O globo, n. 30177, 21/03/2015. País, p. 4

Oposição quer encurtar trabalho de comissão

Já petistas vão questionar legalidade do processo de impeachment
Por: Letícia Fernandes/ Catarina Alencastro

- BRASÍLIA- A primeira semana após instalada a comissão do impeachment na Câmara será decisiva para determinar o ritmo do andamento dos trabalhos. Enquanto petistas pretendem questionar a legalidade do processo apresentado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDBRJ), e o aditamento da delação do senador Delcídio Amaral ( sem partido- MS) à denúncia, a oposição quer encurtar ao máximo o andamento dos trabalhos e se ater à representação original, focando nos requerimentos que pedem a ida à comissão do presidente do Tribunal de Contas da União, Augusto Nardes, e dos autores da petição original, os juristas Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Junior. Para os oposicionistas, o alongamento das discussões favorece o governo, que teria mais tempo para protelar e judicializar o processo.

O cronograma dos trabalhos da comissão será apresentado hoje pelo presidente, deputado Rogério Rosso ( PSD- DF), após submetê- lo ao relator do processo, deputado Jovair Arantes ( PTB- GO), num almoço em Brasília. Rosso passou o fim de semana debruçado sobre a denúncia e sinalizou que pretende dar celeridade ao andamento. O presidente disse que a comissão deverá fazer duas reuniões nesta semana. Notificada na semana passada, a presidente Dilma Rousseff tem dez sessões para apresentar sua defesa, prazo que deve acabar na semana que vem.

O deputado Paulo Teixeira ( PTSP) disse que estuda apresentar uma questão de ordem sobre a legalidade do processo aberto por Cunha, linha que também deverá ser adotada por Dilma. Os 65 votos da comissão serão disputados um a um, e tanto governo quanto oposição admitem placar apertado. Para petistas, o jogo está “empatado”; a oposição fala em “maioria sem folga”.

— Deputado tem um medo danado do eleitor, e queremos jogar com essa pressão popular, e fazer mapa de votos e acompanhamento pela internet — disse Mendonça Filho ( DEM- PB).

O deputado Carlos Zarattini ( PT- SP) disse que o PT vai usar tudo que estiver a seu alcance:

— Queremos uma discussão profunda dos aspectos jurídicos do impeachment, ninguém nem fala mais em pedalada fiscal, virou totalmente político.

A ala do PMDB pró- impeachment comemorou a divulgação de conversas de Lula na semana passada. Expoentes do partido que pregam o desembarque do governo acreditam que ele se inviabilizou como negociador com a outra parte do partido fiel a Dilma e que, por isso, a debandada do Executivo será maior dia 29.

— O pacto é que até 29 de março, dia do desembarque, ninguém se movimenta. Daí em diante temos que aguardar a aceitação do processo de impeachment na Câmara — diz um peemedebista pró- rompimento.

O vice Michel Temer se mantém submerso. A aposta do time anti- Dilma é que as circunstâncias levem a um fim próximo do governo por conta das manifestações. Parlamentares são facilmente contaminados pelas ruas em ano eleitoral, argumenta um peemedebista. ( Leticia Fernandes e Catarina Alencastro)

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