'Não vai ter golpe', diz diz Lula na paulista

A manifestação contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff realizada ontem, 18, na Avenida Paulista reuniu, segundo a Polícia Militar, 80 mil pessoas no seu ápice, às 18hs45. No ato, o ex-presidente falou pela primeira vez desde que aceitou o cargo de ministro da Casa Civil.

Lula discursou de cima de um carro de som antes do anúncio da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que suspendeu sua nomeação para a chefia da Casa Civil do governo. O ex-presidente afirmou que vai para o governo“ para ajudar e não para brigar”. Embora tenha dito que a partir de agora voltará a ser o “Lulinha paz e amor”, o petista entrou no clima do evento e gritou “não vai ter golpe”.

A movimentação na Paulista, que no último domingo foi palco da maior manifestação já registrada em defesa do impedimento de Dilma, começou logo cedo ontem, mais precisamente às 9hs. Nesse horário a PM usou jatos de água e bombas de gás lacrimogêneo para dispersar um pequeno grupo de manifestantes pró-impeachment que estava acampado em frente a sede Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O grupo permanecia no local desde a última quarta-feira, quando o ex-presidente Lula foi anunciado como ministro. Com essa medida, a secretaria de Segurança Pública dissipou o temor de um confronto generalizado e cumpriu o acordo selado com os líderes da Frente Brasil Popular, que reúne entidades como CUT, UNE, CMP e MST e partidos de esquerda.

A avenida começou a ser ocupada novamente por volta das 15h. A sede da Fiesp, que nos últimos dias se tornou o ponto de encontro dos manifestantes antigoverno, recebeu reforço de segurança da PM, mas mesmo assim foi alvo de hostilidades. A entidade decidiu apagar o painel luminoso como a palavra ‘impeachment’ que estava em funcionamento desde quarta.

 

Críticas. Os manifestantes, que ocuparam 11 quarteirões, revezaram palavras de ordem contra o impeachment com críticas ao juiz Sérgio Moro, que coordena as investigações da Lava Jato em primeira instância. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e os veículos de imprensa também foram alvo dos militantes.

A manifestação, que dessa vez foi estática e teve seu epicentro em frente ao Masp, recebeu líderes partidários, sindicais e políticos como o prefeito Fernando Haddad (PT), Rui Falcão, presidente do PT, o ex-ministro Alexandre Padilha, o ex-senador Eduardo Suplicy e vários parlamentares. Em sua fala, Falcão chamou Lula de “ministro da esperança” e condenou o que chamou de “golpe”. Esse aliás, foi o mote central do ato.

Durante seu discurso, Lula reforçou que pretendia ajudar o governo Dilma. “Eu não vou lá para brigar. Vou lá para ajudar a companheira Dilma a fazer as coisas que ela tem que fazer neste país”, justificou Lula na primeira vez em que se referiu à sua ida ao governo. O ex-presidente, que há duas semanas se comparou a uma “jararaca”, disse que resistiu desde agosto a aceitar o cargo de ministro e agora voltará a agir da forma como governou o país.

“Eu vim para cá pensando em como falar sem ficar nevoso. Porque tem muita gente que acha que eu vou atacar. Na hora que a companheira Dilma me chamou eu relutei muito desde agosto do ano passado para aceitar ir para o governo. E ao aceitar vejam o que aconteceu comigo. Virei outra vez Lulinha Paz e Amor”, disse ele. Na segunda vez em que tentou justificar sua ida para o governo, Lula citou a retomada do crescimento econômico, alvo de críticas e cobranças à atuação de Dilma.

 

O Estado de São Paulo, n.44713, 19/03/2016. Política, p. A10