O globo, n. 30.169, 13/03/2016. País, p. 10-11

Atos contra Dilma estão previstos em 400 cidades

Desta vez, políticos de oposição participam da organização; presidente pede paz e que protestos sejam respeitados

Por: EDUARDO BRESCIANI E LUIZA SOUTO

 

BRASÍLIA E SÃO PAULO- Convocadas com três meses de antecedência e contando pela primeira vez com políticos em sua organização, as manifestações contra a presidente Dilma Rousseff previstas para hoje têm um combustível adicional: os avanços nas investigações da Operação Lava-Jato contra o governo e o PT.

Por isso, os organizadores trabalham com a estimativa de que o público em mais de 400 cidades seja maior do que nos protestos anteriores. Há ainda a expectativa de que, em São Paulo, supere-se a marca de um milhão de pessoas na Avenida Paulista, alcançada um ano atrás. Eles esperam ainda que haja participação maior nas capitais do Nordeste, principalmente em Recife.

— A expectativa é muito grande. Estou até ansioso, porque a gente pode estar às vésperas das maiores manifestações da História do Brasil. Serão atos de uma dimensão muito grande — diz Rubens Nunes Filho, do Movimento Brasil Livre (MBL).

Ontem, em visita a Franco da Rocha, uma das cidades mais atingidas pelas chuvas na Grande São Paulo, a presidente Dilma Rousseff pediu que as pessoas evitem violência durante os protestos contrários ao seu governo.

— Para mim, é muito importante a democracia em nosso país. Acredito que o ato de amanhã (hoje) deve ser tratado com todo respeito. Não acho que seja cabível e acho um desserviço para o país qualquer ação que constitua provocação, sofrimento e ato de violência em qualquer espécie. Faço um apelo pela paz e pela democracia — pediu Dilma.

Para evitar conflitos, algumas capitais, como São Paulo, vetaram manifestações favoráveis a Dilma e ao ex-presidente Lula, convocadas para o mesmo dia.

Em Chapecó (SC), os protestos contra o governo começaram ontem mesmo. Segundo a Polícia Militar, a manifestação, que tomou as ruas do Centro da cidade, reuniu cerca de 12 mil pessoas. Os organizadores estimaram entre 25 e 30 mil participantes.

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‘Quadrilha se instalou no governo’
Coordenador do Movimento Brasil Livre diz que crise incentiva protestos

Por: FERNANDA KRAKOVICS

 

A crise política levará as pessoas para a rua hoje?

Com certeza. A delação do Delcídio ( Amaral), a denúncia feita pelo (promotor Cassio) Conserino (contra Lula) têm mostrado às pessoas que não tem ninguém acima da lei. Isso motiva as pessoas a lutar contra a quadrilha que se instalou no governo.

 

Qual o público esperado nas manifestações?

O número de confirmações (em redes sociais) beira cinco milhões. Em São Paulo, o secretário de Segurança divulgou o número de um milhão. A gente trabalha na proximidade desse número.

 

Teme que haja confrontos?

De forma alguma. A Polícia Militar não vai permitir que esses grupos ( apoiadores do governo) se aproximem da Avenida Paulista.

 

O pedido de prisão preventiva de Lula vai acirrar os ânimos?

Tivemos reunião com o governador (de São Paulo) Geraldo Alckmin e haverá bolsões da polícia. Ninguém com bandeira contrária (à manifestação contra o governo) vai passar.

 

Governistas dizem que é um movimento golpista.

Golpista é o PT, que se enraizou no poder, aparelhou o Judiciário, o Legislativo, por meio do mensalão, do petrolão.

 

A presença de políticos da oposição respalda a acusação de golpismo?

A oposição ir às ruas é dar mais legitimidade ao pedido de impeachment. A gente depende da oposição para que o impeachment seja aprovado.

 

Se tiver impeachment, assume o vice Michel Temer. Ele é a solução?

Não posso dizer que Michel Temer é a solução ou que não é. Ele nunca assumiu o poder. O que não posso aceitar é que a gente dê anuência a um governo criminoso pelo fato que pode ser ruim a gestão Temer. Se não for adequada, a gente toma as medidas contra ele.

Senadores relacionados:

  • Delcídio do Amaral

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‘Vamos defender o mandato’
Coordenador do MST propõe uma paralisação nacional em apoio a Dilma

 

Defensores de Dilma e Lula vão para a rua hoje?

Não, a orientação é para que nossos militantes de esquerda não caiam em provocação e não façam manifestação hoje. Estamos orientando as pessoas a fazer rodas de samba, plenárias, debate, mas não há atividade de rua. Tem provocação puxada de todo lado.

 

O pedido de prisão preventiva de Lula vai acirrar os ânimos?

É provocação o que estão fazendo. É uma casca de banana, mas não vamos cair nessa.

 

Como serão as manifestações em defesa do governo dias 18 e 31?

Ainda estamos discutindo, mas não pode ser só marchas e comícios nas capitais. Nossa ideia é combinar também o elemento da cultura, para dialogar com a juventude. Outro componente é a classe trabalhadora se envolver, então tem que parar a produção. Temos que tentar fazer greves, parar as rodovias no país afora. Estamos fazendo esforço para que a sextafeira (dia 18) seja mais do que uma linda marcha, seja um dia de paralisação nacional.

 

Essas manifestações vão pedir mudanças na política econômica?

As posições dos movimentos populares são diferentes das posições partidárias. Tem que trocar o pneu com o carro andando. Vamos defender a democracia, o mandato da presidenta, mas ela tem que fazer intervenções bruscas na política econômica. Você imagina que o orçamento da reforma agrária este ano é negativo. O governo está com déficit no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) de R$ 250 milhões.

 

Não é um contrassenso defender e ao mesmo tempo atacar o governo?

Fazer crítica ao governo não quer dizer que somos contra o governo. Vamos defender a legalidade do mandato (de Dilma), mas temos discordâncias profundas com o governo do ponto de vista da política econômica.