O globo, n. 30.185, 29/03/2016. País, p. 11

Apesar de surto de H1N1 em SP, vacinação não será antecipada

Ministério da Saúde confirma campanha só a partir de 30 de abril

Por: Luiza Souto/ Mariana Timóteo da Costa

 

SÃO PAULO- Embora diante de uma série de mortes provocadas por um surto de gripe, o Ministério da Saúde informou ontem, em nota oficial, que não vai antecipar a campanha de vacinação contra a doença, que protege contra três subtipos da influenza, incluindo o H1N1. O governo do estado de São Paulo havia pedido antecipação da campanha, dado o surto de H1N1, que já provocou a morte de 38 pessoas no estado somente este ano, contra outros 46 óbitos em todo o país. Ainda em relação a São Paulo, 36 pessoas morreram nos 12 meses de 2015 com H1N1 em cidades paulistas. No Brasil, a doença já contaminou 305 pessoas somente este ano; em 2015, o total de casos foi 141.

“O Ministério da Saúde informa que a campanha de vacinação contra a influenza deste ano está prevista para ser realizada entre os dias 30/ 04 a 20/ 05 em todo o país, sendo 30 de abril o dia D de mobilização nacional. Vale ressaltar que a campanha é realizada neste período porque o imunobiológico só é entregue pelo laboratório produtor nos meses que antecedem o inverno”, informou a nota. O Ministério da Saúde autorizou o estado de São Paulo a utilizar os lotes da vacina de 2015, para regiões em que a circulação do vírus da influenza iniciou mais cedo.

Com a filha caçula no colo chegando aos 40 graus de febre e muita tosse, a professora Ana Caudia Rigrini, de 37 anos, falava do pavor de se deparar com o diagnóstico da doença na pequena Ana Carolina, de apenas um ano. Numa fila de espera de aproximadamente cinco horas, no Hospital Infantil Sabará, em Higienópolis, centro de São Paulo, ela conta que a menina está há 14 dias tomando antibiótico para gripe, e que ontem tentaria fazer exames que detectam o vírus.

— Tenho várias amigas com filhos que estão com H1N1. Deus me livre. Espero que não seja nada!

Por e- mail, a assessoria de imprensa do hospital informou que houve 38 casos confirmados de H1N1 na unidade. Destes, 30 com internação.

Luis Fernando Aranha de Camargo, gerente de pesquisa clínica do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, em São Paulo, acredita que o surto chegou mais cedo ao Brasil porque pegou “muita gente desprotegida”, já que a vacina demora muito para chegar no Brasil.

— A vacina fica pronta lá fora antes do inverno no Hemisfério Norte ( novembro do ano anterior), deveria chegar aqui no fim de fevereiro e não no final de abril — afirma Camargo, para quem a campanha deveria também ser estendida a toda a população.

 

GRIPE COMUM PODE FICAR MAIS SÉRIA

Segundo ele, o que difere o H1N1 da gripe comum não é a intensidade dos sintomas, e sim as complicações decorrentes da gripe, especialmente a pneumonia:

— A gripe comum fica séria em pessoas debilitadas, já o H1N1 pode ficar séria em pessoas completamente saudáveis. Gestantes e obesos fazem parte do grupo de risco, ainda não sabemos exatamente o porquê. Quem puder, se vacine. Acho que o Brasil é o único país do mundo sob a ameaça de quatro doenças infecciosas ao mesmo tempo: dengue, zika, chicungunha e agora H1N1.

Camargo lembra, no entanto, que não há motivo para pânico já que, na grande maioria dos casos, a doença evolui normalmente.

O Ministério da Saúde esclarece ainda que, mesmo as pessoas que tomarem vacina contra a gripe, devem voltar na campanha para se vacinar contra “o novo H1N1” e contra os dois outros tipos de vírus que a vacina trivalente cobre, H3N2 e Influenza B. O intervalo entre uma vacina e outra deve ser de 30 dias.