Janot diz que gravação de conversa entre Lula e Dilma não afronta Constituição
 
Procurador-geral da República considera legal captação e divulgação do diálogo no qual Dilma avisa a Lula que enviara o termo de posse na Casa Civil para ser usado ‘só em caso de necessidade’; Lava Jato suspeita que o áudio configuraria tentativa de obstrução da Justiça

Informado pela força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, concordou com o pedido para a revogação do sigilo das interceptações telefônicas que captaram uma conversa entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em Paris, Janot disse ontem, 18, que a divulgação da conversa entre Lula e Dilma não afronta as garantias constitucionais da Presidência, pois o alvo da interceptação era o ex-presidente, que não contava com foro privilegiado. O procurador-geral afirmou que apoiou o levantamento de sigilo dos grampos, mas desconhecia o teor das conversas.

A decisão do juiz federal Sérgio Moro, apoiada por entidades do Judiciário e do Ministério Público, gerou forte reação no governo. Num evento em Feira de Santana, na Bahia, Dilma manteve a ofensiva contra Moro e disse que um presidente “não pode ser grampeado sem autorização expressa da Suprema Corte”.

O caso também continua repercutindo no Supremo Tribunal Federal. O ministro Gilmar Mendes suspendeu a nomeação de Lula como ministro-chefe da Casa Civil e decidiu que o processo do petista deve ficar com Moro na primeira instância. Um dia após as críticas do decano Celso de Mello, o presidente da Corte, Ricardo Lewandowski, afirmou que o Supremo “jamais esteve acovardado”, em mais uma reação às declarações do ex-presidente. Teori Zavascki, relator da Lava Jato na Corte, fez um discurso em Ribeirão Preto no qual afirmou que o “papel do juiz é de resolver conflitos, e não criar conflitos”. Apesar de ele não citar nomes, as declarações foram interpretadas como um recado para Moro.

Nos atos pró-Dilma pelo País, Lula foi a estrela da manifestação na Avenida Paulista, que reuniu 80 mil pessoas, segundo a Polícia Militar. Ele discursou de um carro de som e disse que decidiu assumir a Casa Civil para ajudar Dilma a governar. A presidente viu sua base no Congresso diminuir com a confirmação da saída PRB. Com isso, o ministro do Esporte, George Hilton, anunciou que deixa o partido para se manter no cargo.