Correio braziliense, n. 19298, 27/03/2016. Artigos, p. 11

Impeachment, celeridade, salvação

Vivemos severa crise econômica e progressivo desemprego. O governo Dilma, ao segurar os preços dos combustíveis e da energia e esticar o crédito, aumentou artificialmente o consumo acima da capacidade de pagamento das famílias. Para empurrar o PAC, endividou o Tesouro — estamos a beirar uma dívida pública de 80% do PIB se nada for feito — pondo em risco nossas reservas, justamente quando assistimos ao início de fuga anunciada de capitais do país, por causa da persistente crise política. Se houver impeachment, rapidamente as coisas se resolvem pela reversão das expectativas dos agentes econômicos. Em caso contrário, afundaremos no abismo sem fundo do caos (desinvestimento, desemprego, depressão e inflação).

É por essa ótica que as empresas e seus responsáveis enxergam a situação. O impeachment, por estar previsto na Constituição, é para ser usado quando necessário; portanto, não é golpe político, à margem da lei. Incompreensível enxergar racionalidade no PT ao chamá-lo de golpe constitucional. Das duas, uma: ou são mentes confusas, ou agem, deliberadamente, de má-fé.

Dilma se diz grampeada, quanto até o porteiro do palácio sabe que o grampo era nos telefones de Lula. Má-fé? Quem falasse com ele ficava marcado na escuta judicialmente determinada. Pela escuta, soube-se que a presidente, antes de dar posse e exercício a Lula, sem o quê ninguém se torna ministro, mandou o sr. Messias entregar-lhe termo de posse assinado por ela, “caso fosse necessário”, para livrá-lo da prisão. E lá vem ela, para se desculpar, dizer que o documento não tinha a sua assinatura. Sem ela, nada valeria. Com isso cometeu o crime de prevaricação e atentou contra a probidade administrativa, que o art. 85 da Constituição diz constituir crime de responsabilidade. Agiu para proteger terceiros da prisão usando o cargo.

Lula se diz do povo, mas seus amigos malfeitores são apenas de dois estamentos: os companheiros do sindicato e os maiores e mais ricos empresários de engenharia do país. Juntaram-se, empreiteiros e os sindicalistas, para saquearem as estatais, principalmente a Petrobras e as obras do PAC, refinarias e usinas hidroelétricas, em prejuízo do povo, acorrentado como animal faminto às migalhas do Bolsa Família e aos financiamentos à sonhada casa própria, às custas do Tesouro e do FGTS.

Esse é um governo honesto? É um governo socialista? É um governo eficaz? Como podem os intelectuais de esquerda ser tão crédulos, a ponto de tentar tampar o sol com peneira? Não se dão conta que pactuam com a corrupção, a roubalheira, a podridão moral? Acham que as delações são falsas? A Operação Lava-Jato recuperou milhões dos dólares furtados dos cofres públicos. São notas falsas ou provas inequívocas do esquema criminoso dos governos do PT? Acusam o impoluto juiz Moro de prender preventivamente — por razões jurídicas — senão os tribunais não as manteriam, com o fito de forçar os réus a confessarem seus crimes impatrióticos. Dizem que direitos humanos estão sendo violados. Não fossem as delações, jamais saberíamos das tenebrosas transações do PT e das empreiteiras. Nossos direitos é o que vale.

Lula jamais foi socialista, tampouco democrata; não passa de sindicalista esperto desde São Bernardo, um aproveitador de mentes viciadas na esquerda, por causa da luta comum contra a ditadura. Seu lugar na história é ao lado dos grandes demagogos e merece — apurados os fatos — pagar seus crimes na cadeira se os tiver praticado.

O panorama da intelectualidade brasileira de esquerda, mormente nas universidades, nas áreas de humanas e sociais, é de assustadora pobreza. Não se dão conta de que o mundo de amanhã já superou, faz mais de 40 anos, a dicotômica divisão esquerda versus direita. Ela não existe mais. O futuro está a exigir ética no governo, nos negócios e um Estado regulador. Todos os países têm técnicas anticorrupção e existem redes de tratados internacionais sobre o assunto. O Brasil passa ao largo desse debate, como Burkina Faso e a Guiné equatorial. A crise da representatividade política e o estanque da crescente desigualdade econômico-social que frequentam os debates nas democracias europeias não se fazem presentes em nosso país, por causa do baixo nível de sua intelectualidade universitária (sociologia, ciência política e antropologia).

As classes abastadas e média do Brasil procuram cada vez mais se fixar nos EUA e Portugal, como que atestando a desilusão com o país, sem solução. A emigração tem vários motivos. Outrora, irlandês, galegos e italianos emigravam, fugindo da fome. Ingleses e alemães das perseguições religiosas. Libaneses em busca de oportunidades. Hoje, sírios, iraquianos e afegãos, pela destruição dos seus países. Argentinos, venezuelanos e, agora, brasileiros, se vão por não mais acreditarem em seus países, suprema vergonha, dolorosa desilusão.

 

 

SACHA CALMON

Advogado