O globo, n. 30.168, 12/03/2016. País, p. 4

PMDB espera fim rápido, e Cunha prepara rito para impeachment

Presidente da Câmara calcula que pedido pode ser votado em 45 dias

Por: Isabel Braga/ Simone Iglesias/ Júnia Gama

 

-BRASÍLIA - Caso o Supremo Tribunal Federal resolva na próxima quarta-feira o rito do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), prometeu ontem que levará o pedido rapidamente ao plenário, que poderá analisá-lo em 45 dias. Cunha é o autor do recurso contra a regra definida pelo próprio STF para a tramitação do pedido.

— Se você respeitar todo o cronograma estipulado na lei e no regimento, começando a partir de quinta-feira, se seguir o rito e os prazos, 45 dias é um prazo razoável. Vamos ver o que o Supremo decide. Não posso dizer que eu vou instalar (a comissão), quero ver o que o Supremo vai decidir. Mas, na quinta (se houver decisão do STF), o processo volta ao curso da continuidade — disse Cunha.

O presidente da Câmara, no entanto, disse que não é possível afirmar, com certeza, que o prazo será seguido, porque há fatores que podem influenciar a tramitação, como movimento de obstrução por parte dos deputados e recursos que possam ser feitos à Justiça. O próprio Cunha se vale de todo tipo de manobra para atrasar a análise do processo de cassação a que responde no Conselho de Ética, em decorrência das denúncias de recebimento de propina.

O desfecho rápido do processo — e do governo Dilma — não é esperado apenas por Cunha, adversário do Planalto. O presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani (PMDB-RJ), e outros caciques peemedebistas estão botando prazo de validade no governo petista. A cúpula do partido, que se prepara para a convenção nacional hoje, não acredita em reação de Dilma e chega a falar que o governo acabará dentro de um mês.

Em reunião com servidores e deputados, quarta-feira, Picciani, que se transformou em importante aliado do governo, afirmou: “O governo federal vai cair nos próximos três meses”.

 

APROXIMAÇÃO COM TUCANOS

Em Brasília, o sentimento é de que o impeachment torna-se, a cada dia, mais fortalecido. A cúpula do PMDB avalia que a falta de perspectivas com Dilma levou o diretório do Rio a apoiar a reeleição de Temer a presidente do partido, por aclamação.

A mesma análise é feita sobre o presidente do Senado, Renan Calheiros, que ensaiou dificultar a recondução de Temer, mas acabou recompondo. Internamente, peemedebistas apostam no prazo de validade de Dilma, variando de 30 dias a 5 meses.

Recolhido, Temer telefonou quinta-feira para o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), para parabenizá-lo pelo aniversário. O tucano relatou a Temer uma conversa muito proveitosa em jantar com a cúpula dos peemedebistas no Senado, no dia anterior. Os dois combinaram de conversar “futuramente” sobre os rumos do país. No encontro, na casa do senador Tasso Jereissati (PSDBCE), integrantes dos dois partidos combinaram de “caminhar juntos” e buscar alternativas.

— Não podemos ficar paralisados vendo o país derreter — disse Eunício Oliveira (CE), líder do PMDB no Senado.

Há 15 anos presidente do PMDB, Temer será reconduzido ao cargo, por aclamação, numa demonstração de unidade em torno do afastamento do governo. Sem poder romper formalmente, já que Temer é vice-presidente eleito, o partido sinalizará descontentamento com a petista e garantirá aos deputados e senadores independência em relação ao Planalto nas votações, inclusive sobre o impeachment.

Renan, considerado por Dilma um importante aliado, é um dos que está redigindo o documento que será aprovado na convenção e que dirá que o compromisso do PMDB é com o país, e não com o governo.

Serão apresentadas moções pelo rompimento com o Planalto por membros do partido na Bahia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Os peemedebistas deverão juntá-las em um documento único, dando ao diretório nacional prazo de 30 dias para aprovar o rompimento. A estratégia é esperar o avanço do impeachment.

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    Em delação, Delcídio acusa ministro Edinho Silva

    Senador também aponta que propina de Belo Monte irrigou campanhas
     

    -BRASÍLIA- O senador Delcídio Amaral (PT-MS) disse na proposta de acordo de delação que teria havido pagamento de propina na obra da hidrelétrica de Belo Monte. Ele também acusou o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, de pedir que recursos de empresa farmacêutica, obtidos por meios de contratos fictícios, fossem usados para pagar despesas da campanha de 2014. Em novos trechos da delação divulgados pela revista “IstoÉ", Delcídio também fez acusações aos ex-ministros da Casa Civil Antonio Palocci e Erenice Guerra e a Silas Rondeau (Minas e Energia).

    Segundo a “IstoÉ”, Delcídio afirmou que na campanha eleitoral de 2014 foi procurado por Edinho Silva, então tesoureiro da candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Delcídio disputava o governo do Mato Grosso do Sul. O senador contou que Edinho teria pedido para que “pagasse R$ 1 milhão do saldo da dívida de sua campanha”, sem deixar claro se estava se referindo à campanha de Dilma ou do próprio Delcídio.

    Edinho teria apontado débitos de R$ 500 mil com a empresa de assessoria FSB Comunicação, e outros R$ 500 mil com Zilmar Fernandes, sócia de Duda Mendonça. O pagamento seria feito por meio de contratos fictícios com o laboratório EMS.

    Delcídio disse, na delação, que chegou a pedir que a FSB e Zilmar emitissem notas fiscais para o laboratório, mas reconheceu que os pagamentos não foram feitos, e que os dois credores retiraram as notas por temer envolvimento com o laboratório.

    Em nota, Edinho rebateu as acusações: “A afirmação é uma mentira escandalosa. Jamais mantive esse diálogo com o senador, jamais mantive contato com as mencionadas empresas, antes ou durante a campanha eleitoral. Isso é facilmente comprovado. As doações para a campanha de Dilma em 2014 estão todas declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral, bem como os fornecedores. As contas da campanha foram todas aprovadas por unanimidade pelos ministros do TSE”.

     

    TRIUNVIRATO EM BELO MONTE

    Em nota, a FSB afirma que nunca recebeu recursos da EMS, “empresa que jamais foi cliente da agência”, e acrescenta que está processando o diretório de Mato Grosso do Sul do PT para receber os valores devidos por serviços prestados na campanha de 2014.

    Em outro trecho, Delcídio afirma que um “triunvirato” formado por Palocci, Erenice e Rondeau atuou para definir o projeto de Belo Monte, o que teria garantido a participação de empresas que iriam, em contrapartida, dar dinheiro para campanhas do PT e do PMDB. Segundo a delação, as propinas ligadas à obra de Belo Monte seriam de pelo menos R$ 30 milhões, mas o próprio senador admitiu que o valor poderia ser ainda maior.

    “A propina de Belo Monte serviu como contribuição decisiva para as campanhas eleitorais de 2010 e 2014”, afirmou Delcídio. “A atuação do triunvirato formado por Silas Rondeau, Erenice Guerra e Antônio Palocci foi fundamental para se chegar ao desenho corporativo e empresarial definitivo do projeto Belo Monte”. A delação do senador ainda não foi homologada pelo ministro Teori Zavascki, do STF.

    Delcídio disse que a corrupção em Belo Monte ocorreu tanto na execução das obras civis, orçadas em R$ 19 bilhões, como na compra de equipamentos, avaliados em R$ 4,5 bilhões.

     

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