O Estado de São Paulo, n.44724 , 30/03/2016. País, p. A5

Wagner fala em ‘repactuar relação’ na base governista

Planalto intensifica o toma lá dá cá e promete a aliados redistribuir espólio do PMDB, que envolve 600 cargos de primeiro a terceiro escalão

 

Vera Rosa

Isadora Peron

Gustavo Porto / BRASÍLIA

 

A saída do PMDB da base aliada do governo agravou a crise política e deixou a presidente Dilma Rousseff mais frágil para enfrentar o processo do impeachment, mas o Palácio do Planalto encerrou o dia tentando passar a mensagem de que tem munição para virar o jogo. O governo intensificou o toma lá dá cá, procurando os partidos aliados para “repactuar a relação” e redistribuir o espólio do PMDB.

Em troca do apoio para barrar o afastamento de Dilma na Câmara, articuladores políticos da presidente estão oferecendo cadeiras em ministérios de peso, como Turismo e Esporte, além de postos em empresas estatais e bancos públicos. Pelos cálculos do Planalto, 600 cargos de primeiro, segundo e terceiro escalões ficarão vagos com o rompimento do PMDB e é isso que está na mesa de negociação. A pasta de Esporte era ocupada pelo PRB, que deixou a aliança governista.

“O melhor jeito de buscar votos é ampliar espaço para aliados”, afirmou o ministro-chefe do Gabinete Pessoal da Presidência, Jaques Wagner. “Sai um aliado de longa data, mantêm- se outros.”

Wagner disse que a saída do PMDB da equipe abre caminho para uma “repactuação”com os demais partidos da base do governo no Congresso. Até sexta-feira, o Planalto deve anunciar novos ministros na Esplanada.

O PMDB tem hoje os ministérios de Minas e Energia; Saúde; Ciência e Tecnologia; Agricultura e Pesca; Aviação Civil e Portos. Controlava também Turismo, mas Henrique Eduardo Alves, que chefiava a pasta, pediu demissão anteontem.

Alves é próximo do vice-presidente Michel Temer, que comanda o PMDB.

O mapeamento do novo governo, sem o PMDB, foi tema de uma reunião realizada na noite de ontem entre Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros do núcleo político, no Palácio da Alvorada. Mesmo com a nomeação suspensa na Casa Civil por decisão judicial, Lula tem recebido parlamentares num hotel, em Brasília.

Pelos cálculos do Planalto, Dilma precisa fazer tudo para segurar o PP, o PSD, o PR e o PTB – o chamado “centrão” – porque, caso contrário não conseguirá os 171 votos necessários para barrar o impeachment na Câmara.

Mesmo com a situação dramática enfrentada pelo Planalto, Wagner declarou que, a partir de agora, Dilma tem a chance de “começar um novo governo”, embora a relação com Temer esteja “politicamente interditada”.

 

‘13 anos em 3 minutos’. Apesar do discurso oficial de normalidade, o governo ficou horas sem saber como reagir, ontem, após o rompimento do PMDB.

No Planalto, auxiliares de Dilma diziam que “13 anos de parceria foram embora em 3 minutos”, numa referência ao tempo que durou o encontro do Diretório Nacional peemedebista e à longevidade da aliança com o PT, firmada ainda no governo Lula.

Horas antes do divórcio anunciado, Dilma fez algumas reuniões de emergência. Avisada de que a debandada do PMDB poderia provocar “efeito dominó” na coligação, com fuga de outros aliados, ela conversou com os ministros Gilberto Kassab (Cidades), do PSD; Antônio Carlos Rodrigues(Transportes), do PR;  e com o líder do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB). A todos, pediu ajuda para derrubar o impeachment na Câmara.

Kassab disse que o PSD está dividido e, por isso, a direção liberou os votos dos deputados. O PR foi na mesma linha. Se o afastamento de Dilma for aprovado na Câmara, o PT avalia que será muito difícil deter a “onda” por sua deposição no Senado. Questionado se Temer deveria renunciar para cumprir a decisão do PMDB de deixar o governo, Wagner abriu um sorriso. “Sair do governo é decisão do Temer.

Vocês deveriam perguntar a ele se ele vai sair”, respondeu.

O ministro também ironizou o fato de o encontro do PMDB ter durado três minutos.“Eu não sei o que o PMDB queria. Talvez um título no Guinness Book”, provocou./ COLABOROU RICARDO BRITO

 

Interlocutor

Ministro Jaques Wagner no Palácio do Planalto após PMDB oficializar rompimento com governo Dilma

 

PARA ENTENDER

Uma aliança instável

Flerte

2002

O PMDB apoia em 2002 o PSDB de José Serra, derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva. O partido chega a ser cortejado pelo ex-ministro petista José Dirceu para formar uma aliança com o PT, mas o candidato eleito veta o acordo. Em 2004, no entanto, o PMDB é convidado a integrar o governo de Lula. Integrantes da legenda peemedebista ficam com três pastas para selar um princípio de relação.

 

Reforço

2006

Na disputa à reeleição, Lula não conta com o apoio oficial do PMDB. A legenda se divide entre o candidato petista e Geraldo Alckmin (PSDB). O julgamento do mensalão põe em risco a formalização de um acordo, mas Lula acaba abrindo mais espaço dentro do governo aos novos aliados. Ao final do mandato de Lula, o PMDB decide compor chapa com a então ministra Dilma Rousseff à corrida presidencial em 2010.

 

Aliança

2010

O PMDB disputa a Vice-Presidência com o candidato Michel Temer. Amplia ainda mais seu prestígio dentro do governo. A chapa é reeleita em 2014.

 

Divórcio

2016

A relação de aliança chega ao fim após agravamento de crises econômica e política