Agência confirma repasse ilegal do PT

29/03/2016

A empresária Danielle Fonteles, uma das donas da agência Pepper Comunicação Interativa, que prestava serviços ao PT, confirmou em acordo de delação premiada firmado com investigadores da Operação Acrônimo o recebimento de R$ 6,1 milhões, de forma irregular, por serviços prestados à campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010. O pagamento, segundo ela, foi feito pela empreiteira Andrade Gutierrez por meio de contratação simulada.

O depoimento da empresária reforça declarações de executivos da empreiteira, que já haviam revelado o financiamento ilegal em colaboração com a Operação Lava Jato. Oficialmente, a coligação de Dilma contratou a Pepper para fazer sua propaganda na internet e pagou R$ 6,4 milhões, registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O valor “por fora” foi transferido pela Andrade à agência em 16 parcelas, entre janeiro e dezembro do ano eleitoral.

Conforme fonte com acesso ao caso relatou ao Estado, Danielle disse que os pagamentos da empreiteira foram feitos por orientação do governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), que, na época, era um dos principais coordenadores da campanha da petista.

O acordo, negociado pela defesa da empresária com a Procuradoria- Geral da República (PGR), terá ainda de ser homologado pelo ministro Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça. A previsão é de que alguns dos termos sejam enviados ao Supremo Tribunal Federal, devido às citações à presidente.

Nos depoimentos, a empresária também relatou que a OAS pagou à Pepper por serviços à campanha de Rui Costa(PT) ao governo da Bahia, em 2014.

Danielle vinha resistindo, mas decidiu falar com o avanço das investigações da Acrônimo e a citação de sua empresa em inquéritos da Lava Jato. A notícia sobre a assinatura do acordo de delação foi divulgada no sábado pelas revistas Veja e Época, e confirmada pela reportagem. A colaboração envolve também detalhes sobre o relacionamento da Pepper com Pimentel, a mulher dele, Carolina Oliveira, e o empresário Benedito Rodrigues, o Bené, apontado como operador do petista em esquemas ilícitos.

A primeira-dama de Minas é suspeita de ser sócia oculta da agência. O governador é investigado por, supostamente, receber vantagens indevidas de empresas que tinham relacionamento comercial com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), instituição subordinada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que ele comandou de 2011 a 2014.

A Acrônimo também apura o uso irregular de recursos na campanha de Pimentel em 2014. Em 2014, a empresa trabalhou para o PT na criação de sua agência de notícias e na gestão da página da presidente Dilma no Facebook.

Defesas. Procurada, a defesa de Danielle não quis comentar.

O PT, procurado ontem, não se pronunciou sobre a acusação de financiamento irregular da campanha de 2010. O tesoureiro da coligação de Dilma naquele ano, José Di Filippi, e o advogado da presidente no TSE, Flávio Caetano, não atenderem aos telefonemas da reportagem. O partido tem negado irregularidades.

A defesa de Pimentel reafirmou “sua absoluta tranquilidade em relação aos fatos em apuração” e reiterou a “confiança na atuação das autoridades responsáveis”. Em nota, lamentou “as divulgações precipitadas e seletivas de informações que deveriam estar sob sigilo, até mesmo no interesse da investigação”, e se disse “à disposição da Justiça”.

O presidente do PT baiano, Everaldo Anunciação, disse desconhecer pagamento da OAS por serviços à campanha de Rui Costa. Ele afirmou que o partido quitou parte da dívida com a Pepper, mas outra parte permanece pendente, o que foi oficialmente informado à Justiça Eleitoral.

Campanha

R$ 6,1 mi é o valor recebido pela agência Pepper, de forma irregular, por serviços prestados à campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010. O pagamento, segundo uma das donas da empresa, Danielle Fonteles, foi feito pela empresa Andrade Gutierrez.

 

O Estado de São Paulo, n.44723, 29/03/2016. Política, p. A11