Correio braziliense, n. 19293, 22/03/2016. Política, p. 4

"Fora, Dilma" ecoa de novo no Planalto

CRISE NA REPÚBLICA » A manifestação também pediu a prisão do ex-presidente Lula. Um forte esquema de segurança foi montado pela polícia para evitar tumultos
Por: HÉDIO FERREIRA JÚNIOR

HÉDIO FERREIRA JÚNIOR

ESPECIAL PARA O CORREIO

 

O movimento pró-impeachment, que começou tímido — com mais policiais e ambulantes nas ruas do que manifestantes —, acabou ganhando força, no fim da tarde de ontem, e reunindo pelo menos 6 mil pessoas em frente ao Palácio do Planalto e ao Congresso Nacional. O número, exatamente o mesmo divulgado na sexta-feira passada após protesto contra o impedimento da presidente Dilma, é da Polícia Militar do DF. Contrários ao governo da presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os manifestantes foram contidos por um forte esquema de segurança, maior e mais preparado do que nos dois atos espontâneos da semana passada.

A Polícia Militar se organizou para colocar nas ruas cerca de 1.500 policiais, entre integrantes do Batalhão de Choque, do BPtran, do Corpo de Bombeiros e do Grupo de Cavalaria. Antes mesmo de o protesto ganhar corpo, 750 deles já estavam espalhados pela Praça dos Três Poderes, pela Esplanada dos Ministérios e na Rodoviária do Plano Piloto. Não houve confronto e nenhuma ocorrência foi registrada pela PM. Bombas de efeito moral e sprays de pimenta também não foram usados desta vez.

As palavras de ordem pedindo a renúncia de Dilma, a prisão de Lula e ovacionando o juiz Sérgio Moro estavam lá na manifestação, que se mostrou mais festiva e menos engajada do que a da última quarta-feira. Naquela noite, cerca de 5,5 mil pessoas iniciaram a sequência de atos no local, que se repetiram na quinta pela manhã, ontem à noite e está programado para hoje à tarde em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF).

As projeções a laser com “impeachment” e “Fora Dilma”, antes direcionadas às torres do Congresso Nacional, desta vez ganharam a fachada lateral do Palácio do Planalto e provocavam alvoroço de quem acompanhava o protesto. Fogos de artifício, buzinas, instrumentos musicais, megafones e apitos, além de uma pequena caixa de som, agitavam quem chegava, pouco depois das 18h30. Às 22h, muita gente já havia ido embora.

Quem fez a festa desta vez foram os ambulantes. Se na semana passada só era possível comprar água, desta vez não faltaram barracas, num clima semelhante ao de uma porta de estádio em dia de jogo de Copa do Mundo. Bandeiras do Brasil, buzinas de plástico verde-amarelas, miniaturas de pixulecos e da presidente Dilma Rousseff eram oferecidas por vendedores.

A Via N1, na lateral do Senado, e a Praça dos Três Poderes foram tomadas por um fumacê de barraquinhas de churrasco e diversos ambulantes que vendiam bebidas alcoólicas, pastéis, churros e pipoca. Um palhaço circulava com algodões doces e dezenas de balões a gás. Fiscais da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis) obrigaram a retirada de barracas com botijões de gás expostos, óleo quente para fritura e garrafas de vidro.

A aparição de funcionários no terceiro e quarto andares do Planalto para verem o movimento do lado de fora despertou a vaia dos manifestantes. Todas as persianas do prédio permaneceram baixadas.

Por volta das 20h, as pessoas que gritavam em frente ao Palácio do Planalto começaram a se dirigir para o Congresso Nacional. Mais uma vez, uma parte ficou do alto assistindo de longe o grupo maior, que pedia em coro a saída da presidente Dilma. Nenhuma manifestação de repúdio ao parlamentares e ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi feita. Cunha é o primeiro parlamentar no exercício do mandato a se tornar réu da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Já Renan está na condição de investigado.