O globo, n. 30.167, 11/03/2016. País, p. 8

Oposição é cautelosa e aponta ausência de 'fundamentos'

PSDB, em nota, pede prudência e até líder do DEM adota silêncio

Por: CRISTIANE JUNGBLUT ISABEL BRAGA

 

- BRASÍLIA- A oposição recebeu com elevada cautela e atacou a fragilidade do pedido de prisão do ex- presidente Lula feito pelo Ministério Público de São Paulo. O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves ( MG), conversou com integrantes da cúpula tucana sobre a gravidade do momento. A avaliação é de que se abre um precedente muito grave ao pedir a prisão em fase inicial de investigação.

A cúpula do partido entende que pedir a prisão de um ex- presidente da República, neste momento do processo, seria uma medida extrema e oferece discurso para os que querem vitimizar o ex- presidente. O tom crítico do comando do PSDB foi dado pelo líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima ( PB), em entrevista e também em nota oficial dos tucanos. Há ainda o temor do recrudescimento dos ânimos, às vésperas das manifestações marcadas para este domingo.

— Diante das circunstâncias que o país vive e o aumento da temperatura, o pedido de prisão, ainda na fase de inquérito, de um ex- presidente da República parece uma medida extrema. Não é um momento banal e é preciso que todos tenham consciência da gravidade do momento — disse Cássio Cunha Lima, considerando esse pedido de prisão algo inusitado.

Mais tarde, em nota, foi ainda mais enfático na crítica ao pedido de prisão de Lula.

“Não estão presentes os fundamentos que autorizam o pedido de prisão preventiva, até porque o Ministério Público Federal e a Polícia Federal fizeram buscas e apreensões muito recentemente buscando provas. Vivemos um momento incomum na vida nacional. É preciso ter prudência”, afirmou o senador Cássio Cunha Lima, na nota.

Até mesmo o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado ( GO), um dos mais ferrenhos opositores ao governo e defensores do impeachment da presidente Dilma Rousseff, foi cauteloso. Caiado não quis comentar o pedido e disse que aguardaria a decisão da Justiça sobre o caso para se manifestar.

 

LÍDER NA CÂMARA DESTOA DA CÚPULA

Mas, entre os opositores mais combativos, o pedido de prisão preventiva de Lula da Silva foi visto como uma consequência da reação extremada de apoiadores dele ao pedido de condução coercitiva feito pelo juiz Sérgio Moro. Para os líderes, ao tomar tal atitude, os promotores de São Paulo têm elementos de culpa formada.

— Para chegar a esse ponto, acredito que o Ministério Público estadual tenha reunido comprovações suficientes de prática de delito até porque os indícios de provas materiais reveladas nos últimos dias são bastante robustas. As reações que nós vimos ( à condução coercitiva), foram manifestações de correligionários ligados ao ex- presidente. Acho que o país é bastante maduro, temos uma democracia consolidada e as instituições funcionando plenamente — afirmou o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy ( BA).

Para o presidente nacional do DEM, José Agripino Maia ( RN), a crise sem precedentes vivida no país e a reação de estímulo a confronto geradas pelo pedido de condução coercitiva de Lula pode ter motivado esse novo pedido de prisão preventiva. O líder diz que o momento recomenda sensatez e respeito às instituições.

Senadores relacionados:

Órgãos relacionados:

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Procuradores temem desgaste institucional

Professor da PUC- RS citado em texto de promotores critica o pedido de prisão

Por: JAÍLTON CARVALHO DE E RUBEN BERTA

 

BRASÍLIA E RIO- A decisão dos promotores do Ministério Público de São Paulo de pedir a prisão preventiva do ex- presidente Lula provocou forte reação dentro da instituição. Numa intensa troca de mensagens depois do anúncio do pedido, procuradores e até alguns promotores trocaram impressões sobre a atuação do colega. Para boa parte dos que se manifestaram, segundo disse um deles, Cássio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Araújo cometeram um erro grave, que terá forte reflexos sobre o papel institucional do MP.

— O Ministério Público está inflamado. Ninguém acredita que eles fizeram isso — disse um procurador.

O texto elaborado pelos promotores de São Paulo para embasar o pedido de prisão de Lula cita trechos de livros de especialistas em direito penal. Entre eles, está o professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul ( PUC- RS), Aury Lopes Junior, que, ao ser contactado ontem pelo GLOBO, criticou o pedido feito pelo MP:

— Vejo como algo muito mais de caráter simbólico do que com embasamento processual. A prisão preventiva é uma exceção, não pode ser banalizada. E não acredito que haja necessidade, nesse momento, de que o expresidente seja detido. Isso não quer dizer que ele não possa ser, em algum momento, condenado num eventual processo.

