O globo, n. 30.186, 30/03/2016. País, p. 4

Mais três ministros do PMDB devem entregar os cargos

Mauro Lopes, Eduardo Braga e Helder Barbalho sinalizam saída

Por: JÚNIA GAMA, ISABEL BRAGA, CRISTIANE JUNGBLUT E SIMONE IGLESIAS

 

- BRASÍLIA- A entrega dos cargos da metade dos ministros do PMDB é dada como certa após a decisão do partido de desembarcar do governo. Entre os seis ministros que permanecem no cargo — na noite de segunda- feira Henrique Alves deixou o Turismo —, a expectativa é que três sigam este caminho nos próximos dias: Mauro Lopes ( Aviação Civil), Helder Barbalho ( Portos) e Eduardo Braga ( Minas e Energia). Outros dois, Celso Pansera ( Ciência e Tecnologia) e Marcelo Castro ( Saúde), ambos com mandatos de deputado, deverão permanecer mais alguns dias, até que esteja mais claro o cenário sobre a aprovação do impeachment. A ministra Kátia Abreu ( Agricultura) é a única que pretende permanecer ao lado da presidente Dilma Rousseff independentemente dos desdobramentos do impeachment e, para isto, pode mudar de partido.

Em almoço ontem com a bancada de deputados do PMDB de Minas Gerais, Mauro Lopes afirmou que iria seguir a determinação do partido e entregar seu cargo no governo. Apesar de o Diretório Nacional do PMDB não ter definido prazo para que os ministros deixem seus postos, a expectativa é que o ministro comunique sua saída em breve ao Palácio do Planalto. Na noite anterior, Mauro Lopes já havia comunicado ao líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani ( RJ) — que foi fiador de sua nomeação — que iria acompanhar a decisão da maioria do partido.

 

CASTRO E PANSERA CONTINUAM

Helder Barbalho e Eduardo Braga também já sinalizaram aos dirigentes do PMDB que irão deixar os cargos. Em conversas com a cúpula do partido, os ministros afirmaram que não pretendem se desfiliar do PMDB, uma das opções para aqueles que desejarem permanecer em seus cargos. Braga, um dos peemedebistas que mais resistiu à saída e trabalhou para ajudar a presidente, disse a integrantes da cúpula que é “homem de partido” e que pedirá demissão. Ele chegou ao governo em janeiro do ano passado, após perder a eleição para o governo do Amazonas. Antes de se tornar ministro, foi líder do governo Dilma no Senado.

Hélder Barbalho também chegou na Esplanada no início do segundo mandato de Dilma, ano passado, quando assumiu o Ministério da Pesca. Na última reforma ministerial, anunciada em outubro pela presidente Dilma, a pasta da Pesca deixou de ser ministério, mas Hélder foi remanejado para a Secretaria de Portos. Na época, ele passou a ser considerado da “cota” de Michel Temer.

Já Marcelo Castro e Celso Pansera, da ala considerada mais alinhada ao governo, devem permanecer o máximo possível nos cargos. Segundo interlocutores, os dois manterão a defesa do governo, mas até o limite do avanço do processo de impeachment da presidente. Como ambos têm mandatos de deputado federal e não há determinação de prazo no PMDB para a entrega dos cargos, a situação deles é considerada “confortável”.

Depois da decisão de desembarque do PMDB, cresce a pressão nas demais bancadas de partidos aliados por uma definição de saída da base. O PP se reúne hoje para discutir o desembarque e, segundo deputados, já está certo que haverá a convocação do diretório para discutir a questão. A dúvida é em relação à data da consulta, se antes da votação na comissão do impeachment ou da votação em plenário.

No documento entregue ao presidente nacional do PP, Ciro Nogueira ( PI), 22 dos 49 deputados assinaram favoravelmente à convocação do diretório, além de quatro dos seis senadores.

A bancada do PP está rachada e, de acordo com deputados, Ciro Nogueira mantém conversas com interlocutores do governo esteve anteontem com a presidente Dilma. Não houve, ainda, avanços nas conversas para atender a pleitos dos parlamentares. O PP tem apenas um ministério e, com o aumento da bancada para 49 deputados, a direção do partido acredita que outra pasta possa ser oferecida.

