Correio braziliense, n. 19294, 23/03/2016. Brasil, p. 7

Nunca se matou tanto no Brasil

HOMICÍDIOS » Estudo do Ipea revela alta histórica no número de assassinatos no país. Os dados do diagnóstico apontam que os negros moradores de periferia têm 147% mais chances de serem mortos do que jovens brancos

 

A violência urbana brasileira tomou proporções nunca antes registradas por instituições de pesquisa e órgãos públicos. A taxa de homicídios em 2014 por 100 mil habitantes chegou a 29,1. O Atlas da Violência 2016, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea, revelou que 59.627 pessoas foram assassinadas apenas em 2014. Fazendo uma comparação com a taxa média mundial, aqui são cometidos 4 vezes mais homicídios do que no resto do planeta.

Para o técnico de planejamento de pesquisa do Ipea Daniel Cerqueira, o mundo vive uma enfermidade social. “Hoje se mata uma pessoa para resolver problemas pessoais ou financeiros. Os organismos de segurança pública algumas vezes matam sem razão de legítima defesa e policiais são mortos só pelo fato de serem policiais”, comenta Daniel. As maiores vítimas desse sistema em colapso são jovens negros e de regiões mais pobres. Segundo o levantamento, uma pessoa com esses pré-requisitos tem 147% mais chance de ser assassinada do que um jovem branco.

Entre as várias histórias de homicídios noticiadas nos jornais diariamente, algumas se destacaram pela crueldade. É o caso do que aconteceu na manhã de  7 de abril de 2011 em Realengo, Rio de Janeiro, na Escola Municipal Tasso da Silveira. Um ex-aluno entrou no colégio portando duas armas e atirou contra os estudantes de uma turma do 9º ano. Dez meninas e dois meninos morreram na chacina e outras 13 pessoas ficaram feridas. As mortes daqueles jovens entraram para as estatísticas, mas são as famílias, que sofrem pela ausência de suas crianças.

Adriana Silveira é mãe de Luiza Paula da Silveira, que, na época do crime, tinha 14 anos. Para tentar dar um novo rumo à vida depois da tragédia, ela e outros pais e mães se reuniram e criaram a Associação dos Familiares e Amigos dos  Anjos de Realengo. O trabalho vai além do apoio psicológico mútuo. O grupo organiza rodas de discussão e faz debates em escolas do Rio de Janeiro e de outros estados para dialogar sobre a segurança dentro das salas de aula. “A minha filha não teve chance de ter uma escola segura, com ensino de qualidade, e é por ela que eu luto para que outras crianças e adolescentes possam ter o mínimo que qualquer pessoa na idade deles merece”, comenta Adriana, que também é presidente da associação.

Na época, a facilidade que Wellington Menezes de Oliveira teve para comprar os dois revólveres foi discutida por especialistas. Um levantamento da ONG Viva Rio indicou que há 17 milhões de armas no Brasil, das quais 51% são ilegais. A grande quantidade de armamentos sem autorização para uso é responsável, também, pelo aumento do número de mortes violentas. Prova disso é que o Atlas da Violência aponta que em 76,1% dos homicídios cometidos em 2014 foi usado algum tipo de arma de fogo.

“Na contramão do Estatuto do Desarmamento, a gente observa no Congresso Nacional propostas que procuram descaracterizar o próprio estatuto e facilitar o acesso às armas. Se isso acontecer, o mais provável é que o número de homicídios continue aumentando”, explica o professor coordenador do laboratório da violência da Uerj, Ignacio Cano.

Como primeiro passo no combate ao aumento das taxas de homicídio, Daniel Cerqueira defende que “é imprescindível usar a inteligência operacional das polícias e do estado para mapear regiões mais problemáticas e conseguir desenvolver políticas públicas específicas para aquela localidade. Além disso, é fundamental investir nos jovens e crianças para eles não virarem o bandido de amanhã.”

 

À espera da vacina

A diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, comunicou que atualmente existem 23 projetos de vacina contra o vírus da zika no mundo. As iniciativas são desenvolvidas por 14 instituições dos Estados Unidos, França, Índia, Áustria e Brasil. Segundo Chan, é possível que a primeira grande onda de infecções acabe antes que a vacina esteja pronta. O anúncio foi feito ontem em coletiva realizada em Genebra, na Suíça. “Especialistas concordam que o desenvolvimento de uma vacina contra o vírus zika é imperativo”, disse Chan.  De acordo com ela, os testes clínicos devem começar ainda em 2016, mas podem ser necessários anos para que o produto final completamente testado e licenciado fique disponível. Além disso, mais de 30 empresas estão trabalhando no desenvolvimento de novos testes para diagnóstico da infecção por zika.