Lopes Junior não vê nenhuma das possibilidades previstas na lei para sustentar a prisão preventiva no caso de Lula:

— O risco de fuga não existe, é uma figura pública, que é constantemente monitorada. A possibilidade de destruição de provas num crime como o de lavagem de dinheiro, cuja base é de comprovação documental, também não me parece razoável. Além do mais, já houve busca e apreensão na semana passada. Quanto ao risco para a ordem pública, é uma futurologia sem sentido. Ele não pode ser responsabilizado por tumultos que podem, em tese, acontecer. Para isso, existe a Segurança Pública.

 

CONSEQUÊNCIAS INVERSAS

O professor de Direito Penal da UFF e do Ibmec- RJ Taiguara Souza reforça que, por lei, a prisão preventiva deve ser usada como instrumento de garantia da ordem pública, o que, neste caso, pode acabar tendo consequências inversas:

— Não há uma evidente urgência nessa prisão. E estamos num cenário extremamente delicado, às vésperas de manifestações, onde a detenção do ex- presidente pode ser mais ameaçadora da ordem do que a sua liberdade.

O criminalista e coordenador da Pós- Graduação em Direito Penal do Instituto de Direito Público de São Paulo, Fernando Castelo Branco, também vê com receio o pedido de prisão e acredita que dificilmente o magistrado que analisá- lo o aceitará:

— Tenho medo da condução passional que vem sendo dada nesse caso. E não podemos esquecer que o direito é uma ciência. Os elementos para uma prisão teriam que ser muito fortes.

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Indulto beneficia Delúbio e João Paulo, que estão livres de penas

Relator no STF deve estender medida a outros sete condenados no julgamento do mensalão

Por: CAROLINA BRÍGIDO

 

- BRASÍLIA- O Supremo Tribunal Federal ( STF) concedeu ontem indulto a dois condenados no mensalão: o ex- deputado João Paulo Cunha ( PT- SP) e o ex- tesoureiro do PT Delúbio Soares. Com o benefício, eles não precisarão mais cumprir o restante da pena. Cunha foi condenado a 6 anos e 4 meses de prisão e Delúbio, a 6 anos e 8 meses. O relator do processo, ministro Luís Roberto Barroso, deve estender o indulto a outros sete condenados do mensalão, que ficarão livres da pena recebida pela participação no esquema de pagamento de propina a parlamentares que funcionou no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

João Paulo e Delúbio começaram a cumprir as penas no regime semiaberto e atualmente estavam em prisão domiciliar. Eles ficaram presos por pouco mais de dois anos. Ambos pagaram multa, que era parte da pena imposta pelo STF. No caso de Cunha, o valor era de R$ 909,9 mil. Delúbio pagou R$ 466,8 mil. O tribunal determinou a expedição imediata dos alvarás de soltura. O indulto é um perdão completo da pena previsto na Constituição.

Estão na lista de futuros beneficiados o ex- diretor do Banco Rural Vinícius Samarane; o advogado Rogério Tolentino; os ex- deputados Roberto Jefferson ( PTBRJ), Pedro Henry ( PP- MT), Romeu Queiroz ( PMB- MG), Valdemar Costa Neto ( PR- SP) e Bispo Rodrigues ( PR- RJ).

Em todos os casos, inclusive no de Cunha, o procurador- geral da República, Rodrigo Janot, já encaminhou parecer favorável aos indultos, por considerar que os presos cumprem os requisitos necessários, conforme previsto no decreto baixado pela presidente Dilma Rousseff no último Natal.

O indulto é um perdão pelos crimes, desde que os presos se enquadrem em critérios do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. O benefício só pode ser concedido pelo presidente. A cada Natal é publicado no Diário Oficial da União um decreto de indulto. Não é automático: precisa ser pedido à Justiça pela defesa do preso.

O decreto do último Natal prevê o perdão a condenados que estejam em regime aberto, cujas penas remanescentes não sejam superiores a oito anos, se não reincidentes, e seis anos, se reincidentes, desde que já tenham cumprido um quarto da pena.

O ex- ministro José Dirceu, condenado no mensalão, pediu o indulto ao STF, mas Barroso negoulhe o benefício. A decisão foi tomada porque, durante o cumprimento da pena, o petista foi preso preventivamente por suspeita de participar do esquema de corrupção na Petrobras.