O globo, n. 30.168, 12/03/2016. País, p. 6

PT desiste de ato em Brasília perto de protesto contra Dilma

Grupos pró-impeachment exploram na internet pedido de prisão de Lula

Por: Renata Mariz/ Stella Borges/ Silvia Amorim/ Tiago Dantas

 

-BRASÍLIA E SÃO PAULO- O diretório do PT do Distrito Federal desistiu ontem à noite de realizar um ato a favor da presidente Dilma Roussef amanhã, dia em que será realizada a manifestação a favor do impeachment. O diretório tinha contrariado a orientação da direção nacional do partido de abortar todos os atos no dia 13, para evitar o risco de confronto. Em nota divulgada à noite, o presidente do PT regional, Policarpo Quaresma, alegou que desistiu do ato depois de ser avisado pela Secretaria de Segurança do DF de que policiais iriam barrar o acesso dos petistas ao local.

A Polícia Militar do Distrito Federal estima que 110 mil pessoas vão comparecer à marcha pelo impeachment na Esplanada dos Ministérios. No caso do ato petista, não havia previsão de público, por ter sido marcado recentemente.

Na terça-feira, a Secretaria de Segurança havia sido comunicada pelo PT regional sobre a intenção de fazer a manifestação em Brasília. A pasta negou autorização para o ato, considerando-o “ilegal”, em função do risco de confronto com o grupo rival, mas deu ao diretório a opção de escolher outro local. O partido insistiu na Torre de TV, a menos de dois quilômetros da Esplanada.

 

OAB TERÁ OBSERVADORES

A OAB designou observadores para acompanhar os protestos de domingo em todo o país, sejam a favor ou contra o governo. O objetivo, segundo o presidente, Cláudio Lamachia, é garantir o direito à manifestação e mediar, junto a líderes de movimentos envolvidos e à polícia, as confusões que surgirem. “Temos muito confronto e pouco encontro. É preciso usar a razão e não a emoção, sobretudo neste momento em que o Brasil passa por uma crise ética e moral sem precedentes”, disse Lamachia, em nota.

Um ato a favor de Dilma ainda está convocado em Porto Alegre. Em São Paulo, movimentos sociais e centrais sindicais que apoiam o governo disseram ontem que nunca tiveram intenção de fazer manifestação amanhã. Eles afirmaram ter orientado a militância a não participar de atos de violência. E cobraram do governo paulista o mesmo tratamento dispensado a grupos pró-impeachment.

— O governador e o secretário estadual de Segurança fizeram grande estardalhaço sobre um protesto nosso no dia 13. Queria saber quem fez esse pedido. Nosso movimento não foi. Pelo contrário, estamos desencorajando até os companheiros que iriam fazer ato na Praça Roosevelt. Queremos o mesmo tratamento dado ao grupo do domingo — disse o coordenador da Central de Movimentos Populares, Raimundo Bonfim.

A Frente Brasil Popular, que reúne 65 entidades, reafirmou que o ato em favor de Dilma ocorrerá dia 18, em São Paulo. Eles pretendem levar Lula e artistas populares para a Avenida Paulista. Ontem de manhã, um ato da Frente em defesa de Lula foi cancelado em razão da chuva.

 

PEDIDO DE PRISÃO DE LULA

Os grupos que organizam o protesto a favor do impeachment passaram a usar o pedido de prisão preventiva do expresidente Lula para arregimentar manifestantes nas redes sociais. Desde anteontem, os movimentos Vem pra Rua e Movimento Brasil Livre (MBL) têm divulgado em seus perfis na internet novos anúncios de convocação para a manifestação explorando a imagem de Lula e o pedido do MP de São Paulo.

Na versão elaborada pelo Vem pra Rua, uma foto de Lula aparece com a frase “Ministério Público pediu a prisão preventiva de Lula. Participe da mega manifestação”. (Renata Mariz, Stella Borges, Silvia Amorim e Tiago Dantas).

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Vídeo faz convocação a lutadores de jiu-jitsu

 

O lutador e professor de jiu-jitsu Rommel Cardozo, que também é presidente do movimento “Rio pela Paz”, composto em sua maioria por lutadores, publicou um vídeo no Facebook em que convoca lutadores de artes marciais para participar das manifestações pelo impeachment, amanhã. Segundo Rommel, a convocação é para que se possa “preservar a paz nas ruas do Rio”.

“Os petistas estão dizendo que vão para as ruas para fazer arruaça e eu vou dizer para vocês que nós vamos estar nas ruas, todos os lutadores vão estar reunidos”, disse Rommel no vídeo, em que faz convite a lutadores como Minotauro, Vitor Belfort e Wanderlei Silva.

— Quem vai à manifestação vai se sentir muito mais seguro sabendo que tem pessoas ali que podem tirá-las de alguma situação ruim — disse ele.

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STJ autoriza inquérito para investigar Richa

Governador tucano é acusado de ter recebido propina de auditores da Receita

Por: Vinicius Sassine

 

-BRASÍLIA- O Superior Tribunal de Justiça ( STJ) autorizou abertura de inquérito para investigar o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB). A suspeita central é de que a campanha à reeleição do tucano, em 2014, recebeu propina supostamente arrecadada num esquema encabeçado por auditores da Receita em Londrina.

O ministro João Otávio de Noronha determinou a abertura do inquérito a partir de pedido feito pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em 20 de janeiro. Governadores têm foro privilegiado junto ao STJ.

A PGR já fez os primeiros pedidos de diligências. Entre elas, a solicitação de cópia das prestações de contas da campanha no Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Além disso, o MP quer notas fiscais de empresas citadas e o compartilhamento de provas pela Justiça no estado, onde corre o processo referente aos auditores fiscais. Nove pessoas relacionadas aos fatos investigados deverão ser ouvidas pela Polícia Federal.

O inquérito foi aberto a partir de uma operação policial no Paraná, a Publicano. Segundo as investigações do MP do Paraná, auditores da Receita em Londrina reduziam dívidas tributárias de empresas em troca do pagamento de propina. O esquema teria abastecido a campanha de Richa para a reeleição, em 2014, com até R$ 2 milhões arrecadados pelos auditores. O dinheiro teria sido contabilizado por caixa dois, ou seja, foi omitido da declaração prestada à Justiça Eleitoral.

A PGR planeja um segundo inquérito, referente a um segundo esquema criminoso investigado no Paraná, que diz respeito ao grupo político de Richa. O objetivo é investigar Durval Amaral, conselheiro do Tribunal de Contas do Paraná e ex-secretário da Casa Civil do primeiro governo de Richa.

A suspeita é que recursos desviados de obras de escolas estaduais abasteceram campanhas eleitorais, entre elas a do filho de Durval, o deputado estadual Tiago Amaral (PSB). O depoimento de ex- funcionária de uma empresa investigada na Operação Quadro Negro — que desde 2013 apura desvios da ordem de R$ 20 milhões — aponta para o envolvimento de Durval; do próprio governador do Paraná; de seu irmão, José Richa Filho, secretário estadual de Infraestrutura e Logística; do presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano (PSDB); e do deputado estadual Plauto Miró (DEM).

Em nota, o governador disse não ter “nada a temer”: “Todas as doações recebidas pela minha campanha foram legais e declaradas à Justiça. Sou o maior interessado no esclarecimento completo dos fatos. Confio na Justiça”, diz na nota.