Título: Iriny parte agora para as peças de ficção
Autor: Gama, Junia
Fonte: Correio Braziliense, 07/10/2011, Brasil, p. 7

Após pedir retirada de comercial com Gisele Bündchen, secretária de Políticas para a Mulheres solicita à Globo que altere novela e acabe com quadro humorístico. Segundo ela, as imagens exibem "violência simbólica" Júnia Gama

Após o polêmico pedido de suspensão da propaganda em que Gisele Bündchen ensina a contar uma má notícia ao marido vestindo apenas roupa íntima, a Secretaria de Políticas para as Mulheres decidiu interferir na novela Fina Estampa e no humorístico Zorra Total, ambos da TV Globo, por considerar haver "violência simbólica" contra a mulher nas peças de ficção.

Na quarta-feira, a ministra da pasta, Iriny Lopes, enviou ofício à emissora sugerindo que a personagem Celeste, interpretada por Dira Paes, procure a Central de Atendimento à Mulher ¿ Ligue 180 quando sofrer agressão do marido. A ministra pede ainda que o personagem agressor seja responsabilizado. Segundo a secretaria, a personagem é sistematicamente agredida, mas não tem coragem de denunciar o marido. No site da pasta, a ministra avalia: "A ficção tem força para alertar a sociedade contra esse mal que aflige milhares de mulheres, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro".

Ontem, a secretaria endossou o pedido do Sindicato dos Metroviários de São Paulo para que o quadro Metrô Zorra Brasil seja retirado do ar pela TV Globo. O quadro se passa em um vagão lotado, em que uma das usuárias é assediada e, ao queixar-se para a colega, é aconselhada a aproveitar a situação. Segundo a entidade, o programa "incita a violência sexual". "O quadro, longe de transparecer qualquer ingenuidade, banaliza, de forma sarcástica, a situação de violência a que estão expostas milhares de usuárias do Metrô todos os dias", defende a nota do sindicato.

Iriny divulgou nota de apoio à entidade. "Parabenizamos a iniciativa e endossamos a necessidade de ações como essa, que visam desconstruir discursos de uma cultura que, até camuflada no humor, perpetua a violência simbólica contra as mulheres", diz o documento divulgado ontem.

Reações O professor de Comunicação da PUC-RJ, Sergio Mota, critica a tentativa de interferência em obras de ficção. "Isso é uma censura aberta. Tem tantas coisas mais importantes para a secretaria se preocupar, como o enfrentamento da violência contra a mulher, os assassinatos e a discriminação no trabalho", afirma. A professora de Sociologia da Universidade de Brasília, Berlindes Astrid Kuchemann, aprova a interferência. "O simbólico conduz as ações de violência e esses programas têm uma responsabilidade muito grande sobre isso. É preciso aproveitar esses mecanismos de discussão", diz.

A ministra foi abordada pelo Correio na saída do Fórum sobre Direito e Cidadania, ocorrido na tarde de ontem, no Palácio do Planalto, mas disse que não iria falar sobre o caso. A assessoria de imprensa da pasta informou, por telefone, que Iriny não monitora todos os programas de televisão e campanhas publicitárias, e que a ouvidoria é o órgão da secretaria responsável pelo recebimento de denúncias que são repassadas à ministra para que ela tome providências.

Colaborou Vinícius Sassine

Rafinha no MP As declarações do humorista Rafael Bastos, do programa CQC, serão averiguadas pelo Ministério Público de São Paulo, segundo o senador Magno Malta. Em plenário do Senado, ele afirmou que um procedimento já está em curso no órgão. O humorista teria ofendido a cantora Wanessa, que está grávida, ao afirmar: "Comeria ela e o bebê". O senador ainda lembrou que outro processo já havia sido aberto contra o humorista, quando ele fez, em maio, piada com o crime de estupro.