Correio braziliense, n. 19295, 24/03/2016. Política, p. 3

Marqueteiros são indiciados

Santana e Mônica vão responder por corrupção passiva,lavagem de dinheiro e participação na organização que desviava recursos da Petobras

 

A Polícia Federal indiciou criminalmente o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e participação na organização criminosa que desviava recursos da Petrobras. Os dois serão denunciados na próxima semana pela força-tarefa da Operação Lava-Jato ao juiz federal Sérgio Moro.

Eles são acusados pelo recebimento de US$ 7,5 milhões, entre 2012 e 2014, do esquema de corrupção descoberto pela Lava-Jato na Petrobras. O dinheiro foi depositado em conta secreta que Santana e a mulher mantinham na Suíça, em nome da offshore Shellbill Finance.

Os valores foram pagos pela empreiteira Odebrecht — o presidente afastado do grupo Marcelo Odebrecht anunciou a intenção de fazer acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal — e por Zwi Skornicki, apontado como operador de propinas do esquema na Petrobras.

"A inserção de codinomes é claro indicativo de que se trata de operação à margem da contabilidade da empresa, buscando mascarar pagamentos não contabilizados de forma oficial”

Márcio Anselmo, delegado da Polícia Federal

 

Santana e Mônica estão presos em Curitiba desde 23 de fevereiro, alvos da Operação Acarajé — 23ª fase da Lava Jato.

Com o casal, também foram denunciados Zwi Skornicki, pelos crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa, Bruno Skornicki, também apontado como operador do esquema, por lavagem de dinheiro, Eloisa Skornicki, operadora, por corrupção ativa e manutenção de conta não declarada, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, pelo crime de corrupção passiva, e Armando Ramos Tripodi, que ocupou o cargo de chefe de gabinete durante a gestão José Sergio Gabrielli na estatal, por corrupção passiva.

 

Pagamentos

A Polícia Federal apontou no relatório de indiciamento de João Santana e de Mônica Moura que o casal recebeu pelo menos R$ 21,5 milhões entre outubro de 2014 e maio de 2015 — período pós-reeleição da presidente Dilma Rousseff — do que os investigadores chamam de “departamento de propina” da Odebrecht.

No documento, encaminhado na noite de ontem ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava-Jato na 1ª instância da Justiça em Curitiba, a PF listou todos os repasses lançados na planilha controlada pela ex-secretária da Odebrecht Maria Lúcia Tavares, que fez acordo de delação premiada, em nome do codinome “Feira”. O termo era usado, segundo a secretária confessou, para identificar João Santana e a mulher, que são da região de Feira de Santana, na Bahia.

Para o delegado da PF Márcio Anselmo, que apresentou relatório de indiciamento do casal, a “inserção de codinomes é claro indicativo de que se trata de operação à margem da contabilidade da empresa, buscando mascarar pagamentos não contabilizados de forma oficial”. Há, ainda, o registro de senhas que eram usadas pelos entregadores do dinheiro.

A defesa do ex-marqueteiro do PT afirma que seu cliente é inocente. O advogado Fábio Tofic afirma que os recebimentos da empreiteira Odebrecht alvo do inquérito foram por serviços prestados pelo publicitário João Santana fora do Brasil. Mônica Moura, que é empresária e sócia do marido, trocou seu advogado no mês passado e tenta um acordo de delação premiada com a força-tarefa da Operação Lava Jato.