Valor econômico, v. 16, n. 3953, 01/03/2016. Empresas, p. B4

Empréstimo chinês de US$ 10 bi da Petrobras não é securitização

Por: Por Cláudia Schüffner

Por Cláudia Schüffner | Do Rio

 

A Petrobras ainda não informou detalhes do novo financiamento negociado com o China Development Bank (CDB) no valor de US$ 10 bilhões. Faltam informações como a taxa de juros que será cobrada, e o volume de produção futura de petróleo que o novo acordo envolve. Mas uma fonte ouvida pelo Valorexplicou que o contrato anunciado na sexta-feira não é uma securitização. E que a exportação de óleo não é garantia para o empréstimo. Outra fonte qualificada disse que o caixa da companhia está "blindado" pelos próximos dois anos.

Segundo o Itaú BBA, o empréstimo reduz significativamente a pressão sobre o fluxo de caixa da Petrobras e adia a necessidade de um aporte do governo para aumento de capital da empresa. "Com este financiamento, a Petrobras ganha um tempo precioso para tentar implementar as melhorias operacionais muito necessárias, reduzindo significativamente o risco de necessitar de um aumento de capital ou apoio do governo em 2016", afirma o analista Diego Mendes.

O Itaú BBA ressalta que a estatal não divulgou os termos da operação, incluindo as taxas; se o dinheiro será desembolsado em uma única ou em múltiplas tranches; quais as obrigações de fornecimento de petróleo; e se aoperação é uma securitização das vendas futuras de petróleo. Mas na opinião do analista, a Petrobras deve usar a mesma estrutura do empréstimo de 2009, que não era uma securitização.

Anunciada sexta-feira, companhia ainda negocia detalhes da operação com o China Development Bank(CDB)

No relatório para clientes do Itaú, Diego Mendes lembra que, da dívida de US$ 12 bilhões da Petrobras que vence este ano, metade são títulos e a outra metade é devida a bancos comerciais e agência de crédito à exportação (Export Credit Agencies).

Segundo o analista, assumindo que a maior parte da dívida junto a bancos comerciais e agências de crédito seja rolada, que os títulos sejam pagos e considerando ainda a entrada em caixa do financiamento chinês de US$ 10 bilhões, o fluxo de caixa da Petrobras para o ano fica equilibrado. E a venda de ativos se torna um benefício adicional, e não mais uma necessidade premente.

"Esperamos uma reação positiva do mercado devido à redução do risco de um aumento de capital, mas ainda mantemos nosso ponto de vista negativo sobre o balanço da empresa, especialmente as despesas de dívida e de juros, que estão aumentando ainda mais. Notamos que em nossas conversas com investidores que eles acreditam que os fundamentos não suportam o preço da ação e que o preço das ações permanecerá volátil devido ao preço do petróleo", afirma o analista do Itau BBA.

Ainda segundo Mendes, o única grande gatilho capaz de baixar o preço das ações seria um possível aumento de capital da Petrobras. "A melhoria da posição de caixa, que reduz o risco de um aumento de capital, vai fazer com que a ação continue sendo negociada tendo como base os preços do petróleo e as potenciais melhorias no sentimento sobre o Brasil, e não puramente nos fundamentos [da empresa]", diz o relatório.

A companhia ainda negocia detalhes da operação com o CDB, junto com os termos de um acordo comercial para fornecimento de petróleo a companhias chinesas, nos moldes de um acordo firmado em 2009 com a Unipec, uma subsidiária da Sinopec. Naquela ocasião a petrolífera brasileira obteve US$ 10 bilhões do CDB para pagamento em 10 anos em um contrato que previa a exportação de 150 mil barris por dia no primeiro ano e 200 mil barris/dia nos nove anos subsequentes, até 2019. Uma diferença relevante em termos de custo deempréstimo é que em 2009 a companhia tinha grau de investimento na classificação de três agência de avaliação de risco. Não é o caso de agora.