 

PR DEVE LIBERAR BANCADA

O PR, partido que comanda o Ministério dos Transportes, deverá liberar a bancada de deputados sobre o impeachment. Dos 40 deputados, segundo contas de dirigentes, 25 são a favor do afastamento de Dilma.

O governo começa a fazer uma ofensiva sobre partidos menores que teriam menos chances de ocupar cargos em um eventual governo Temer.

Um dos alvos do governo é o PTN, que tem 13 deputados. O partido já garantiu um aliado na Fundação Nacional de Saúde, mas ainda sonha com um ministério. Ontem, o líder Aluísio Mendes ( MA), fez uma reunião com a bancada.

— Não discutimos ministério. Primeiro teremos que decidir se o PTN fica ou não na base de apoio — disse Mendes.

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Senador Walter Pinheiro deixa o PT

 

No momento mais difícil enfrentado pelo PT e pelo governo Dilma Rousseff, o partido sofreu ontem uma baixa importante em seus quadros. O senador baiano Walter Pinheiro anunciou que encaminhou uma carta ao diretório estadual do PT, na Bahia, pedindo sua desfiliação.

Pinheiro já estava afastado das atividades partidárias há algum tempo por discordar dos rumos da legenda e do governo Dilma. Não participava mais das reuniões da bancada ou de encontros partidários. O isolamento de Pinheiro se aprofundou na última eleição para governador na Bahia, quando sua candidatura foi preterida pelo então governador Jaques Wagner, que preferiu lançar o novato Rui Costa, que acabou eleito.

Como o senador Reguffe, que saiu do PDT e não buscou ainda outra filiação, Walter Pinheiro vai ficar sem partido, por enquanto.

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De olho nos cargos da próxima esquina

Nesse embate, o Planalto tem muitos cargos para distribuir. Mas Temer não fica atrás. Tem cargos a prometer

Por: ILIMAR FRANCO

 

O afastamento do PMDB do governo Dilma Rousseff deteriora ainda mais a base parlamentar fragmentada do Planalto. Isso ocorre num momento em que há um amplo movimento pelo impeachment da presidente da República. E quando a sociedade, sobretudo os agentes econômicos, cobram mudanças no governo na expectativa de criar um novo clima entre os investidores internos e externos.

A base parlamentar governista já estava esfacelada antes da crise com o PMDB. Não há unidade sobre o que fazer. Não há unidade sobre onde e o que cortar. Não há unidade sobre como ampliar a arrecadação. A receita da equipe econômica: o retorno temporário da CPMF, não tem maioria para ser aprovado pelo Congresso. Esse quadro complexo, agravado com a decisão do PMDB, deixa o governo ainda mais amarrado e sem iniciativas.

O Diretório Nacional do PMDB abriu as portas para que outros aliados também caminhem para o rompimento com o Planalto. O PP, o PR, o PSD, que juntos somam uma bancada de 120 deputados, foram liberados. Isso significa que cada um de seus deputados votará em função de seus interesses pessoais e conforme a expectativa de poder que tiverem em cada um dos governos, o da presidente Dilma ou o do vice- presidente Michel Temer.

Nesse embate, o Planalto tem muito a oferecer para quem ficar ao seu lado. Há muitos cargos para distribuir. Mas Temer não fica atrás. Ele tem muitos cargos para prometer, caso chegue a Presidência. O PMDB está entregando parte de seus ministérios, mas poderá têlos de volta na próxima esquina. Essa batalha por cargos não foi inventada agora. Foi assim que os governos Fernando Henrique e Lula se mantiveram oito anos no poder.

Por isso, os peemedebistas estão cautelosos. Dizem que o afastamento do governo não significa automaticamente a aprovação da admissibilidade do impeachment na Câmara. Para eles, não dá para colocar as mãos na taça antes do final da partida. A oposição, especialmente o PSDB, comemora como se o jogo já estivesse acabado.

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