O globo, n. 30.169, 13/03/2016. País, p. 9

PMDB reelege Temer e veta nomeações no governo

Indicado para ministério, deputado Mauro Lopes diz que decisão da convenção ‘não tem valor’ e insiste no cargo

Por: JÚNIA GAMA, ANDRÉ SOUZA DE E SIMONE IGLESIAS

 

- BRASÍLIA- Em uma demonstração de que o afastamento do governo Dilma Rousseff está em andamento, a convenção do PMDB aprovou ontem uma moção que impede qualquer peemedebista de assumir novos cargos no governo nos próximos 30 dias, período no qual o partido decidirá se vai de fato desembarcar da aliança que mantém com a presidente Dilma Rousseff desde 2010.

Dessa forma, o deputado Mauro Lopes (MG), que aguardava sua nomeação para assumir a Secretaria de Aviação Civil, prometida pelo Planalto para a próxima semana, ficará impedido pelo partido de se tornar ministro. Lopes disse ao GLOBO que a moção “não tem nenhum valor” e que sua decisão será tomada independentemente do que deseja o partido. Ao fim da convenção, no entanto, o comando partidário referendou a moção e definiu que quem assumir cargos no governo poderá ser levado à Comissão de Ética.

— Já fui convidado. Tenho confiança sem limite no Michel Temer e vou conversar com ele depois do resultado da convenção. Sei do equilíbrio e da responsabilidade que ele tem com o país. Vamos decidir com elegância e lealdade ao governo — disse Lopes.

Reconduzido à presidência do PMDB por mais dois anos, o vice-presidente Michel Temer fez um discurso ameno. Após comentar as crises política e econômica no país, o presidente voltou a pregar união.

— Não é hora de dividir os brasileiros, de acirrar os ânimos. Não é hora de levantar muros. A hora é de construir pontes — afirmou o vice, que está no comando partidário há 15 anos e foi reeleito de forma praticamente unânime.

A princípio, nenhuma moção seria votada na convenção, que estaria focada apenas na eleição da nova Executiva do PMDB. Porém, sob forte pressão dos antigovernistas, que eram ampla maioria, a cúpula cedeu e acatou a proibição de peemedebistas aceitarem cargos no governo. Agora, disse um integrante da cúpula, “é aguardar o avanço do impeachment no Congresso.”

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Convenção é marcada por ataques a Dilma e ao PT

Nem mesmo os cinco ministros presentes ao evento saíram em defesa do Planalto

 

- BRASÍLIA- A convenção do PMDB ontem foi marcada pelas críticas sucessivas ao governo Dilma Rousseff e ao PT. Desde cedo, a presidente e seu partido foram alvo de ataques e palavras de ordem dos convencionais. Deputados ligados ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), que estava no encontro, puxaram o coro. Darcísio Perondi (RS), ao microfone, liderou os gritos de “Fora, Dilma!”. Carlos Marun (PMDB-MS) liderou o “Saída já!”. Os peemedebistas também gritaram “Fora, PT!”.

Os cinco ministros peemedebistas de Dilma presentes ao encontro — Marcelo Castro ( Saúde), Helder Barbalho (Portos), Eduardo Braga (Minas e Energia), Henrique Alves (Turismo) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) — apenas assistiram aos ataques, sem fazer qualquer defesa do governo que integram.

 

GRITOS DE ‘FORA DILMA!’

Perondi comparou a Lava-Jato à Operação Mãos Limpas, que desvendou um esquema de corrupção na Itália e dizimou alguns partidos políticos. Segundo ele, o PMDB corre esse risco se permanecer no governo.

— Quando o PMDB quer, o Brasil muda. Fora, Dilma! Fora, Dilma! Fora, Dilma! — discursou Darcísio Perondi, sendo acompanhado pelo público.

A senadora Marta Suplicy (SP), que foi ministra do Turismo no governo Lula e da Cultura no primeiro governo Dilma, defendeu o rompimento. Ela bateu forte no governo do PT, partido que ajudou a fundar e ao qual estava filiada até o ano passado. O classificou como corrupto e incompetente. E lembrou episódios do passado do PMDB, como a luta contra a ditadura, para argumentar que seu atual partido tem compromisso com a democracia.

— O impeachment da presidente vem tarde. Se tivéssemos tomado essa posição antes, não estaríamos assim. O governo é corrupto e incompetente, com uma presidente que não dá conta do recado, uma presidente isolada e que não consegue governar. De modo que apoiamos, sem sombra de dúvida, a saída do governo o quanto antes — disse Marta.

Regina Perondi, do PMDB Mulher, também discursou e defendeu que Temer assuma o Planalto:

— Fora Dilma, Michel já — disse, inflamando a plateia, que gritou em coro “Fora, Dilma”.

— Brasil, para frente, Temer presidente — gritaram os manifestantes pouco depois.

Uma moção do diretório estadual baiano também defendeu abandonar Dilma. “Solicitamos a imediata saída do PMDB da base de sustentação do Governo Federal, com a entrega de todos os cargos em todas as esferas da Administração Pública Federal”, dizia trecho do documento. Ela acabou, no entanto, não sendo votada e deve ser analisada pelo diretório nacional em até 30 dias.

Durante a convenção, foi distribuída também a chamada “Carta de Brasília”, apoiada por deputados e diretórios estaduais, pedindo “independência e afastamento do governo já!”. Segundo os organizadores, o grupo é composto pelos diretórios do Acre, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e São Paulo.

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