O Estado de São Paulo, n.44724 , 30/03/2016. País, p. A7
Daiene Cardoso
Victor Martins / BRASÍLIA
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acredita ser possível concluir o trâmite do processo de impeachment na Câmara ainda em abril, remetendo o caso ao Senado até o dia 30 do próximo mês. A partir disso, a presidente Dilma Rousseff ficaria afastada do cargo à espera da conclusão do julgamento pelos senadores no máximo até outubro, mês de eleições municipais.
O calendário de Cunha considera os prazos regimentais para análise do impeachment de Dilma. Na segunda-feira, 4, termina o prazo para que a petista entregue sua defesa à comissão especial. No dia seguinte, começa a contar o período de cinco sessões para o colegiado apreciar e votar o parecer do relator Jovair Arantes (PTB-GO) - o que ocorreria em 12 de abril.
O relator trabalha com a possibilidade de apresentar o relatório antes das cinco sessões, para acelerar o processo. A oposição gostaria que a votação no plenário fosse em 14 de abril.
O relatório precisa ser publicado no Diário da Câmara, o que ocorreria no dia 13, e o impeachment só poderá ir para a pauta do plenário 48 horas após a publicação, ou seja, o processo estaria apto para votação a partir do dia 16 ou no máximo dia 19. As contas não incluem a possibilidade de os governistas irem à Justiça para atrasar o processo.
Além disso, Cunha prevê pelo menos três dias de votação do pedido de impeachment. Segundo o presidente, cada líder partidário tem direito a pelo menos uma hora de discurso em defesa do governo ou do afastamento. A Casa tem 27 partidos atualmente.
Na contabilidade de Cunha, o Senado receberia o pedido de impeachment entre os dias 26 e 30 de abril. A votação no plenário do Senado que definirá o afastamento imediato do cargo está prevista para primeira quinzena de maio. Se Dilma for afastada, assume provisoriamente o vice Michel Temer.
A partir da segunda quinzena de maio, começaria a contar o prazo de 180 dias de prazo de julgamento por suposto crime de responsabilidade. Essa sessão específica do Senado é presidida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal - cargo hoje ocupado pelo ministro Ricardo Lewandowski, que em setembro dará lugar à ministra Cármen Lúcia. Na segunda quinzena de outubro, terminaria o prazo para que os senadores concluam o processo do impeachment contra Dilma.
O calendário de Cunha difere do cronograma informal usado por alguns parlamentares. Para os deputados de oposição, que pregam um ritmo acelerado de apreciação do impeachment, é possível concluir todo o rito do impeachment até meados de agosto, passando por cima do tradicional recesso de meio de ano. O documento tem circulado pelos gabinetes dos parlamentares e também prevê o afastamento provisório de Dilma já em maio.
Competências. A Câmara apenas autoriza - ou não - a abertura do processo de impedimento em votação nominal. Caberá ao Senado formar uma nova comissão, com um quarto dos 81 senadores da Casa, para emitir um parecer reconhecendo ou não a denúncia. Terá prazo de dez dias consecutivos para apresentar o parecer e, caso reconhecida a denúncia, instaurar processo.
No plenário do Senado, a votação do pedido vindo da Câmara é nominal e exige-se apenas maioria simples para aprovação. Em caso de aprovação, ocorre a transmissão da presidência do Senado ao presidente do Supremo Tribunal Federal. Dilma é notificada no dia seguinte e terá prazo de 20 dias para apresentar resposta à acusação. No mesmo dia, a presidente é informada sobre a suspensão do exercício de suas funções até o fim do processo. A sentença condenatória final só poderá ser proferida pelo voto de dois terços dos membros do Senado.
CRONOLOGIA
Votação pode ocorrer em abril
17 de março de 2016
Comissão
Câmara aprova a Comissão Especial do impeachment que vai analisar o pedido de afastamento da presidente Dilma.
18 de março
Prazo para defesa
Começa a contar prazo de 10 sessões para Dilma apresentar sua defesa.
30 e 31 de março
Depoimentos
Juristas Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal, ministro Nelson Barbosa e o professor Ricardo Lodi Ribeiro devem falar à comissão como convidados da oposição e do governo.
4 de abril
Fim do prazo de defesa
Se o calendário seguir sem alterações, vence o prazo para Dilma se defender no colegiado.
5 de abril
Parecer
Considerando que o rito transcorra como previsto, começa a contar prazo de 5 sessões para a comissão emitir seu parecer.
11 de abril
Apresentação
Vence o prazo para a comissão apresentar seu parecer antes de ser submetido ao plenário.
14 de abril
Votação
Parecer pode ser levado a plenário para votação, conforme calendário da oposição. Para ser aprovado, são necessários 342 votos dos 513 deputados.
Senado
Caso a Câmara decida pelo prosseguimento da ação, a denúncia vai ao Senado, que decide, por maioria simples, se instaura ou não o processo. O presidente da Casa, Renan Calheiros, disse que, se o caso chegar ao Senado, o calendário será definido com o Supremo.