalto pôs em prática a estratégia de atuar diretamente junto aos parlamentares na negociação de cargos, emendas e demais demandas para tentar barrar o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ontem, o governo focou parte do dia no diálogo individual com os deputados que integram a Comissão Especial que analisa o processo na Câmara.

Dois deputados do nanico PTN, João Carlos Bacelar ( BA) e Aluisio Mendes ( MA) — o primeiro titular e o segundo suplente na comissão — estiveram ontem no Planalto para negociar cargos em troca de apoio contra o impeachment.

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  • Câmara dos Deputados

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George Hilton, enfim, deixa Ministério do Esporte

Cargo é ocupado interinamente por Ricardo Leyser, do PCdoB
 

- BRASÍLIA- O ministro do Esporte, George Hilton, finalmente saiu do governo, ontem. Segundo o Palácio do Planalto, Hilton pediu para sair e teve a solicitação aceita pela presidente Dilma Rousseff. O novo ministro do Esporte, que assume o posto interinamente, é Ricardo Leyser, do PCdoB. Hilton se desfiliou do PRB quando o partido decidiu abandonar o governo. Ficou no limbo, se filiou ao PROS na tentativa de permanecer no cargo e continuava despachando no ministério.

O ministro interino, Ricardo Leyser, foi secretário- executivo e secretário de Alto Rendimento do ministério. Ele participou da organização da Copa e dos Jogos Pan- Americanos e não é alheio ao tema da pasta, às vésperas das Olimpíadas. No entanto, ninguém confirma quanto tempo ele ficará no cargo, já que Dilma fará uma reforma ministerial. O PCdoB é um dos partidos mais fiéis a Dilma, e, antes da entrada do PRB, tradicionalmente ocupou a pasta na gestão de Dilma. Quando Hilton assumiu o posto, o PCdoB manteve vários secretários.

O anúncio da saída do PRB do governo ocorreu no dia em que o ex- presidente Lula foi anunciado pelo governo para a Casa Civil e quando foram divulgadas as conversas de Lula com Dilma, na qual a presidente avisava que entregaria o termo de posse para o petista usar em caso de necessidade.

Ao anunciar sua desfiliação do PRB, Hilton soltou uma nota dizendo que os dias eram “sombrios”, mas que tinha a missão de apoiar o governo de Dilma.