Título: Intransigência e politicagem nos Correios
Autor: Bonfanti, Cristiane
Fonte: Correio Braziliense, 07/10/2011, Economia, p. 11

Desde 14 de setembro sem contar com a entrega regular de correspondências, sujeito a atrasar o pagamento de contas e ainda a arcar com multas e juros, o brasileiro agora terá a paciência testada ao limite. Os funcionários dos Correios deveriam ter voltado ao trabalho ontem, conforme acordo fechado na terça-feira entre a estatal e a cúpula do movimento paredista, mas parte dos 35 sindicatos estaduais da categoria decidiram rejeitar a proposta. A greve agora segue por tempo indeterminado, apesar de conciliação celebrada no Tribunal Superior do Trabalho (TST) contemplar ganhos financeiros superiores ao dobro da média das negociações salariais fechadas este ano.

A queda de braço, tudo indica, ultrapassou o plano trabalhista para ingressar na seara das disputas políticas. É o entendimento possível diante da radicalização dos trabalhadores. E mais uma vez fica patente a urgente necessidade de regulamentação do direito de greve no serviço público. O impasse parecia resolvido com a concordância da Federação Nacional dos Empregados em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares (Fentect) com a correção retroativa a agosto, a data-base da categoria, dos salários e benefícios em 6,87%, mais um acréscimo linear de R$ 80 a partir de outubro, a compensação, em fins de semana, de 15 dos dias parados e o desconto dos restantes de janeiro a dezembro de 2012.

Os empregados dos Correios querem reajuste de 7,16% (em geral, os acertos no país têm sido fechados em até 5%), com piso salarial de R$ 1.635 e aumento linear de R$ 200, tudo valendo a partir de agosto. Também discordam do desconto dos dias parados e exigem a reposição do corte já efetuado, equivalente a seis dias de salário. Inflexíveis, mantêm os braços cruzados, enquanto cerca de 150 milhões de correspondências não são entregues e empresas particulares de entrega de encomendas, especialmente multinacionais, se aproveitam para robustecer o faturamento. O impasse deve seguir pelo menos até segunda-feira, quando o TST pode tentar nova rodada de negociações ou sortear um relator para processo de dissídio.

O imbróglio levanta a suspeita de que os diversos partidos que dominam os sindicatos estaduais ¿ e não se entendem com o PT, que, por sua vez, comanda a federação nacional da categoria ¿ radicalizam com o propósito de criar dificuldades para o governo. Nessa briga política, perde o cidadão e a economia nacional como um todo, também prejudicados pela paralisação dos bancários, que exigem a reposição dos salários pela inflação mais 5% de ganho real, totalizando 12,8% de aumento.

Ressalte-se o legítimo direito de greve do trabalhador, mas ressalve-se que a intransigência não beneficia a nenhuma das partes de uma negociação, menos ainda quando envolve serviços públicos. Espera-se, pois, que o TST arbitre o quanto antes um desfecho para o impasse nos Correios, de modo que o atendimento possa ser normalizado com a necessária rapidez, fazendo prevalecer os interesses da coletividade, e que o Congresso Nacional deixe de protelar a definição de um arcabouço legal para a paralisação de servidores.