Correio braziliense, n. 19293, 22/03/2016. Economia, p. 1

PETROBRAS TEM PREJUÍZO DE R$ 34,8 BI EM 2015

CONJUNTURA/ Entre os fatores que levaram a estatal a registrar o segundo resultado negativo seguido estão a queda nas cotações do petróleo e perdas contábeis de R$ 47,7 bilhões

 

Rio de Janeiro — Após ter registrado prejuízo recorde de R$ 21,6 bilhões em 2014, a Petrobras voltou ao vermelho no ano passado. A estatal anunciou ontem à noite que, em 2015, teve um resultado negativo 61% maior, de R$ 34,8 bilhões, contrariando a expectativa do mercado, que apostava em lucro de R$ 5,5 bilhões. O mau desempenho foi todo concentrado no último trimestre, quando a companhia reportou perda líquida de R$ 36,9 bilhões.
Uma combinação de fatores ilustra o momento difícil enfrentado pela estatal desde 2014, quando tiveram início as investigações da Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-Jato. O balanço do ano passado foi pressionado por perdas bilionárias na linha financeira, resultado da alta do dólar e da queda abrupta na cotação internacional do petróleo. Além disso, o resultado anual foi impactado por uma baixa contábil de R$ 47,7 bilhões no valor dos ativos, processo conhecido como impairment. A maior parte, R$ 36,1 bilhões, ocorreu em campos de produção de petróleo. Outros R$ 5,2 bilhões foram reavaliações do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Também pesaram no balanço a redução da demanda por combustíveis no mercado doméstico e a alta de despesas tributárias e com processos judiciais e trabalhistas.

Credibilidade
A Petrobras informou que a baixa contábil dos ativos teve origem no declínio dos preços do petróleo e na elevação das taxas de juros dos financiamentos, devido à perda do grau de investimento do país e da empresa. Em 2014, a companhia já havia reduzido o valor de ativos em R$ 44,3 bilhões, mas como resultado da revisão de projetos afetados por irregularidades identificadas na Lava-jato. Além disso, o pagamento de propinas resultou em baixa de R$ 6,2 bilhões naquele ano.
Apesar do resultado global negativo do balanço, o presidente da estatal, Aldemir Bendine, afirmou que é preciso reconhecer os esforços da companhia em 2015, com avanços nas metas com as quais a empresa se comprometeu, destacando o aumento de 4% na produção, para 2,787 milhões de barris por dia. Segundo o executivo, 2015 foi um ano extremamente difícil para o setor em todo o mundo, com o valor médio do petróleo tipo Brent ficando pouco acima de US$ 50, ante quase US$ 100 no ano anterior.
“A empresa demonstra transparência em relação ao resgate da credibilidade”, afirmou Bendine. Ele observou ainda que, no ano ano passado, a Petrobras gerou R$ 15,6 bilhões de fluxo de caixa, o que não acontecia desde 2007. Parte desse fluxo veio da redução de 12% nos investimentos, que ficaram em R$ 74,3 bilhões. A diminuição das aplicações ajudou ainda na redução do endividamento global da companhia, de R$ 506,6 bilhões, no fim do terceiro trimestre, para R$ 494,8 bilhões. Mesmo assim, esse valor ficou 29% acima do registrado um ano antes.
A retração da atividade econômica e a redução do poder de compra do brasileiro contribuíram para que as vendas de combustíveis feitas pela Petrobras apresentassem queda de 7% em relação a 2014, o que também pressionou o balanço. Bendine explicou que, diante do resultado negativo de 2015, a companhia não distribuirá dividendos aos acionistas. Ele acrescentou que ainda não há previsão fechada para os investimentos em 2016 e afirmou que a previsão de venda de ativos no valor de R$ 14,4 bilhões está mantida. O executivo garantiu também que a estatal tem caixa para honrar os compromissos até o fim de 2017, sem necessidade de recorrer ao mercado financeiro.

Esperança em Libra
A Petrobras informou que o Consórcio de Libra, do qual detém 40%, concluiu a perfuração e a avaliação do poço 3-BRSA, localizado na área noroeste do bloco, no pré-sal da Bacia de Santos, confirmando a descoberta de óleo de alta qualidade em reservatórios de excelente produtividade. “É a maior coluna de óleo descoberta pelo Consórcio em Libra até o momento, medindo 301 metros de espessura. Os dados confirmaram que as características dos reservatórios e a qualidade do óleo são semelhantes àquelas encontradas nos demais poços da área noroeste, indicando haver possível conexão entre eles”, informou a estatal, em nota.